A Jaecoo é uma marca chinesa, mas uma forma boa de ganhar dinheiro é apostar com alguém que essa pessoa não encontrará um carro dessa fabricante no país asiático. Isso acontece porque a Jaecoo simplesmente não existe na China: assim como a Omoda, ela é uma submarca da Chery, criada exclusivamente para mercados internacionais, como o Brasil, onde começa a vender em agosto.
São duas marcas em uma mesma empresa com independência da Chery e comandada por profissionais jovens, de modo que tenham a capacidade de criar um trabalho de qualidade mas sem os vícios das operações chinesas. É assim que Jaecoo e Omoda pretendem agradar aos brasileiros a partir desse ano.
QUATRO RODAS foi à China cobrir o gigantesco Salão de Pequim, e aproveitamos para visitar a sede da Chery Internacional, na cidade de Wuhu. Lá, vimos os modelos que chegarão ao nosso mercado em breve, mas também dirigimos o interessantíssimo Jaecoo 6.
A sopa de letrinhas só cresce: Jaecoo 6 (ou apenas J6) é apenas um outro nome dado ao iCar 03, num exemplo clássico de rebadge. A iCar, por sua vez, não é exatamente o subcompacto elétrico que a Caoa Chery vende no Brasil, mas outra submarca do grupo Chery, voltada para jovens de 25 a 35 anos (que, na China, têm renda para adquirir carros elétricos).
O foco está sempre em tecnologia e estilo mais atrevido, que fica evidente na carroceria bem quadrada do J6. Indo além na ideia de “caixote” que deu certo, por exemplo, com o Jeep Renegade, o Jaecoo 6 é um SUV elétrico do porte de um Volkswagen Taos, chamando atenção por detalhes como o capô em paralelepípedo quase perfeito e pegada meio brutalista que, entretanto, não conflita com seu aspecto tecnológico.
Sem muita tradição a ser honrada, é possível arriscar: a tampa do porta-malas se abre na horizontal, com uma saliência externa que serve como um pequeno porta-objetos (no iCar 03, ela é maior e é um compartimento, à moda do Mercedes-Benz Classe G). Faróis e lanternas full-led têm forma de letra I, com assinatura que os torna, perfeitamente, o logotipo da iCar. As maçanetas são retráteis e aparecem quando o alarme é destravado.
Não existe Jaecoo 6 híbrido, mas os compradores poderão escolher entre dois conjuntos mecânicos. O básico traz um motor elétrico traseiro de 184 cv e 22,4 kgfm, enquanto a variante bimotor (com um propulsor elétrico em cada eixo) chega aos 282 cv e 39,2 kgfm.
O topo de linha também inclui bateria de lítio-ferro-fosfato de 69,8 kWh (contra 50,6 kWh do J6 básico) e vai de 0 a 100 km/h em 6,5 s. A velocidade máxima, entretanto, não passa de 150 km/h, para não comprometer demais a autonomia declarada de 501 km. Esse é o valor baseado no ciclo CLTC (muito otimista) e, na vida real, o alcance deve girar em torno de 370 km. Se achou pouco, saiba que é possível instalar painéis solares no teto do carro para gerar energia extra, mas esse opcional ainda tem poucos detalhes divulgados.
Apesar dos números de esportivo, o J6 promete desempenho adequado fora da estrada. Afinal de contas, sua carroceria é feita num híbrido de aço e alumínio que eleva a rigidez torcional, a suspensão é independente nos dois eixos e, tanto as extremidades quanto o vão livre de 17 cm permitem ângulo de ataque de 26º.
Jaecoo 6 por dentro
Seguindo a moda, o painel do Jaecoo 6 é formado, principalmente, pela central multimídia flutuante de 15,6”. O quadro de instrumentos também é digital, mas fica embutido para formar uma continuação do friso brilhante que cruza a dianteira da cabine.
Há ousadia no seletor de marcha em forma de cristal (à moda do Volvo XC90), mas, a fim de equilibrar o atrevimento estético com certa modéstia necessária em mercados como o da Oceania, o J6 adotou acabamento em tons de bronze, preto e verde-musgo, que predomina nos bancos de material sintético.
O tamanho de SUV médio pode não ficar aparente pelas fotos, mas surpreende ainda mais surpreendente o espaço de quem viaja na segunda fileira, dado que os 2,71 m de entre-eixos são bem superiores à média desse segmento.
Até para conter os custos, as inovações seguem, mas concentradas no software ao invés do hardware. Exemplo é o uso de câmeras de alta definição da DJI (famosa por seus drones), que alimentam os recursos de direção autônoma em nível 2+ tão bem que dispensam a instalação de radares e outros sensores externos. Também há possibilidade de usar o celular como chave e de adquirir multimídia com um processador de alto desempenho, que dá vida a um potente assistente virtual operado por comandos de voz.
Quando o Jaecoo 6 chega ao Brasil?
Com tudo isso, é impressionante constatar que, na China, o iCar 03 custa entre R$ 95.000 e R$ 130.000, na conversão direta. Teremos noção melhor de valores quando o J6 desembarcar em lugares como Nova Zelândia e África do Sul, por volta do final de 2024.
Antes disso, porém, é necessário confirmar sua vinda ao nosso país: ao todo, serão 10 lançamentos de Omoda e Jaecoo no Brasil até 2026, com o Omoda 5 sendo o protagonista e os Jaecoo 7 e 8 vindo em seguida. O J7 deverá custar aproximadamente R$ 230.000. Seguindo o posicionamento na China, isso colocaria o J6 um pouco mais caro, perto dos R$ 250.000.
Nesses dois anos, a Omoda & Jaecoo ainda precisa amadurecer seus planos de ter uma fábrica nacional e desenvolver motores flex. Também é necessário reforçar que o Brasil realmente é uma das prioridades para operação da dupla de submarcas, que estreará em nada menos que 40 países, ainda neste ano.
QUATRO RODAS também apurou que os concessionários brasileiros pretendem, num primeiro momento, focar na venda do Omoda E5, pois a Omoda tentará construir uma imagem de ser ainda mais tecnológica e futurista. E é com base em tantas variáveis que a escalação do Jaecoo 6 como prioridade nessa lista de estreias acontecerá ou não. Ainda assim, dizem que nenhum dos carros da Omoda & Jaecoo estão completamente descartados para o Brasil.
Ficha Técnica – Jaecoo 6
Preço:entre R$ 95.000 e R$ 130.000, na China (iCar 03)
Motor: elétricos, 2 motores (dianteiro e traseiro), potência do motor dianteiro 95 cv, potência do motor traseiro 184 cv; torque do motor dianteiro 16,8 kgfm, torque do motor traseiro 22,4 kgfm; potência combinada de 279 cv.
Bateria: íons de lítio, 69,8 kWh
Câmbio: autom., 1 marcha, tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), sólido (tras.)
Pneus: 225/55 R19
Dimensões: compr., 440,6 cm; larg., 191 cm; alt., 171 cm; entre-eixos, 271 cm; Altura livre do solo: 170 mm; peso, 1.854 kg
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 6,5 s; veloc. máx., 150 km/h; autonomia, 501 km (CLTC)
*Dados de fábrica