Estamos em 2025. Mais precisamente, ao volante do protótipo ID. Life. Em pouco mais de três anos, a estrela elétrica da Volkswagen será este crossover compacto.
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Com perdão pelo trocadilho, o ID. Life deverá dar vida ao ID.2, caçula da família de elétricos da marca alemã, que terá a missão de “popularizar” a tecnologia – se é que é possível usar o termo para um carro previsto para custar cerca de 20.000 euros na Europa – R$ 120.000 ao câmbio atual. É a faixa de preço inicial do Polo na Europa.
Essa foi a estimativa dada pela marca ao apresentá-lo no IAA Mobility, salão que aconteceu em setembro passado, na Alemanha.
Enquanto me acompanha em um trajeto dentro do enorme complexo da matriz da Volkswagen, em Wolfsburg, na Alemanha, Dzemal Sienar, engenheiro responsável pelos carros conceituais da VW, afirma que, no que diz respeito à plataforma, o pequeno modelo “está muito perto do ponto final de desenvolvimento”.
O ID. Life é o primeiro membro da família ID. a utilizar tração dianteira. Ele é feito sobre a plataforma MEB, desenvolvida para veículos elétricos do grupo Volkswagen. Até agora, todos os modelos da linha utilizam tração traseira com motor traseiro ou tração integral com dois motores.
À minha frente, o painel lembra um minimalismo escandinavo: madeira e um celular preso com ímã no centro, que faz as vezes de central multimídia. O carregamento é por indução. O volante cortado na parte de cima remete aos usados na F1. Há muitos revestimentos produzidos com garrafas PET, recuperadas de oceanos e afins. Os porta-objetos nas portas também carregam celulares por indução.
O que seriam os comandos do câmbio automático em um veículo convencional são botões sensíveis ao toque no centro do volante.
O arranque muito silencioso é algo que não surpreende, mas neste primeiro contato a velocidade do protótipo estava limitada a 40 km/h: “É um veículo de estudo, não para testes de estrada”, explica Sienar, com um sorriso sincero.
Aceleração de carro esportivo
Os números preliminares – deste que pode ser considerado um dos concept cars mais importantes dos últimos anos – são impressionantes: 234 cv, 0 a 100 km/h em 6,9 segundos e a possibilidade de rodar cerca de 400 km com uma carga de bateria de 57 kWh.
Não é só isso. Os alemães informam que em apenas dez minutos será possível “injetar” energia para 163 km de autonomia em estrada. As baterias ficam sob o piso, entre os eixos.
A ausência de ruído só não é total porque a integridade da carroceria, feita a mão, não é exemplar, algo totalmente aceitável e normal num veículo em fase de desenvolvimento. Há rangidos ao rodar sobre o asfalto bastante irregular.
E eles seriam maiores não fosse o longo curso de suspensão. Afinal, o ID.2 será uma espécie de crossover elétrico, o que também é confirmado pela sua elevada altura do solo, de 19 cm. A suspensão é independente nas quatro rodas, com sistema McPherson na frente e multibraços atrás.
Quanto ao volante cortado em cima, eu pensei que o belo recurso de estilo poderia se revelar um problema nas manobras de estacionamento, por exemplo. Mas as rodas dianteiras esterçam tanto que o motorista não sente falta da parte de cima do arco. O que não significa que o ID.2 chegará às concessionárias com este tipo de volante. Isso não vai acontecer.
Como laboratório sobre rodas, é natural que o ID. Life tenha vários elementos que não vão estar no carro de produção. É o caso também da iluminação de led na grade e da enorme tela retrátil embutida no painel, que serve para projeção de filmes ou jogos de videogame. Ou mesmo dos bancos que se convertem em cama.
Há outras soluções interessantes e originais que poderão ser usadas total ou parcialmente neste e em outros modelos da VW: o teto de tecido pode ser removido por completo e usa câmaras de ar em sua estrutura.
Ou o capô, que pode ser aberto com um zíper, e dá acesso a um pequeno porta-malas. Ou ainda o verniz transparente com lascas de madeira usado na construção da carroceria, que dispensa pintura.
Reconhecimento facial
O destravamento de portas é feito por reconhecimento facial, por meio de uma câmera na coluna central.
O painel de madeira tem zonas de comandos integrados para climatização e iluminação, e as superfícies sensíveis ao toque do volante não são assim tão experimentais, pois há soluções parecidas no mercado. E até o lançamento comercial do ID.2 é possível que se concretizem.
O mesmo se pode dizer das câmeras que substituem os retrovisores (externos e interno) e projetam as imagens na tela de 9” à frente do condutor. Elas já estão no Audi e-tron, e até 2025 poderão ser a solução para modelos mais acessíveis.
O que certamente vai se manter é o conceito de carroceria com cantos fortes, que além de criar um vínculo com modelos da VW do passado (como o primeiro Golf ou mesmo o Up!) permite dispor de um habitáculo espaçoso.
O banco traseiro acomoda passageiros com 1,85 metro sem apertos, resultado do ótimo entre-eixos de 2,65 m, típico de sedã médio. As demais proporções são de um carro do segmento B: 4,1 m de comprimento, 1,84 m de largura e 1,6 m de altura.
Custo de bateria decrescente
Estima-se que em três anos e meio (prazo previsto para a chegada do modelo às lojas) as linhas de custos da propulsão elétrica (principalmente as baterias), em queda, e de propulsão térmica se cruzem, tornando a mobilidade elétrica uma solução possível.
Thomas Schmall, diretor de produção do grupo alemão, e que foi presidente da Volkswagen do Brasil entre 2007 e 2015, informou que a partir de 2023 um consórcio formado por mais de dez fabricantes deverá começar a produzir células de baterias que poderão ser usadas em 80% dos veículos elétricos do consórcio, “o que permitirá reduzir pela metade os preços das baterias para modelos de segmentos mais baixos”.
Ainda de acordo com o executivo, em uma fase posterior, “as baterias em estado sólido irão reduzir os tempos de carregamento pela metade e elevar a autonomia em 30%, graças à redução de peso”.
No final de setembro, a Volkswagen do Brasil anunciou que irá lançar no país o hatch ID.3 e o SUV ID.4. Não há data oficial, mas o hatch deve ser lançado no primeiro semestre do ano que vem. O ID.4 deve vir na sequência.
A marca ainda faz mistério sobre o ID. Buzz, a reencarnação da Kombi, previsto para estrear na Europa em 2023. Mas ele é tido como certo para o Brasil. Como o ID. Life ainda está longe de ganhar vida, a marca alemã não comenta o assunto.
Mas se teremos ID.3, ID.4 e ID. Buzz, nada como um “carro do povo” para completar a família. Nada como um retorno do “novo Fusca” para fazer companhia à “nova Kombi”.
Veredicto
Este modelo tem importância estratégica para as vendas de elétricos da VW no mundo.
Ficha Técnica
Preço: 20.000 euros (estimado)
Motor: elétrico, dianteiro, 234 cv e 29,6 kgfm Capacidade da bateria: 57 kWh Autonomia: até 400 km (ciclo WLTP), Capacidade de recarga para 163 km em 10 minutos
Suspensão: McPherson (diant.), multibraços (tras.)
Freios: disco sólido
Dimensões: comprimento, 409,1 cm; largura, 184,5 cm; altura, 159,9 cm; entre-eixos, 265 cm; distância do solo, 19 cm; porta-malas, 410-1.285 litros
Desempenho: 0 a 100 km/h, 6,9 s; velocidade máxima de 180 km/h