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Gurgel Itaipu: há 46 anos, um brasileiro elétrico desafiava a gasolina

Com apenas cinco anos de mercado, a Gurgel apresentou o primeiro carro elétrico da América Latina

Por Fabiano Pereira
25 Maio 2021, 15h06
Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Entre os faróis de iodo, fica a entrada para a recarga (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Publicado originalmente em abril de 2007

Carros elétricos já existem desde o século 19. Eles nasceram quase que junto com o automóvel de motor a combustão, em 1886, e duraram com relativo sucesso até 1915, quando o estrondoso sucesso do Ford T ajudou a definir a receita que prevaleceria na indústria

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Enquanto nos países desenvolvidos a opção elétrica para carros só era empregada em estudos futuristas, em 1974 o engenheiro paulista João Conrado do Amaral Gurgel concluiu seu pioneiro projeto de carro elétrico, o primeiro da América Latina.

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Com a crise do petróleo no ano anterior, houve desabastecimento e os preços dispararam. Haveria melhor momento para a apresentação do Itaipu? O nome é uma homenagem à usina hidrelétrica na fronteira do Brasil com o Paraguai. O lançamento se deu no Salão do Automóvel de 1974. Gurgel programou despejar uma frota de 20 unidades pelas ruas de Rio Claro (SP), sede da fábrica, a partir de junho de 1975. Seria um teste tanto do carro quanto do sistema integrado de estacionamento e reabastecimento.

Interior do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
O velocímetro original ia até 80 km/h. Nesta versão, vai até 120 km/h (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Cada carro teria um local próprio para estacionar, onde o motorista encontraria um pequeno poste com a tomada para recarga. A fabricação deveria começar em dezembro de 1975 a um preço equivalente ao de um Fusca 1300 (22.577 cruzeiros, ou R$ 84.138 reais atualizado a maio de 2021) em dezembro de 1974.

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Baterias do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Cinco das 13 baterias alojavam-se sob as tampas traseiras (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O Itaipu tinha a forma de um trapézio sobre rodas, com carroceria de fibra de vidro. Com 2,65 metros de comprimento por 1,40 m de largura, poderia ser considerado um micromonovolume, se a definição existisse na época. Dentro há lugar para duas pessoas, mas o acesso é dificultado pela falta de regulagem dos bancos. Atrás dos assentos, há cerca de 1 metro de espaço, que pode levar a bagagem. O painel simples conta com velocímetro ao centro, ladeado por amperímetro e voltímetro, que indica a carga disponível na bateria.

Voltímetro do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Quer checar a carga? (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Existem diferenças entre o carro dirigido por QUATRO RODAS em janeiro de 1975 e o exemplar aqui mostrado. No primeiro, o volante era esportivo de três raios, o que combinava com as rodas de magnésio “castelinho”. Este usa o do BR800. Três baterias ficavam na frente, duas atrás dos bancos e mais cinco na traseira. Nesta versão são dez atrás dos bancos, duas sob o assoalho e, para alimentar a parte eletroeletrônica, uma na frente. À direita do volante ficava a alavanca que definia qual direção seguir, para a frente ou para trás ” ou ainda o ponto morto.

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Alavanca que define a relação curta ou longa do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
A alavanca define relação curta ou longa (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O motor entre os eixos gera 3,2 kW, equivalente a 4,2 cv. Ele usa o sistema composto, que une dois tipos de motor de corrente contínua, os de enrolamento de campo em série e em paralelo. “Essa combinação confere alto torque de partida, característica dos motores elétricos de campo em série, e controle de velocidade uniforme, característica dos motores elétricos de campo em paralelo”, diz um engenheiro elétrico paulista integrante do grupo BR800, que reúne aficionados por Gurgel.

Motor do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
O motor ficava entre eixos e não chegava a 5 cv (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Como é de se esperar de um carro elétrico, o rodar impressiona pelo silêncio. O Itaipu chega a cerca de 50 km/h. O tamanho facilita manobras e as frenagens seguram o carro sem surpresas. “Ele tem autonomia de 60 a 80 quilômetros”, afirma o dono do exemplar destas fotos, um industrial do interior paulista que, como o engenheiro, preferiu não ser identificado.

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Interior do Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Pela chave, 1ª ou ré (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Mesmo com o custo por quilômetro rodado da eletricidade sendo menos da metade do da gasolina, era mesmo a autonomia o maior problema do Itaipu. Com o peso e a capacidade limitada das baterias, além do inconveniente de a recarga levar dez horas, o experimento de Gurgel não passou da fase de protótipo. Ainda que tenha sido apenas um ensaio, o pioneiro Itaipu sinalizou por aqui um caminho que foi negligenciado por décadas. E que agora se mostra como uma das opções menos agressivas ao planeta.

Gurgel E400

O Itaipu E-400, elétrico da Gurgel
Gurgel E400 tinha curvas ousadas para a época (Acervo/Quatro Rodas)

Em 1981, o nome Itaipu e a tração elétrica voltariam a figurar no catálogo da Gurgel, na forma do furgão E400, que teve uma pequena série produzida. Evolução do projeto original de 1974, tinha câmbio manual de quatro velocidades. O motor de 10 kW o levava até 75 km/h. O E400 seria a base para o G800, furgão com motor VW.

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Ficha técnica do Gurgel Itaipu

Itaipu, automóvel elétrico da Gurgel, testado pela revista Quatro Rodas.
Muito antes da Tesla ser cool o Gurgel Itaipu oferecia design e soluções completamente diferentes do mercado, ainda que limitadas (Marco de Bari/Quatro Rodas)
  • Motor: central, longitudinal, elétrico de 3.000 watts/120 volts e 4,2 cv, com enrolamento de campo em série e paralelo.
  • Transmissão: caixa de engrenagens de 1 velocidade.
  • Baterias: 10 de 12 volts cada, ligadas em série.
  • Carroceria: monovolume, 2 portas, 2 lugares.
  • Dimensões: comprimento, 265 cm; largura, 140 cm; altura, 145 cm; entreeixos, 162 cm.
  • Peso estimado: 780 kg.
  • Suspensão: independente, tipo McPherson, molas helicoidais e amortecedores (dianteira); barras de torção e amortecedores (traseira).
  • Freios: a tambor com acionamento hidráulico.
  • Direção: pinhão e cremalheira.
  • Rodas e pneus: magnésio, aro 13 e tala de 6 polegadas; pneus 165X13.

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Capa Maio 2021
A edição 745 de QUATRO RODAS já está nas bancas! (Arte/Quatro Rodas)

 

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