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Gurgel Itaipu: primeiro carro elétrico brasileiro completa 50 anos

Criado para ser um carro compartilhado, o projeto Gurgel Itaipu só deu certo quando foi transformado em veículo comercial

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 jul 2024, 14h00
Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Entre os faróis de iodo, fica a entrada para a recarga (Marco de Bari/Quatro Rodas)
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Carro elétrico pode ser símbolo de modernidade e eficiência hoje, mas existem desde o século 19. Na verdade, nasceram com o carro a combustão e conviveram bem até 1915, quando o Ford T e sua linha de montagem popularizaram os carros a combustão. E os elétricos deixaram de fazer sentido.

 

A crise do petróleo, que levou ao aumento do preço dos combustíveis e ao desabastecimento, mudou o cenário. João Augusto Conrado do Amaral Gurgel viu uma oportunidade para desbravar os caminhos da sustentabilidade.

Em 1974, o engenheiro concluiu o seu pioneiro projeto de carro elétrico, o primeiro da América Latina. O Gurgel Itaipu E150 foi apresentado no Salão do Automóvel de 1974 e faria parte de um projeto embrionário de carros compartilhados.

Interior do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
O velocímetro original ia até 80 km/h. Nesta versão, vai até 120 km/h (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Gurgel previa que uma frota de 20 carros ficaria espalhada pelas ruas de Rio Claro (SP), sede da fábrica, cada um com sua vaga com um pequeno poste ao lado com uma tomada para carregamento. 

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Cada carro custaria o equivalente a um Fusca 1300 (22.577 cruzeiros, ou R$ 94.245 reais atualizado a maio de 2024) em dezembro de 1974. Mas não passou da fase de protótipo. 

Interior do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Pela chave, 1ª ou ré (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O Itaipu E150 tinha carroceria de fibra de vidro e apenas 2,65 m de comprimento e 1,40 m de largura. Era quase o suficiente para levar o motorista e um carona, porque os bancos não tinham regulagem. Atrás, um vão com cerca de 1 metro funcionava como porta-malas.

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Voltímetro do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Quer checar a carga? (Marco de Bari/Quatro Rodas)

No painel, o velocímetro ficava ao centro e ladeado pelos amperímetro e voltímetro, para acompanhar a entrega de energia e a carga da bateria. À direita do volante ficava a alavanca que definia qual direção seguir, para a frente ou para trás ” ou ainda o ponto morto.

O motor elétrico ficava entre os eixos e tinha apenas 3,2 kW, o equivalente a 4,2 cv. Era um motor de corrente contínua com enrolamento de campo em série e em paralelo para ter torque nas arrancadas e controle uniforme da velocidade, questões que décadas depois seriam resolvidas com o uso de motores de corrente alternada com controladores mais avançados. 

Alavanca que define a relação curta ou longa do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
A alavanca define relação curta ou longa (Marco de Bari/Quatro Rodas)

As baterias eram chumbo-ácido. Três baterias ficavam na frente, duas atrás dos bancos e mais cinco na traseira. O pequeno Itaipu não passava dos 50 km/h, mas podia rodar entre 60 e 80 km com uma carga. A recarga era feita por meio de uma tomada convencional na frente do carro e demorava 10 horas.

O carrinho elétrico não foi além da produção dos pouco mais de 20 protótipos, mas evoluiu anos depois.

Motor do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
O motor ficava entre eixos e não chegava a 5 cv (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Apresentado em 1981, o Gurgel E-400 era um veículo de serviço com linhas futuristas, principalmente se comparado com a VW Kombi. E tinha três tipos de carroceria: picape cabine simples, picape cabine dupla e furgão de carga.

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O E400 foi desenvolvido pela Gurgel para atender um desafio proposto pela Eletrobras para renovação de sua frota: os interessados deveriam criar um veículo capaz de transportar 250 kg, ter autonomia mínima de 65 km e velocidade máxima entre 50 e 60 km/h.

Gurgel Itaipu E-400
Estilo futurista rompia com o padrão retilíneo da Gurgel (Fernando Pires/Quatro Rodas)

À época, Gurgel justificou a mudança no projeto em entrevista para a Quatro Rodas:

“Percebi que, não tendo qualquer apoio do governo, tinha que optar pela fabricação de um veículo para cargas leves, feito sob medida para o uso de empresas estatais que podem arcar com um custo inicial mais alto e ao mesmo tempo têm todo o interesse em um veículo com as características do carro elétrico, extremamente econômico. Mas isso não quer dizer que empresas privadas e particulares não podem comprar o Itaipu. Mas ele está mais adequado às necessidades de empresas estatais”.

Gurgel Itaipu E-400
Para-brisa dianteiro era do VW Brasilia (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Acertou em cheio. Enquanto o consumo oscilava entre 0,27 e 0,35 kWh/km, o nome E-400 fazia referência à capacidade de carga de 400 kg e sua autonomia era de 80 km.

O rendimento impressionou o presidente da República João Figueiredo e gestores governamentais, que encomendaram vários Gurgel Itaipu E-400 para frotas estatais de companhias de energia elétrica e de telefonia. Entre os clientes privados estavam o Banco Itaú, a Companhia de Cigarros Souza Cruz e o empresário Nicolau Scarpa Jr.

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Quem movia o Gurgel E-400 era um motor Villares acoplado a um câmbio VW de quatro marchas. O pedal do acelerador comandava cinco cames para dosar a tensão das oito baterias do tipo chumbo-ácido fornecidas pela C&D, variando de 30 volts no primeiro estágio até 96 volts no último, sempre alternando a corrente ao colocar as baterias em paralelo ou em série. O motor de corrente contínua tinha potência nominal de 10 kW (13,6 cv) a 3.000 rpm.

gurgel itaipu e-400
Baterias ficavam entre os eixos (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Cada bateria pesava cerca de 80 kg, o que significava mais de 1/3 da massa total do E-400. Pesando sempre acima de 1,5 tonelada, o sistema de freios era sobrecarregado e não tinha qualquer assistência. Os pneus radiais 175/70 SR 13 eram um paliativo frente à arcaica suspensão dianteira da Kombi.

O carregador das baterias era fornecido pela Thornton Eletrônica e levava cerca de oito horas para atingir sua carga total.

gurgel itaipu e-400
Além do velocímetro, o painel recebia um amperímetro e dois voltímetros (Fernando Pires/Quatro Rodas)
gurgel itaipu e-400
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Apesar da eficiência e do baixo custo operacional, o E-400 não conseguiu superar o ponto fraco dos automóveis elétricos: as baterias caras, limitadas e com vida útil muito curta à época.

Foram produzidas 76 unidades do Itaipu E-400 e 11 unidades do seu irmão maior E-500. A produção do E-400 foi encerrada em 1982. O E-500 teve sua produção encerrada no ano seguinte, mas sua carroceria acabou dando origem ao utilitário G-800, com pequenas alterações no estilo e com a adoção de motores Volkswagen movidos a gasolina ou etanol.

Ficha técnica – Gurgel Itaipu E150

  • Motor: central, longitudinal, elétrico de 3.000 watts/120 volts e 4,2 cv, com enrolamento de campo em série e paralelo.
  • Transmissão: caixa de engrenagens de 1 velocidade.
  • Baterias: 10 de 12 volts cada, ligadas em série.
  • Carroceria: monovolume, 2 portas, 2 lugares.
  • Dimensões: comprimento, 265 cm; largura, 140 cm; altura, 145 cm; entreeixos, 162 cm.
  • Peso estimado: 780 kg.
  • Suspensão: independente, tipo McPherson, molas helicoidais e amortecedores (dianteira); barras de torção e amortecedores (traseira).
  • Freios: a tambor com acionamento hidráulico.
  • Direção: pinhão e cremalheira.
  • Rodas e pneus: magnésio, aro 13 e tala de 6 polegadas; pneus 165X13.

Ficha Técnica – Gurgel Itaipu E-400 1982

  • Motor: elétrico de 96 volts; alimentação, 8 baterias de 12 volts, tipo chumbo-ácido; potência, 10 kW a 3.000 rpm
  • Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
  • Dimensões: comprimento, 382 cm; largura, 163 cm; altura, 164 cm; entre-eixos, 196 cm; peso, 1.570 kg
  • Pneus: radiais 175/70 SR 13
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