Sebastián “Loco” Abreu se aposentou recentemente do futebol como um dos maiores nômades desse esporte. O jogador passou por 31 clubes ao longo da carreira. Mais ou menos a quantidade de vezes em que você troca o lubrificante do carro em dois anos e meio de uso. Só que provavelmente você já foi mais fiel que o uruguaio.
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Até porque a fidelidade é recomendável não só pela necessidade de se manter as especificações do lubrificante como em relação à marca do produto usado. Mas eis que a gente descobre em nosso teste de Longa Duração que a Fiat virou a casaca, no caso da picape Strada! A italiana trocou o Selènia, da Petronas, por um Shell com emblema Mopar (marca de acessórios da hoje Stellantis). Pode isso, Arnaldo?
Pois é, a Fiat mudou de marca de lubrificante, mas não é a primeira a fazer isso. A VW já tinha feito uma substituição com a linha compacta Gol/Voyage/Saveiro: saiu YPF e entrou Shell. E a Honda foi mais radical em 2012, mudando as especificações do óleo de Fit e City de 10w30 para 0w20 e, na carona, ainda trocou de time, digo fornecedor.
Para o consumidor, a fidelidade à marca na hora da troca total do produto não é fundamental. O que o proprietário tem de seguir obrigatoriamente são as especificações do lubrificante que constam no manual do carro, assim como os prazos para a substituição.
“Considerando que o período de troca seja respeitado e que as especificações do lubrificante, como a viscosidade e o grau API, atendam às recomendações da montadora, não há nenhuma complicação em misturar lubrificantes de diferentes fornecedores”, explica o engenheiro Everton Lopes, mentor de Energia a Combustão da SAE Brasil.
Mas ao completar…
Completar o óleo não é nenhum absurdo. O processo de lubrificação faz o produto circular pelo motor até as partes mais altas, como os anéis superiores do pistão, e sempre sob altas temperaturas.
Então, a queima e perda parcial do lubrificante é perfeitamente normal. Portanto, se o nível estiver abaixo da marca do máximo da vareta e ainda reste uma boa quilometragem para a troca, você pode adicionar lubrificante, sem medo. Só que, nessa situação, misturar as marcas não é recomendado. Isso porque cada fabricante usa matérias-primas e aditivos próprios, apesar das mesmas especificações.
“Óleos de motor são formulações complexas de óleos básicos e aditivos, e, mesmo que eles atendam as mesmas especificações API ou ACEA, nem sempre esses componentes são idênticos, o que pode gerar perda de eficiência do lubrificante no longo prazo”, ressalta Júlio Souza, especialista de Engenharia de Materiais da Stellantis.
“As especificações determinam condições mínimas de desempenho e proteção que o lubrificante deve atender para determinado veículo”, completa Everton Lopes. “E os fornecedores de lubrificantes podem utilizar diversas formulações, ou seja, diferentes óleos base e pacotes de aditivos para atender essas especificações”, acrescenta o engenheiro da SAE Brasil.
E não esqueça que, ao completar, é imprescindível seguir as mesmas recomendações do produto que já está no motor. Especialmente no que diz respeito à viscosidade, já que algumas montadoras permitem dois ou três níveis.
Quando tem mais de uma opção
Pois é, foi o que fez a Honda com sua linha de compactos lá por 2012 e é o que muitos fabricantes costumam fazer: recomendar mais de uma especificação de óleo para o mesmo carro e conjunto mecânico. E aí, melhor optar por qual?
Antes de mais nada, jamais misture óleos com especificações diferentes, mesmo que ambos sejam os indicados pelo fabricante. Se a marca oferece mais de uma opção, na hora da troca para valer
você pode escolher. Contudo, se o carro for mais antigo e só agora a linha ganhou nova possibilidade, seja fiel e mantenha a receita que sempre usou.
“Antes de recomendar uma mudança na especificação do lubrificante, a montadora provavelmente modificou uma série de componentes do motor, como bronzinas, anéis de pistão, bomba de óleo etc.
Dessa forma, um veículo de ano/modelo mais antigo não recebeu as mesmas alterações do modelo mais recente e pode sofrer danos se trabalhar com um óleo de especificação diferente do recomendado”, diz o engenheiro da SAE.
Mas se, originalmente, desde o lançamento, a montadora permitir óleos diferentes para aquele modelo de automóvel, você pode mudar e até economizar. Lubrificantes com menor viscosidade, por exemplo, são mais leves. Com isso, a bomba de óleo fará menos esforço para fazer o óleo circular.
“Nesses casos, o uso de um lubrificante de menor viscosidade resulta em redução no atrito interno do motor e, por isso, proporciona uma redução no consumo de combustível”, diz Everton Lopes. Então, um exemplo: se o fabricante do veículo indica especificações de óleo 5W30 e 10W40, o 5W30 é o com menor viscosidade e o que, tecnicamente, pode proporcionar maior eficiência.
Onde trocar o óleo?
Se o carro for zero-km ou estiver na garantia de fábrica, o proprietário deve seguir as recomendações de trocas de óleo que constam no manual do veículo. Geralmente, as substituições do lubrificante são feitas durante as revisões obrigatórias nas concessionárias e a cada 10.000 km – fazer o serviço fora da rede pode resultar em perda da garantia.
Para modelos que já passaram do tempo de cobertura, a troca pode continuar sendo feita na revenda da marca ou em lojas e oficinas especializadas no serviço – há, inclusive, estabelecimentos próprios das marcas de lubrificantes. O motorista deve sempre manter os prazos recomendados pela montadora.
“O melhor local para fazer a troca é a concessionária, pois, além do óleo de motor, outros itens do veículo precisam de atenção e poderão ser devidamente inspecionados. Mas é importante observar o nível de qualidade do atendimento e do serviço da oficina e a qualidade do produto utilizado”, diz Souza, da Stellantis.
O que observar?
Na hora de fazer a substituição do lubrificante, é sempre recomendado a troca do filtro. Apesar de algumas marcas indicarem a reposição da peça em intervalos maiores que os do óleo, a dica dos engenheiros é fazer a substituição do componente a cada troca de óleo – até por ser um item barato.
Quanto ao tipo de método de troca de óleo, se por sucção ou gravidade, não há uma opção melhor ou pior. Os dois processos são válidos, desde que o máximo de lubrificante antigo seja extraído. “A troca por sucção tem a vantagem de ser mais rápida e de garantir a drenagem completa do óleo velho antes do reabastecimento. A troca por gravidade tem como benefício o custo. A qualidade do trabalho será a mesma se for respeitado um tempo suficiente para drenagem completa do óleo velho”, afirma Lopes.
Além disso, é importante ficar atento ao estado do lubrificante antigo que está sendo retirado. “No momento da troca vale a pena notar a condição do óleo velho. A presença de espuma branca ou de partículas metálicas podem indicar de forma prematura um problema no motor”, destaca o executivo da SAE Brasil.