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Grandes Comparativos: Santana Executivo x Monza 500 EF

Os sedãs mais cobiçados do mercado brasileiro enfrentaram uma viagem de 7 .350 km pelas precárias e abandonadas estradas brasileiras

Por Da Redação
Atualizado em 13 jan 2017, 20h42 - Publicado em 23 dez 2016, 19h42
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  • De São Paulo a Recife, ida e volta, os sedãs encararam mais de 7.000 km de desafios
    De São Paulo a Recife, ida e volta, os sedãs encararam mais de 7.000 km de desafios (Marco de Bari)

    Na hora de passar pela rigorosa avaliação de QUATRO RODAS, os carros são equipados com os instrumentos de medição e vão para a pista acelerar, frear, medir o consumo, nível de ruído etc. Mas também há outro jeito de submetê-los a situações extremas: numa longa viagem passando por todos os tipos de estrada, de trânsito e condições climáticas.

    Em 1990, Santana 2000i Executivo e Monza Classic 500 EF seriam os carros mais sofisticados da nossa indústria a brilhar no Salão do Automóvel. A edição de outubro se antecipou e, antes do evento, levou os dois sedãs para uma prova de resistência. Foram 7.350 km em 12 dias.

    Os carros tinham injeção eletrônica – grande atrativo para a época – e eram os mais caros do país. Como disse o texto, “eles enfrentaram uma rotina de fazer inveja a muitos ralis”. A largada dessa espécie de rali foi em São Paulo. O roteiro seguiu por Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Dali, Santana e Monza pegaram o caminho de volta para Minas Gerais até chegar a São Paulo novamente. Tudo isso para responder uma só pergunta: qual dos dois era o melhor?

    Um dos problemas surgidos na viagem foi a oscilação da marcha lenta nos dois modelos
    Um dos problemas surgidos na viagem foi a oscilação da marcha lenta nos dois modelos (Marco de Bari)

    “A resposta só veio no final da viagem e alguns sustos depois”, afirma a reportagem. Um deles aconteceu na BR-101, ainda no início da viagem, conforme o relato em tom dramático: “De repente, a estrada acabou e uma cratera surgiu na frente do Monza. Não houve tempo para nada. O carro mergulhou de frente, estremeceu, subiu, voou de lado, mudou de pista, ficou no alvo dos faróis de uma carreta e, finalmente, se espatifou no asfalto – já com um pneu estourado, uma roda rachada e um motorista em pânico”. Um milagre que nada de mais grave tenha acontecido.

    A viagem foi corrida: na média, 600 km por dia
    A viagem foi corrida: na média, 600 km por dia (Marco de Bari/Quatro Rodas)
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    Ao longo de 12 dias, os carros cruzaram 170 cidades de oito estados e gastaram 1.500 litros de gasolina. Se a maratona já seria, por si só, uma difícil prova, as precárias condições das estradas também provocaram muitos prejuízos.

    Eles eram os carros mais caros e luxuosos do país na época
    Eles eram os carros mais caros e luxuosos do país na época (Marco de Bari)

    O Santana, com seus pneus baixos, enfrentou mais dificuldade: foram danificados duas rodas, um amortecedor, um coxim, uma válvula de pneu, um tubo de amortecedor, nove porcas e uma arruela. Total do conserto: Cr$ 70.014 (em valores de hoje, R$ 4.165).

    O Monza sofreu um pouco menos, mas precisou repor uma roda, dois pneus, filtro de combustível, os limpadores de para-brisa, filtro de óleo, silencioso de escape e uma válvula de pneu. Tamanho da conta: Cr$ 55 247 (R$ 3.286 atuais).

    Em Ouro Preto (MG), uma foto para o álbum de recordações
    Em Ouro Preto (MG), uma foto para o álbum de recordações (Marco de Bari)
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    Em muitos trechos, os carros passaram por algo que um dia havia lembrado uma rodovia: “Eram só amontoados de pedriscos do que fora asfalto, cercados de valas por todos os lados”, relatava o texto. Mesmo a 30 km/h, não havia como evitar as pancadas do assoalho no chão. A solução era manobrar para a frente e para trás, único jeito de desviar dos buracos.

    Tamanho abandono fez surgir uma imagem comum nos telejornais: com pás em punho, crianças invadiam a pista para tapar as crateras com terra em troca de uma gorjeta.

    Nas estradas, crianças tapavam buracos em troca de uma gorjeta
    Nas estradas, crianças tapavam buracos em troca de uma gorjeta (Marco de Bari)

    Não à toa a reportagem constatou que o tráfego na BR-101 e na 116 estava diminuindo. Com isso, tinha-se a percepção de que o número de ônibus e caminhões havia duplicado, causando forte sensação de insegurança nos motoristas de automóveis em ultrapassagens. “E ultrapassar numa estrada que nem mais asfalto tem é sempre um jogo arriscado: se der certo, ganha-se uma posição. Se não, pode-se perder a própria vida”.

    Outra anotação no diário de bordo foi a resistência do motorista nordestino quanto à utilização dos itens de segurança, como o cinto, nas cidades. E quem usava era olhado de lado: significa não saber dirigir direito.

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    Uma parada para um banho de mar na Praia do Francês, em Maceió
    Uma parada para um banho de mar na Praia do Francês, em Maceió (Marco de Bari)

    Gasolina batizada

    Outro problema que apareceu nos dois sedãs foi a oscilação da marcha lenta. Nesse caso, não dava para culpar as estradas, mas os postos de combustível. O relato dá a dimensão dos locais onde os abastecimentos foram feitos: “Só quem viu o estado de alguns postos pode avaliar que tipo de combustível haveria naquelas bombas – se gasolina, álcool, diesel, água, azeite de dendê ou tudo isso junto”.

    Apesar da procedência para lá de duvidosa da gasolina, os sedãs não negaram fogo, graças ao trabalho da injeção eletrônica. Se tivessem carburadores, dificilmente chegariam ao destino em apenas 12 dias. Ficariam pelo caminho mais de uma vez esperando pelo conserto.

    Nas bombas, o preço da gasolina subiu duas vezes em apenas 12 dias
    Nas bombas, o preço da gasolina subiu duas vezes em apenas 12 dias (Marco de Bari)

    Com ou sem azeite de dendê no tanque, o Santana – que teve o motor retrabalhado para ganhar a injeção eletrônica – apresentou ótimo desempenho, obrigando o Monza a um esforço extra para conseguir acompanhá-lo. E, quando isso acontecia, o modelo da GM tornava-se barulhento e mais beberrão. Na viagem, o Monza fez a média de 9,57 km/l, contra 10,11 km/l do sedã da Volkswagen.

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    Em tempos de inflação galopante, quanto mais beberrão, pior. O preço da gasolina aumentou duas vezes durante a jornada de 12 dias! De nada adiantou o Plano Collor, política econômica do novo presidente Fernando Collor de Mello e sua equipe, confiscar a poupança dos brasileiros no início do ano, prometendo acabar com a inflação com apenas um tiro. O governo gastou toda sua munição e os preços continuaram sem freios.

    Eles passaram por 170 cidades e oito estados. Juntos, gastaram 1.500 litros de gasolina
    Eles passaram por 170 cidades e oito estados. Juntos, gastaram 1.500 litros de gasolina (Marco de Bari)

    Terminada a aventura, a reportagem deu seu veredicto. Se o Santana foi mais econômico, o Monza deu o troco ao mostrar mais estabilidade e segurança nas curvas. Além disso, vencidos os mais de 7.000 km, ficou evidente que o Monza tinha o melhor som (primordial numa aventura como essa), ar-condicionado (idem), painel e visibilidade, embora tenha perdido para o Santana em maciez do câmbio e espaço interno.

    O Monza foi mais ruidoso e a localização dos comandos dos vidros elétricos (no console) e da regulagem do encosto de banco não agradou. Já o Santana ficou devendo na iluminação interna e na vedação do porta-malas, que não tinha como abrir por dentro do veículo. A posição de dirigir foi considerada deficiente nos dois. No Santana, só era possível regular a altura do assento, enquanto no Monza, apenas o volante.

    Os dois mostraram deficiências, mas no conjunto da obra, o Monza passou melhor pelo teste
    Os dois mostraram deficiências, mas no conjunto da obra, o Monza passou melhor pelo teste (Marco de Bari)
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    Nenhum deles voltou da maratona desfrutando de unanimidade, embora, no conjunto da obra, o Monza tenha passado melhor pelo teste. Por pouca coisa. O mais justo seria declarar empate técnico, sem ficar em cima do muro. Os dois foram legítimos campeões da resistência.

    Outubro de 1990…

    Santana Executivo x Monza 500 EF
    (Marco de Bari)

    “Um guarda de trânsito de Ouro Preto (MG) quis saber sobre o Santana: ‘É injetável?’ ‘Onde conseguiram essa asa?’, intrigou-se um frentista em Aracaju (SE), ao ver o aerofólio do Monza. Chamar atenção nas cidades, eles chamaram (…). Mas onde mais impressionaram foi nas estradas (…). Em certos pontos da BR-101 gastam-se horas para míseros quilômetros, num irritante jogo de identificação de buracos. Alguns, de tão grandes, são a própria estrada.”

     

    Teste QUATRO RODAS

    Santana Executivo Monza 500 EF
    Aceleração de 0 a 100 km/h 11,5 s 10,8 s
    Velocidade máxima 168,5 km/h 170 km/h
    Consumo médio 8,8 km/l 9,1 km/l
    Preço (setembro de 1990) CR$ 3.626.702 CR$ 2.926.253
    Preço (atualizado IPC-BRASIL) R$ 215.741 R$ 174.973

     

    Ficha Técnica

    Santana Executivo Monza 500 EF
    Motor dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 1 984 cm³, 82,5 x 92,8 mm, injeção eletrônica, 125 cv a 5.800 rpm, 19,5 mkgf a 3.000 rpm dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1 998 cm³, 86 x 86 cm, injeção eletrônica, 116 cv a 5 400 rpm, 17,8 mkgf a 3 000 rpm
    Câmbio manual de 5 marchas, tração dianteira manual de 5 marchas, tração dianteira
    Dimensões comprimento, 453 cm; largura, 169 cm; altura, 140 cm; entre-eixos, 255 cm; peso 1.150 kg comprimento, 437 cm; largura, 167 cm; altura, 136 cm; entre-eixos, 257 cm; peso, 1.160 kg
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