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Asia Towner serviu de picape a lanchonete ambulante antes de desaparecer

Com ascendência japonesa, a pequena van coreana colaborou para o sustento de várias famílias brasileiras antes da virada do milênio

Por Felipe Bitu Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 out 2023, 10h50
Rodas aro 12” dificultavam reposição dos pneus (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
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Brasileiro é um povo que gosta mesmo de automóvel. A abertura do mercado no início da década de 1990 fez com que o público tivesse acesso a uma infinidade de importados, de Lada Niva a BMW 325i. Havia espaço até para os keijidōsha: os japoneses Daihatsu Cuore, Subaru Vivio e Suzuki Samurai, e também a coreaníssima Asia Towner.

Produzida pela extinta Asia Motors, a Towner foi apresentada no mercado coreano em 1992 e era baseada na japonesa Daihatsu Hijet, de 1986. Foi uma das estrelas do Brasil Motor Show de 1993 nas versões Truck (picape), Panel Van (furgão fechado), Glass Van (furgão com vidros laterais) e Coach (com sete lugares). Pequena por fora e grande por dentro, era perfeita para a estabilização econômica promovida pelo Plano Real.

ASIA TOWNER
O teto elevado ajudava a acomodar sete passageiros. Pequeno motor de três cilindros ficava sob os bancos dianteiros (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)

Era um dos automóveis mais baratos do país: a versão mais cara custava pouco mais de US$ 10.000 e não demorou a dominar as capitais e os grandes centros urbanos do Brasil. Mesmo menor que as patrícias Kia Besta e Asia Topic era muito comum ver a Towner trabalhando como lotação, desafiando as empresas de ônibus urbanos.

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Quem viveu o período também se recorda que em meados dos anos 1990 havia pelo menos uma Towner-dog em cada esquina, servindo cachorros-quentes carregados de ketchup, mostarda, maionese, vinagrete, purê de batata e o que mais coubesse nos 272 litros do porta-malas transformado em lanchonete.

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ASIA TOWNER
(Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)

O baixo preço também fez a felicidade de pequenas empresas, profissionais autônomos e famílias com mais de três filhos: a pequena van era uma opção bem mais racional que a grandalhona Renault Trafic. O grupo de opcionais SDX Full trazia rodas de liga leve, vidros verdes e ar-condicionado, itens que tornavam a Towner bem mais confortável e econômica que a decana Volkswagen Kombi.

Sua média de consumo era de 11,4 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada a 100 km/h constantes. O responsável pelo bom rendimento era o motor ED-10A desenvolvido pela Daihatsu, com três cilindros, seis válvulas, 796 cc e alimentação por carburador eletrônico. Instalado sob os bancos dianteiros, rendia 6 kgfm a 3.600 rpm e 40 cv a 5.600 rpm.

ASIA TOWNER
Painel trazia conta-giros e a visibilidade era favorecida pela área envidraçada. A segunda fileira de bancos era rebatível (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
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Basta uma conta rápida para perceber que a Towner não era um primor de agilidade: pesando 1.280 kg, sua relação peso/potência era de 32 kg/cv. Eram necessários longos 46,5 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h e o coeficiente aerodinâmico de 0,41 limitava sua velocidade máxima a aceitáveis 112,7 km/h. As retomadas de velocidade exigiam o uso frequente do câmbio de cinco marchas.

Apesar de alta (1,87 m) e estreita (1,40 m), a Towner apresentava um bom comportamento dinâmico em razão do baixo centro de gravidade, com a maior parte dos componentes mecânicos entre os eixos. As suspensões McPherson (dianteira) e Hotchkiss (traseira) controlavam as pequenas rodas de 12 polegadas com pneus radiais 165/70.

ASIA TOWNER
(Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
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O maior problema da Towner não estava nas curvas, mas sim nas retas: em frenagens de emergência a 80 km/h ela precisou de longos 38,8 metros para estancar, causando pânico com seus desvios de trajetória. A elevada sensibilidade a ventos laterais também exigia atenção nos percursos rodoviários, mesmo andando com calma na faixa da direita.

Nenhuma das limitações citadas foi suficiente para abalar o sucesso da Towner: o Brasil tornou-se um dos mercados mais importantes para a Asia Motors, que rapidamente iniciou os planos para erguer uma fábrica em solo brasileiro. Towner e outros veículos seriam inicialmente montados em operação CKD e nacionalizados até o final dos anos 1990.

ASIA TOWNER
Incontáveis unidades tiveram o porta-malas transformado em lanchonete (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)

Os planos acabaram sendo abortados pela falência da Kia Motors em 1997, responsável pelo controle da Asia Motors desde 1976. Apesar da forte recessão econômica que atingiu grande parte dos países asiáticos, a Towner ganhou injeção eletrônica em 1998, pouco antes da suspensão das importações no ano seguinte.

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Como todo utilitário, as Towner foram usadas e abusadas até o fim de sua vida útil, momento em que acabaram finalmente descartadas em ferros-velhos como sucata ou doadoras de peças. As poucas unidades remanescentes são mantidas por entusiastas que não medem esforços para celebrar as memórias afetivas do rico cenário automotivo dos anos 1990.

Ficha Técnica – Asia Towner 1995

Motor: longitudinal, 3 cilindros em linha, 796 cm3, alimentado por carburador eletrônico
Potência: 40 cv a 5.600 rpm
Torque: 6 kgfm a 3.600 rpm
Câmbio: manual de 5 marchas, tração traseira
Carroceria: monovolume, 5 portas, 7 lugares
Dimensões: comprimento, 336 cm; largura, 140 cm; altura, 187 cm; entre-eixos, 181 cm
Peso: 1.280 kg
Pneus: 165/70 R 12

Edição

Edição 428 - Quatro Rodas
(Reprodução/Quatro Rodas)

Março de 1996
Aceleração: 0 a 100 km/h em 46,54 s
Velocidade Máxima.: 112,7 km/h
Consumo médio: 11,77 km/l (álcool)
PREÇO: US$ 16.890 (março/1996)

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