Cayenne Turbo GT e 911 GT3 que me perdoem, mas o 718 Cayman GT4 RS fez por merecer e passou a ter o título de Porsche mais extremo e empolgante que já pude pilotar.
Não por menos, a inédita versão RS do esportivo de entrada da marca já conquistou recorde como o 718 mais rápido de Nürburgring (24 segundos mais rápido que o 718 GT4) graças ao poder de transformação que a sigla, de Renn Sport, proporciona. No Brasil, o modelo já está à venda a partir de R$ 1.157.000.
O motor central boxer 4.0 de seis cilindros aspirado é o mesmo do irmão 911 GT3, mas com 10 cv a menos – que sequer fazem falta entre os 500 cv de potência “restantes” e os 45,9 kgfm de torque.
O câmbio é sempre automático PDK, de sete marchas, com o mesmo conjunto de engrenagens do 991 II GT3 RS, vetorização de torque, diferencial de deslizamento limitado do 991 II GT3, além da menor relação entre marchas entre todos os modelos GT.
Outros aprimoramentos fazem do GT4 RS um legítimo RS, como rodas com travamento central, pneus exclusivos, freios dianteiros maiores (de 408 mm), suspensão com molas vindas do 911 GT3 991 II, eixos mais largos (7 mm na dianteira e 8 mm na traseira), cambagem traseira mais negativa e molas mais rígidas.
Para subir e descer rampas, pela primeira vez o 718 ganha um sistema de lift para elevação da dianteira, com variação de até 3 cm.
A aerodinâmica também passa por grandes alterações, com carga até 25% maior em relação ao 718 Cayman GT4. Ele ganha ripas nos paralamas dianteiros, entradas para refrigeração dos freios, asa traseira, difusor traseiro com novas lâminas e splitter dianteiro com lâminas laterais.
Há ainda uma extensa dieta feita ao 718 GT4 para que o RS pudesse chegar aos 1.415 kg, que também garante a baixíssima relação de peso/potência de 2,8 kg/cv, a mesma do atual 911 GT3. As rodas são em liga de alumínio, paralamas, capô e a asa traseira são de fibra de carbono, o isolamento acústico foi reduzido (voltaremos a falar sobre isso em instantes) e os bancos têm estrutura feita em fibra de carbono.
O pacote opcional Weissach (R$ 96.518 sem gaiola e R$ 121.128 com gaiola) deixa tudo ainda melhor, com rodas de 20” de magnésio (10 kg mais leves). O kit, presente na unidade das imagens, que é a mesma na qual andamos, também inclui as entradas de ar, o capô e a asa traseira em fibra de carbono aparente, além do adesivo com o nome Porsche no vidro traseiro.
Outro pacote, o Clubstport, adiciona extintor de incêndio, gaiola em aço atrás dos bancos e cinto de seis pontos para o motorista. Existem ainda outros 77 opcionais, que podem ser vistos no site da marca, e 115 opções de cores diferentes.
Por dentro, um misto de emoções. Enquanto a falta de conforto e comodidade dos bancos concha de fibra de carbono, com assento e encosto rígido, ajuste manual (apenas de trilho) e abas pronunciadas nos lembram o nível de esportivo em que estamos prestes a guiar, o painel, já com visual antigo, nos transporta ao passado. Há uma grande quantidade de botões físicos e o quadro de instrumentos mantém grande parte dos mostradores do tipo analógico. Não dá para reclamar.
Enfim, a hora de dirigir o extremo 718 Cayman GT4 RS. Ao girar a chave do lado esquerdo do painel, o despertar do esportivo já adianta o ronco que está por vir – e esse é um dos focos da Porsche com o modelo.
Antes, alguns números para se ter ideia da brutalidade do cupê: segundo a marca, ele vai de 0 a 100 km/h em 3,4 segundos e pode chegar aos 315 km/h de velocidade máxima (contra 3,9 s e 302 km/h, respectivamente, no 718 GT4 “comum).
Tais dados ficam muito claros com as acelerações fortes, mesmo que progressivas, que fizeram o GT4 RS chegar facilmente aos 200 km/h na reta principal do Autódromo Velo Città, no interior de São Paulo. O câmbio PDK trabalha rápido e de forma precisa, especialmente nos modos de condução mais voltados para o alto desempenho, o que também é de muita valia nas saídas de curva.
Por falar em curvas, elas podem ser um dos maiores prazeres do GT4 RS, que tem uma direção impecável no apontamento quase que milimétrico das direções, aliado ao conjunto rígido de suspensão que mantém o carro colado ao chão.
Ou seja, ele contorna curvas com precisão, mas também é necessário tomar cuidado: uma força a mais no pedal do acelerador pode te fazer sair de traseira, afinal, é lá que está a tração. Para quem quiser (e souber) brincar com isso, é um prato cheio para diversão.
O ponto alto do 718 Cayman GT4 RS está no ronco, definido (com razão) pela Porsche como uma “trilha sonora extremamente emocional”. Além do sistema de escape exclusivo, ele tem as tomadas de ar onde seriam as janelas laterais traseiras, logo atrás da cabeça dos ocupantes.
Isso, somado à redução do isolamento acústico, faz com que motorista e passageiro ouçam além do motor, o trabalho de admissão do ar logo atrás do ouvido, quase como um ASMR, aquela sensações prazerosas causadas por estímulos auditivos. Mas não é só isso. A evolução do ronco arrepia qualquer um.
Até por volta dos 5.000 rpm, um som típico de um seis-cilindros invade a cabine, com um tom agudo, mas ainda tendendo ao grave. Acima, até os 8.000 rpm, o agudo toma força e, entre 8.000 e os 9.000 rpm máximos, quando há o corte e a troca de marcha em acelerações mais fortes, o ronco transforma-se em um tom metálico e rasgado, é quase como um rugido de metal ecoando pela cabine por milésimos de segundo.
Ao lado do aclamado 911 GT3 RS, o 718 Cayman GT4 RS é o Porsche mais próximo possível de um carro de corrida, mas em uma embalagem mais compacta, com motor central e que pode ser ainda mais divertido. Ou seja, embora também tenha permissão para rodar nas ruas, será mais fácil encontrá-lo arrancando sorrisos e bradando aos seus 9.000 rpm em circuitos fechados pelo Brasil.