Presença mais que aguardada no mercado brasileiro, a 660 demorou bastante a chegar. Tamanha ansiedade é justificada: ela é simplesmente o que de melhor a família Téneré tem a oferecer. Não sofre do desequilíbrio visual entre frente grande e traseira pequena de sua irmã menor, a 250 cc, um modelo com vocação mais urbana, e tampouco do excesso de robustez de sua irmã maior, a 1200 cc, algo que a coloca mais próxima de uma turismo do que de uma on/off road. A XT 660Z Ténéré tem quase tudo na dose certa.
Utiliza como base o consagrado motor da XT 660R que, mesmo longe de ser um exemplo de vanguarda tecnológica, é um dos melhores monocilíndricos já construídos, que nessa nova versão recebeu algumas alterações no mapa do CDI e na caixa do filtro de ar.
RG de “nenhum lugar”
Ténéré, no dialeto africano tuaregue, quer dizer “nenhum lugar”. No entanto, aplicado ao mundo das duas rodas, o termo tem endereço certo. Evoca cheiro do deserto, mantendo a essência do primeiro modelo lançado há mais de um quarto de século.
Muitos podem questionar sua estética. Particularmente, eu a acho bonita. E muito de seu magnetismo vem de sua funcionalidade. Nada nela é gratuito. Um bom exemplo é o gancho instalado entre as bengalas dianteiras, que tanto serve para fixá-la em picapes e carretas como para tirá-la, rebocada, na eventualidade de uma atolada em duna ou lamaçal.
Quer mais? Ela tem um amplo espaço – quase um vazio – entre o painel de instrumentos e o tanque de combustível, o que fez o nosso fotógrafo Marco de Bari torcer o nariz. Mas é esse espaço que permite a fácil instalação de aparelhos de GPS ou de planilhas em provas de enduro. Outra boa solução é a adoção de acabamento nas partes mais expostas do tanque e de outras zonas limite da motocicleta com uma borracha de alta densidade; além do caráter estético, assegura proteção em caso de quedas; ao “perder o pé” em uma manobra na terra, pude comprovar in loco a sua eficiência.
Se a Ténéré tem identidade, sua cara está exatamente no portentoso conjunto óptico, uma marca registrada. Ela tem um perfil extremamente fino para uma moto com um tanque com capacidade para 23 litros de combustível, oito a mais do que a versão “R” comercializada no Brasil (a conhecida “xistezona”) permitindo um perfeito encaixe dos joelhos e facilitando as manobras, tanto no asfalto quanto na terra. Isso só foi possível por estar parte do tanque disposta entre o quadro e escondida sob o assento, contribuindo para a centralização das massas, uma das máximas mais aplicadas e comprovadas para melhorar a dirigibilidade de uma motocicleta de qualquer estilo.
O chassi é bem diferente daquele que equipa nossa velha conhecida, a XT 660R. O quadro é mais rígido, utilizando uma nova composição de materiais, mas a principal mudança está na traseira, que passa a adotar um braço oscilante com belo design e construído em liga de alumínio. A suspensão dianteira utiliza bengalas de 43 mm de diâmetro e com 210 mm de curso, em que é possível regular a pré-carga da mola. Na traseira, um monoamortecedor Sachs com reservatório separado e 200 mm de curso possibilita também a regulagem da pré-carga.
As rodas de 21 (na frente) e 17 polegadas (atrás), além de adequadas à proposta da moto, possibilitam o uso de diferentes modelos de pneus, de distintas marcas, disponíveis ao redor do mundo, algo que faz toda diferença para quem planeja se aventurar a uma “voltinha” ao redor do planeta.
Tocada das boas
Se na prova teórica ela se sai bem, é andando que as suas qualidades sobressaem. A primeira impressão ao montála é das melhores e as curvas iniciais só confirmam a sensação. Ela entra redonda, contorna com suavidade e precisão, é maneável e muito dócil, respondendo perfeitamente aos commandos do piloto.
O assento é confortável e a posição é um convite a pilotagens mais relaxadas, em ritmo de cruzeiro. Mas se mostra também eficiente em uma tocada mais agressiva, sentado ou em pé, seja no asfalto ou na terra. Um de seus grandes méritos é não ter perdido completamente o DNA fora de estrada – ao contrário, ela tem ótimos recursos para enfrentar as adversidades.
Seu motorzão de cilindro único é um capítulo à parte. Quando tudo indica que ele já está chegando ao limite, surge uma nova setagem eletrônica e um filtro de ar mais generoso, aumentando seu fôlego. Com faixa ideal de uso entre 2500 e 6000 giros e muito torque em baixas rotações, ele garante uma tocada sempre prazerosa e divertida. A vibração em altos giros e velocidades mais elevadas faz parte do pacote dos monocilíndricos e não chega a incomodar.
A versão brasileira é idêntica à europeia, com dois discos de freio na frente, contra um da irmã R. Mas lá a Ténéré 660 é oferecida também em versão com ABS que por enquanto não desembarca por aqui. Por outro lado, a Yamaha disponibilizará uma ampla gama de acessórios, como protetores de mão, de carter e motor; além de cavalete central e um conjunto de três caixas de alumínio para bagagem, duas laterais e uma superior que custará cerca de 4500 reais.
A Ténéré 660 chega por 30500 reais e traz muito apetite para recuperar o terreno perdido e instigar viajantes aventureiros em busca de um oasis. Mesmo que o deserto mais próximo não esteja tão próximo assim.
TOCADA
Toda a força de um dos mais bem resolvidos entre os monocilíndricos garante prazer ímpar ao pilotá-la. A vibração em altos giros faz parte do pacote!
★★★★★ DIA A DIA
É maneável e ligeira. Adapta-se perfeitamente ao uso urbano, encara estradas e se defende muito bem na terra.
★★★★ ESTILO
É moderna, acompanha o estilo das atuais motos de enduro. Faz presença e tem perfeito equilíbrio entre as partes.
★★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO
O motor tem um ótimo torque para o uso urbano e trilhas. O câmbio é macio e tem um eficiente escalonamento de marchas.
★★★★★
SEGURANÇA
Bom conjunto de suspensões e duplo disco dianteiro garantem eficiência e segurança, mas na Europa já é oferecida a opção com ABS.
★★★★
MERCADO
Tem preço para brigar com a BMW G 650 GS e bem inferior à Honda Transalp. Chega com força e apetite!
★★★★★