Spark chinês dá mais lucro que Tracker nacional, diz presidente da GM
Presidente da GM para a América do Sul deseja fabricar elétricos no Brasil, mas teme pela falta de incentivos à indústria brasileira

Agora a Chevrolet terá um SUV compacto elétrico com preço de SUV compacto a combustão no mesmo showroom. O Chevrolet Spark EUV, feito na China, entrará em pré-venda nesta quarta-feira (9) por R$ 159.990, enquanto o Chevrolet Tracker 2026, feito em Gravataí (RS), tem a versão LT 1.0 turbo por R$ 154.090 e R$ 169.490 na configuração LTZ 1.0 turbo. Para a GM, é mais rentável vender o importado.
“Um Spark feito na China consegue ser mais rentável do que um Tracker, mesmo com os 25% de impostos de importação”, afirmou Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul, em entrevista ao Automotive Business.

O imposto de importação para carros elétricos chegou a 25% no início deste mês e subirá para 35% dentro de um ano. Carros elétricos estiveram isentos de impostos de importação entre 2015 e 2024, quanto a cobrança voltou a ser feita de forma gradativa, com retorno aos 35% (alíquota paga pelos carros a combustão) prevista para julho de 2026 de forma a frear a entrada de carros elétricos e híbridos importados.
O Chevrolet Spark EV é vendido na China como Baojun Yep Plus, que custa o equivalente a 12.900 dólares em sua versão mais completa. Isto equivale a R$ 70.281, ou seja, ainda que seu preço dobre ao cruzar o mundo de navio e pagar todos os impostos, ainda chegaria ao Brasil custando pouco mais de R$ 140.000. E o imposto de importação é baseado no preço da nota de importação, não no preço de venda.

Santiago Chamorro ainda foi questionado se ainda vale a pena fabricar carros no Brasil. “Vale a pena se conseguirmos um mecanismo que nos permita reindustrializar. Meu medo é deixar as coisas como estão porque a política industrial atual não é sustentável a longo prazo”, disse o executivo completando que os R$ 130 bilhões anunciados pelas fabricantes instaladas no Brasil não bastam para reverter a situação da competitividade brasileira.
Para Chamorro, na verdade, a falta deste “mecanismo” pode fazer a Chevrolet fechar suas fábricas no Brasil. “Se você me fala em industrialização, em outros países da América do Sul já tomamos decisões, como na Colômbia e no Equador, porque esses mercados abriram as fronteiras para o mundo”, disse se referindo à decisão da GM de fechar suas fábricas em Quito e Bogotá, há cerca de um ano.

“Uma indústria do tamanho do Brasil com tantos recursos naturais, competitividade e um mercado tão grande como o nosso… Vale a pena lutar sim”, completou o presidente da GM América do Sul.
O executivo dá a entender que não desistiu do Brasil. Na verdade, ao ser questionado sobre a possibilidade de fabricar tanto o Spark EV quanto o Captiva EV (que será lançado no final do ano, mas já foi apresentado), Chamorro disse que “gostaria de industrializá-los e produzi-los no Brasil”.


Em janeiro, QUATRO RODAS publicou sobre a intenção da General Motors de nacionalizar a montagem destes carros para driblar o aumento gradual da taxação de carros híbridos e elétricos importados. A Chevrolet avaliava fazer montagem em CKD dentro de alguma de suas fábricas ou mesmo terceirizar a montagem para outras empresas no Brasil.
Como outros fabricantes estão fazendo, a General Motors foi à China buscar entre os seus parceiros meios de concorrer com as marcas chinesas.
“Nós temos a tecnologia presente lá [na China] e temos os veículos de nossa joint venture. Fazemos um trabalho importante lá. Talvez não somos os mais rápidos, mas os veículos que trazemos passam por todas as etapas de engenharia. Nós testamos os carros em altitudes, deserto e no campo de provas. E as mudanças não são poucas: daqui para a China enviamos muitas demandas para adaptar os produtos ao gosto do brasileiro”, disse Chamorro.