Zeekr X tem 428 cv e anda como esportivo, mas imita cavalo e tem modo soneca
O Zeekr X consegue ser original na comparação com os SUVs ocidentais e também com os outros chineses

Foi-se o tempo em que escrever sobre um carro chinês passava por enumerar suas semelhanças com carros ocidentais. Hoje, a maioria dos carros chineses é diferente daqueles do resto do mundo, mas são muito parecidos entre si, como se todos fossem desenhados pelo mesmo designer. Quase todos, porque o Zeekr X é bem diferente de qualquer outro SUV elétrico que já tenhamos visto.
Pode conferir na ficha técnica: o Zeekr X é um SUV médio, mesmo que lembre monovolumes ou hatches médios por certos ângulos. Pode ser culpa do capô abaulado ou da traseira, com as lanternas fininhas camufladas ao redor do vidro. O que não falta é detalhe exótico, como a seção traseira do teto panorâmico que, na verdade, integra a tampa do porta-malas, e os faróis à meia altura da frente, que, de longe, se apagados, mais parecem tomadas de ar.

Nas ruas, o Zeekr X destoa de tão incomum – mesmo que o tom de cinza na carroceria não lhe dê o devido destaque. Aliás, nem é um cinza sólido como os outros, mas sim metálico. Pode ser este o tipo de exclusividade que o comprador de carros de luxo como este busca, enquanto outras marcas preferem se apegar às semelhanças entre seus modelos.
A combinação de azul e branco na cabine é uma opção ao cinza-padrão, mas há detalhes dourados nos dois. Também é diferente, mas o que se sobressai é a qualidade dos revestimentos, que são sintéticos e muito bons ao tato. A forração das portas tem pequenos furos que, no escuro, formam o horizonte de uma cidade quando retroiluminado, acompanhando a iluminação ambiente que atravessa o centro do painel.

Teto e colunas são revestidos de microfibra que imita suede (um Alcantara sem grife). As maçanetas foram substituídas por botões nas portas e os comandos dos vidros elétricos por pequenas chaves que, ao primeiro acionamento, parecem ter comandos invertidos, mas trata-se apenas de uma lógica diferente.
A verdade é que o X reinterpreta alguns conceitos. Sob a tela de 14,6” (com chip Snapdragon e 128 GB de memória), há gancho retrátil entre as portas USB e uma bolsa logo abaixo. É como se isso fosse o porta-luvas, já que o compartimento tradicional não existe. No console, que é separado do painel, há um compartimento fechado por uma esteira e, dentro dele, os porta-objetos que podem se armar para fora. O carregador sem fio de smartphones com 50 W de potência está à frente do apoio de braços, bem à mão. E a chave é quadrada.

Dá para perder um tempo no carro, mas as funções inusitadas da central multimídia atraem. Além de ser bem rápida e com resolução excelente, tem os principais comandos sempre à mão. Por meio dela é possível operar a câmera interna que grava ou fotografa os passageiros, ou mesmo transformar o X em carro de telemensagem.

Explico: há alto-falantes externos, na frente do carro, que podem reproduzir sons de esportivo, trator, miados de gato e o relinchar de cavalo. Isto, porém, permite uma comunicação com o lado de fora, que só funciona com o carro parado e pode captar microfones internos ou mesmo reproduzir o que toca no celular. Eu busquei uma telemensagem bem cafona no YouTube e reproduzi. Me julgue. Se isso não basta, o carro também pode piscar suas luzes para acompanhar o ritmo de músicas predefinidas. Mas, vá por mim, a qualidade do som Yamaha de dentro da cabine é infinitamente melhor.

Ao menos o Zeekr X não se perde em funções duvidosas. Existe um carro ali e com rodar muito acima da média de outros chineses: é um carro na mão, bem justinho e responsivo aos comandos do volante, mas com curso de suspensão suficiente para rodar no Brasil sem sofrer, mesmo com suas rodas aro 20” de alumínio. É o mínimo esperado de um carro com a difícil missão de se afirmar como um chinês de luxo.

Na verdade, é tão chinês quanto um Volvo EX30, que sai da mesma fábrica em Chengdu – Zeekr e Volvo pertencem à Geely. O EX30 usa a mesma plataforma SEA2 do Zeekr X, mas este tem 10 cm a mais na distância entre-eixos e uma proposta quase antagônica à do Volvo, que é despojado e simples por dentro de propósito.

Os dois SUVs, aliás, compartilham motores. O Zeekr X Premium, de R$ 298.000, tem 272 cv como os EX30, com preços entre os R$ 229.950, da versão Core, e R$ 299.950, da versão Ultra. O carro testado, porém, é da versão Flagship, de R$ 338.000, e que tem um motor por eixo e a soma de 428 cv. Isso justifica o tempo de 0 a 100 km/h, de parcos 4 segundos. Apenas mais um dos seus exageros.

A Zeekr poderia ter exagerado, também, na bateria: seus 66 kWh rendem 304 km na projeção do Inmetro – a versão de um motor faz 332 km. O porta-malas de 362 litros também não é dos maiores. Mas não há motivos para esperar algo racional de um carro de luxo que pode relinchar.
Veredicto – As funções inusitadas são para mostrar aos amigos uma vez só. No resto do tempo, o Zeekr X é realmente bom e tem preço interessante para o contexto dos carros elétricos de luxo.
Teste de desempenho – Zeekr X Flagship
Aceleração
0 a 100 km/h: 4 s
0 a 1.000 m: 23,6 s / 195,2 km/h
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 1,5 s
D 60 a 100 km/h: 1,9 s
D 80 a 120 km/h: 2,4 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 13,2/30,8/70,6 m
Consumo
Urbano: n/d
Rodoviário: n/d
Ruído interno
Neutro/RPM máx. : L.O./-
80/120 km/h: 61,9/67,3 dBA
Velocidade real a 100 km/h: 99 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: –
Volante: 2,5 voltas
Ficha Técnica – Zeekr X Flagship
Preço: R$ 338.000
Motores:dois, elétricos, com 428 cv e 55 kgfm
Bateria: NCM, 66 kWh com recarga a 22 kW (AC) e 150 kW (DC), com sistema V2L
Câmbio: automático, 1 marcha, tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson ind. (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), sólido (tras.)
Pneus: 245/45 R20
Dimensões: compr., 443,2 cm; larg., 183,6 cm; alt., 157,2 cm; entre-eixos, 275 cm; porta-malas, 362 l
Velocidade máxima*: 190 km/h
*Dados de fábrica