Uma pesquisa feita pela consultoria CSA Research em 2017 revelou que o brasileiro passa quatro anos e 11 meses dentro do carro ao longo de sua vida – mais do que europeus e até chineses.
E o futuro não é bom. Os engarrafamentos vêm aumentando na mesma proporção que o custo de morar perto do trabalho.
Isso significa que é grande a chance de muita gente passar mais tempo vendo um conta-giros e o rádio do seu carro do que descansando em sua casa.
Enquanto os carros autônomos não chegam, os fabricantes vêm buscando diferentes soluções para transformar o interior dos veículos em algo mais próximo da sala de estar.
Isso envolve aumentar (e melhorar) porta-trecos, trabalhar a iluminação interior e até reposicionar itens tão tradicionais como os alto-falantes.
Para mostrar a evolução das cabines automotivas, QUATRO RODAS convocou dois lançamentos do crescente segmento de SUVs.
O Volvo XC40 e o novo BMW X3 têm propostas – e preços – distintos, mas a meta é a mesma: tornar as horas gastas nos deslocamentos das grandes cidades menos desgastantes.
E, pela primeira vez na história de uma revista, você poderá entrar nessas cabines com a gente. Uma parceria com a empresa NerdMonster permitirá que, por meio da tecnologia de realidade virtual, qualquer um possa se sentir como se estivesse dentro do tecnológico X3 ou do ousado XC40.
Veja abaixo como é o luxuoso interior do X3:
E a ousada cabine do XC40:
Apesar de não termos deixado de lado nossa análise tradicional, nesta matéria especial nos concentramos onde, para muita gente, é mais importante.
A evolução dos materiais e dos equipamentos não apresenta um desafio apenas para as fabricantes generalistas, que precisam deixar seus carros cada vez mais equipados.
Em um mundo onde até o Renault Kwid tem navegador GPS e câmera de ré, você precisa oferecer muito mais a quem está disposto a pagar R$ 214.950. E olha que o preço sugerido para o Volvo XC40 T5 R-Design nem parece tão alto diante dos R$ 397.950 cobrados pelo novo BMW X3 M40i.
Um ponto interessante é que, apesar do degrau gigantesco de custo, tamanho e potência, a dupla usa de forma inteligente algo tão trivial quanto destrancar o carro: luzes e cores.
Multicolorido
Há chave presencial nos dois, mas quem se dispor a apertar o botão para destrancar as portas se sentirá bem recepcionado no XC40, que ilumina as quatro maçanetas com uma suave luz branca. Um detalhe charmoso que contrasta com o show da versão topo de linha do X3.
Luzes sob os retrovisores projetam grandes linhas que iluminam o chão por toda a lateral do BMW. Elegante e sem o exagero de modelos que projetam a logomarca do veículo no piso.
Leds espalhados pela cabine proporcionam uma iluminação indireta à altura de restaurantes de luxo. Ambos possibilitam que o condutor escolha diferentes cores, mas o XC40 tem um charme a mais.
O SUV sueco permite que o interior seja iluminado com tons mais frios ou quentes de acordo com o ar-condicionado: se a temperatura estiver baixa, as luzes podem ficar azuladas para melhorar o conforto visual.
O X3 mostra o cuidado com seus olhos em outro ponto. A iluminação dos botões de aúdio e do ar-condicionado muda conforme o horário. Branca e clara de dia, alaranjada e mais escura de noite.
Os próprios comandos são um pequeno requinte, pois, apesar de serem físicos, são sensíveis ao toque. Ou seja, para saber qual rádio ou função está memorizada na posição 1, basta tocar no comando.
O XC40 repetiu muitos recursos dos XC90, mas nem todos são exatamente práticos – caso da alavanca de câmbio, pouco intuitiva e com modo de trocas sequenciais para a esquerda e direita, em desuso na indústria.
Mas o ótimo sistema multimídia Sensus compensa essa deficiência. Ele é tão prático que até o menos versado nas tecnologias entenderá o funcionamento simples do equipamento, diretamente inspirado nos tablets. A maior inovação do sistema de som do XC40, porém, não está visível.
A Volvo optou por tirar os alto-falantes inferiores das portas dianteiras para criar um gigantesco porta-trecos. Os equipamentos agora estão posicionados dentro do painel e reverberam o som através de pequenas saídas de ar nas laterais do console.
A BMW não ousou tanto no X3, mas ouviu a voz do povo. O sistema multimídia finalmente ganhou tela sensível ao toque – apesar da versão vendida no Brasil não ter o controle por gestos presente no Série 7.
A dupla repete a tendência da digitalização de tudo o que for possível e substituiu o tradicional quadro de instrumentos por uma grande tela customizável. Mas é interessante ver como, ainda assim, o conservadorismo se faz presente.
Enquanto modelos acessíveis como o VW Virtus permitem a inclusão do mapa do GPS por toda a tela, XC40 e X3 conservam sempre à vista o tradicional velocímetro circular. No caso do BMW, até as bordas arredondadas do cluster foram mantidas, simulando um painel convencional.
Por outro lado, os alemães parecem ter reinventado a câmera de ré. A versão M40i usa quatro câmeras para fornecer uma visão de 360 graus do carro, mostrando inclusive uma versão virtual do X3 na tela central. E, para oferecer a melhor visão possível, as câmeras frontais e traseira são capazes de virar junto do volante.
As duas marcas também tiveram cuidado especial com quem senta atrás. O controle do ar-condicionado traseiro do X3 permite ajustar temperatura e até escolher entre os difusores centrais ou sob os bancos.
O XC40 não tem esse tipo de requinte, mas a saída USB do tipo C é ainda mais ousada. Ela trabalha com uma corrente elétrica mais alta, o que faz do XC40 um dos poucos carros do Brasil capazes de carregar um notebook só com um cabo USB.
O problema é que hoje essa saída, menor, é pouco usada em equipamentos eletrônicos e não é compatível com o USB comum.
Fôlego de esportivo
Falta a esses dois SUVs alguns mimos muito úteis nos intermináveis engarrafamentos, como bancos com massagem e ventilação. Mas os sistemas de condução semiautônoma da dupla se mostraram evoluídos a ponto de tornar o anda e para mais confortável, pois ambos são capazes de seguir o carro à frente sem grandes dificuldades.
Volvo e BMW tratam bem seus ocupantes nos engarrafamentos dos dias de semana, e são ainda melhores aos sábados e domingos. O 2.0 com turbo e compressor do XC40 gera 252 cv, suficientes para ir de 0 a 100 km/h em 7,5 s.
A força é dosada por um câmbio automático convencional de oito marchas, que permitiu um consumo de moderados 8,7 km/l no ciclo urbano e 12,3 km/l no rodoviário.
Compará-lo ao X3, porém, seria injustificável. A versão M40i (que é R$ 83.000 mais cara que o XC40) é a mais potente, equivalente à linha S da Audi e 43 da Mercedes.
Seu 3.0 seis cilindros turbo alcança 360 cv e 51 mkgf, que, como no Volvo, são levados às quatro rodas por uma transmissão de oito marchas. No nosso teste, o X3 fez o 0 a 100 km/h em ótimos 4,9 s, índice inferior a muito esportivo.
A versão M40i tem um desempenho tão impressionante que quase dá para esquecer a utilidade do modo Eco e do contador de tempo que registra o período em que o motor ficou desligado para poupar combustível.
Só que a tendência é que passaremos boa parte daqueles quatro anos atrás do volante indo em baixa velocidade até o semáforo mais próximo.
Nesse cenário pouco animador, nada melhor do que um carro que seja quase tão confortável quanto a sua casa.
E a boa notícia é que essas aconchegantes cabines vão ficar cada vez mais próximas da sua garagem.
Teste
BMW X3 | Volvo XC40 | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 4.9 s | 7,5 s |
Aceleração de 0 a 1000 m | 24,1 s- 218,2 km/h | 28,4s- 184,4 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h | 2,2 s | 3,5 s |
Retomada de 60 a 100 km/h | 2,7 s | 4,2 s |
Retomada de 80 a 120 km/h | 3,3 s | 5 s |
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 16,7/27,2/62m | 15,7/26,9/62,5 m |
Consumo urbano | 7,8 km/l | 8,7 km/l |
Consumo rodoviário | 11,2 km/l | 12,3 km/l |
Ficha Técnica
BMW X3 M40i | Volvo XC40 T5 | |
Motor | gasolina, diant., long., seis cilindros em linha, 2.998 cm3, 24V, turbo, 360 cv a 5.500 rpm, 51 mkgf a 1.520 rpm | gas., diant., trans., quatro cilindros em linha, 1.969 cm3, 16V, turbo e compressor, 252 cv a 5.500 rpm, 35,7 mkgf a 1.500 rpm |
Câmbio | automático, 8 marchas, tração integral | automático, 8 marchas, tração integral |
Suspensão | McPherson (diant.), multibraço (tras.) | McPherson (diant.) e multibraço (tras.) |
Freios | discos vent. (diant. e tras.) | disco vent. (diant.) e disco sólido (tras.) |
Direção | elétrica, diâm. de giro 12,1 m | elétrica, diâm. de giro 11,4 m |
Rodas e pneus |
245/40 |
245/45 R20 |
Dimensões | compr., 471,6 cm; larg., 189,7 cm; alt., 167,6 cm; entre- -eixos, 286,4 cm; peso, 1.930 kg; tanque, 65 l; porta-malas, 450 l | compr., 442,5 cm; largura, 186,3 cm; alt., 165,2 cm; entre- -eixos, 270,2 cm; peso, 1.733 kg; tanque, 54 l; porta-malas, 460 l |
Preço | R$ 397,950 | R$ 214,950 |