A história bizarra do Fiat Palio Fire que foi parar na Alemanha
Usado pela Shell para estudar biocombustíveis, Palio 1.0 básico virou motivo de brincadeira e ganhou até adesivos da Abarth
Redutos de brasileiros no exterior costumam ter suas lojinhas típicas, onde especiarias como arroz, feijão e guaraná ajudam a matar a saudade de casa. Se você nos lê da Alemanha, entretanto, há como ter esse gostinho de Brasil também ao volante.
Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 8,90
Na cidade de Bremen, em um dos países de maior tradição automotiva do mundo, está à venda um bem brasileiro Fiat Palio com motor 1.0 flex. O carrinho na cor vermelha é cotado a €2.499 (cerca de R$ 15.960) e está, inclusive, mais barato que seu preço de tabela nacional.
A história curiosa foi revelada pelo perfil @exoticdiplomatcs no Instagram, que, ao divulgar o anúncio peculiar, acabou gerando, de fato, ainda mais curiosidade sobre a história do Palio.
A reportagem de QUATRO RODAS conseguiu acesso até aos documentos alemães do Fiat popular fabricado em Betim (MG). Mas nem seu atual proprietário, o vendedor de carros Kamerran Anur, sabe muito bem como ele foi parar ali. “Eu comprei esse carro de um homem velho. Estava parado há oito anos em sua garagem”, explica Anur, que diz não ter guardado nenhum contato do antigo dono.
Os documentos do Fiat Palio corroboram Kamerran Anur, e mostram que desde 2013 o carro tem um dono “pessoa física” e que, desde então, as taxas anuais do carro não vêm sendo pagas. A reportagem chegou a contactar quem vendeu o hatch a Anur, mas não obteve retorno.
Cobaia de laboratório
Antes disso, porém, o carro teve muitas histórias para contar, mesmo com apenas 27.000 km rodados (por conta própria, claro). O Palio chegou à Alemanha em 2007, importado por ninguém menos que a Shell Global Solutions.
A sucursal da petrolífera é focada no aumento de eficiência energética de plantas industriais, diminuição das emissões de CO2 e racionalização do consumo de energia e parece ter gostado do que viu no motor 1.0 Fire flex.
O que gera dúvidas, por outro lado, são os adesivos da Abarth na tampa do porta-malas e no painel. Seja positiva ou não, fato é que os alemães não perderam a piada ao lidar com o exótico brasileiro, com tecnologia para a queima de etanol que hoje é crucial para o plano da Shell de reduzir emissões de carbono nos transportes.
Levar um raríssimo carro flex ao país europeu há 14 anos teve suas peculiaridades, e o teste de emissões feito para emplacar o modelo ocorreu, claro, apenas com uso de gasolina. O sistema estatal também teve que dar um jeitinho, e enquanto gasolina (benzin, em alemão) tem sigla BZ no documento, o etanol é escrito por extenso mesmo.
As autoridades alemãs também deram “vida nova” ao Palio: ainda que os dados do chassi indicam que o modelo tenha sido fabricado em 2006, ele ganhou novo aniversário no Hemisfério Norte, comemorado em 21 de março.
Caso nenhum brasileiro se interesse pelo inusitado expoente da tecnologia visionária dos carros a álcool, as chances é de que o Fiat seja vendido como um carro exótico qualquer, rumo ao ostracismo ou desmanche.
O próprio Kamerran Anur estranhou a busca internacional pelo exemplar. “Por que está interessado nessa coisa, se posso saber?”, perguntou, sem imaginar que há coisas sentimentais até mesmo em um motor de 1.0 de 66 cv.
Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital