Por que o CEO da Ford disse estar assustado com os carros chineses?
CEO da fabricante afirma que a indústria passa por uma ameaça existencial e lembra da ascenção das marcas japonesas e sul-coreanas
Não é novidade: a China está mudando a indústria automotiva com seus investimentos pesados em híbridos e elétricos. Mas muita gente só começou a perceber isso agora, como é o caso do comando da Ford: os CEO Jim Farley e o CFO John Lawler acabaram de visitar o país, onde dirigiram um legítimo SUV elétrico chinês.
O jornal Wall Street Journal detalhou a reação dos executivos da Ford após o test-drive em um SUV elétrico da Changan.
A estatal chinesa é uma das parceiras da fabricante norte-americana no país, com uma joint venture criada em 2012 e que produz diversos modelos tanto da Ford quanto da Lincoln.
A impressão deixada foi tão forte que Lawler teria dito a Farley que “isso não é nada como antes… estes caras estão na nossa frente.”
O CEO, por sua vez, ficou tão impressionado que, em conversa com o ex-executivo do banco de investimento Goldman Sachs, John Thorton, teria dito de que os carros chineses são uma “ameaça existencial” para a indústria.
O carro da Changan que os executivos dirigiram não foi revelado, mas teria deixado a dupla sem palavras por seu rodar macio e silencioso. A reportagem justifica a reação tardia aos chineses pelo fato de que nenhum deles é vendido nos EUA, o que dificulta o acesso.
Farley ainda teria dito que “já viu este filme antes”, lembrando da ascensão das fabricantes japonesa e, em seguida, das sul-coreanas. Montadoras como Toyota, Honda e Nissan tornaram-se populares na América do Norte entre as décadas de 1980 e 1990 como alternativas mais baratas aos Ford e Chevrolet.
Ambas eram vistas com desdém quando começaram a vender carros no mercado global e, com o passar dos anos e a melhora na qualidade, conseguiram conquistar o seu espaço na indústria. Farley sabe bem disso, pois começou sua carreira no marketing da Toyota.
Outro ponto levantado pelo executivo é como os chineses conseguiram realizar uma “engenharia elegante de baixo custo” e, ao “usar uma base de fornecedores de baixo custo para superar a concorrência no preço”, teriam conseguido ficar muito mais atraentes para o consumidor. Assim, as fabricantes ocidentais não estão conseguindo competir com as chinesas que estão “se movendo na velocidade da luz.”
As medidas protecionistas dos EUA e da Europa podem proteger a indústria ocidental por mais algum tempo até que algumas fabricantes consigam reagir. A pergunta é: por quanto tempo? Cada vez mais montadoras estão revendo seus planos de vender somente carros elétricos, consequência da queda nas vendas em 2023.
No caso da Ford, ela busca lançar um carro elétrico barato no começo de 2027, mirando justamente nos modelos chineses. O desafio será conseguir chegar a um bom produto que ainda seja lucrativo o suficiente. E que não seja lançado tarde demais.