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Grandes Comparativos: réplicas nacionais do Shelby Cobra

O bote mortal de três réplicas do clássico Shelby Cobra; qual era o melhor?

Por Arnaldo Keller
Atualizado em 2 abr 2018, 11h45 - Publicado em 26 mar 2018, 18h50
QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
Newtrack (esq.), Americar e QSH: cópias fiéis das lendas criadas por Carrol Shelby (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Quando o texano Carroll Shelby levou os motores Ford V8 de 239 polegadas cúbicas (3,9 litros) e 240 cv de potência para a fábrica britânica AC Cars, em 1962, ele mal sabia que estava dando o primeiro passo para criar uma lenda.

A empresa tratou de adaptá-los a roadsters de carroceria de alumínio, que antes eram impulsionados por motores Bristol, de seis cilindros e só 120 cv.

O esportivo foi batizado de Cobra 289 e chegou a 240 km/h em seu primeiro teste. A Ford, que acompanhava de perto o desenvolvimento do projeto, gostou do resultado e apostou nele. Ela precisava ter um concorrente à altura para o Chevrolet Corvette.

A briga só estava começando. A GM não deixou por menos e lançou a versão Sting Ray, com motor opcional de 7 litros e brutais 425 cv.

Shelby encarou isso como uma provocação. Como adorava desafios, em 1965 ele apresentou o Cobra 427, com motor Ford de 7 litros e 485 cv. Esse Cobra acelerava de 0 a 100 km/h em 4,4 segundos.

O Corvette Sting Ray acusou o golpe: com 1.350 kg, gastava 1 segundo a mais, o que podia ser considerado uma eternidade num duelo entre dois superesportivos.

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Foram feitas 900 unidades dos Cobra 289 e 427 até o fim da produção, em 1967. A partir disso, começaram a pipocar fabricantes de réplicas nos Estados Unidos. E, quem diria, também no Brasil.

QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
Com traseira mais estreita, o QSH tem estilo mais fiel ao original (Marco de Bari/Quatro Rodas)

No Brasil, em 1981, a fabricante de bugues Glaspac lançou sua réplica. O ótimo acabamento e a fidelidade de detalhes fizeram com que hoje um Cobra Glaspac seja considerado um clássico, tal qual o Super 90 da Envemo é das réplicas de Porsche 356. 

Na edição de janeiro de 2007, QUATRO RODAS avaliou fiéis reproduções cedidas pelas fabricantes QSH, Newtrack e Americar. Todas usavam motor Ford 302 (o mesmo de Landau e Maverick GT), com preparações que davam a cada modelo uma potência diferente.

O motor do QSH MK2 era forte o bastante para levá-lo a 380 cv a 6.500 rpm, instalado num veículo de apenas 1.010 kg (peso similar ao de um VW Fox), bem distribuídos na proporção de 47% no eixo dianteiro e 53% no traseiro.

QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
Motor V8 302 do QSH era o mais potente: 320 cv (Marco de Bari/Quatro Rodas)

“Os pedais estão bem posicionados e não há assistência na direção nem nos freios, o que é ótimo, pois assim sentimos melhor as reações do carro”, elogiava o texto.

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Segundo a reportagem, das três réplicas, o MK2 era o mais parecido com o original, tanto nas linhas como no chassi (tubular de seção circular) e na suspensão (independente com duplo A na frente e atrás).

O fabricante também se lembrou das minúcias das rodas de magnésio ajustadas por borboletas de cubo rápido, como as Halibrand legítimas. Só havia um detalhe que contrastava com o verdadeiro Cobra: o ar de sofisticação do interior muito bem-acabado.

QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
Requintado, cockpit do QSH é recheado de hodômetros e interruptores (Marco de Bari/Quatro Rodas)

As avaliações foram feitas na pista da Pirelli, em Sumaré (SP), cuja reta principal tem 800 metros. Por isso, só foi possível medir a aceleração de 0 a 100 km/h e a arrancada de 0 a 400 metros.

Com os pneus calibrados a 23 libras/pol², o QSH registrou o 0 a 100 km/h em 5,4 segundos, de longe a melhor marca entre os três. Em seguida, foi de 0 a 400 metros em 13,7 segundos. Esse Cobra voador transmitiu segurança nas curvas, mas era preciso segurar o ímpeto de acelerar além da conta.

Nada fácil conter uma serpente com 380 cv. Bastava uma pressãozinha a mais no acelerador para o carro, desobediente, sair de traseira. Mas a suspensão independente atrás tratava de colocá-lo no prumo novamente.

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Do MK2, o piloto de testes saltou para dentro do Newtrack. Trata-se de um chassi com estrutura tubular de seção retangular. O modelo era equipado com motor V8 de 199 cv a 4.200 rpm sem preparação especial.

QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
Newtrack tinha a mecânica mais mansa: 199 cv (Marco de Bari/Quatro Rodas)

A caixa de câmbio Clark, de quatro marchas, fora herdada do Maverick. As suspensões dianteira e traseira vieram do Opala, enquanto os freios eram a disco nas quatro rodas.

A reportagem descreveu as diferenças nos pneus: “Os pneus Toyo Proxes S/T, atrás, e Toyo Proxes TPT, na frente, são mais macios no rodar que os Toyo Proxes 4, graças ao perfil mais alto. Mas garantem menor aderência, por sua borracha ser dura. Enquanto o QSH calça 225/45 R17 na frente e 245/25 R17 atrás, o Newtrack vem com 215/60 R15 e 295/50 R15, respectivamente”.

Peso pesado

Os para-lamas traseiros eram largos para acomodar melhor o eixo traseiro do Opala. O Newtrack pesava mais que os outros dois: 1.150 kg bem distribuídos, com 49% na frente e 51% atrás.

Embora mais tranquilo que o do QSH, o motor também era forte e foi necessário domá-lo nas acelerações: gastou 9,4 segundos de 0 a 100 km/h e 19,3 de 0 a 400 metros. São números abaixo da primeira réplica testada, mas não eram ruins em se tratando de um conversível dono de um comportamento mais compatível com um automóvel de passeio.

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QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
O Newtrack tem interior mais discreto, com revestimento de couro (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Em altas velocidades, porém, mostrou-se menos estável. A partir dos 180 km/h, sua frente começava a apresentar instabilidade, ao contrário do QSH, que se manteve firme até 220 km/h.

Depois foi a vez de o Classic 427, da Americar, entrar na pista. A única modificação no motor foi a taxa de compressão mais alta e um carburador Holley quadrijet. Com isso, passou a ter 230 cv a 4 .00 rpm, embora a fabricante oferecesse aos interessados opções de motor com mais de 400 cv.

O 427 pesava 1.030 kg, equilibrados em 47% na dianteira e 53% na traseira. Calçada com pneus Michelin de grande aderência, a réplica do Cobra deu o bote na aceleração de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos e de 0 a 400 metros em 17,3 segundos. “Os tempos seriam melhores, não fosse uma leve patinada da embreagem”, dizia o texto.

QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
Motor V8 do Americar produz 230 cv com carburador Quadrijet (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com suspensão de Opala na frente e de Maverick V8 atrás, o Americar apresentou um comportamento semelhante ao do Newtrack, com tendência a sair de frente, por causa dos pneus traseiros mais largos e do eixo traseiro pesado.

“Os freios eram bons, mas a atuação do servofreio é muito violenta, daí termos que cuidar e pensar antes de frear, para não exagerar. A estabilidade direcional foi boa, situada entre os outros dois”, afirmava a reportagem.

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QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427
No Americar, o painel é de madeira (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O veredicto foi mais favorável ao QSH MK2, o mais eficiente na avaliação dinâmica. A explicação estava no bem-resolvido conjunto chassi-suspensão independente nas quatro rodas. Ele também tinha melhor acabamento e linhas mais fiéis ao modelo original.

O Newtrack foi eleito o mais confortável entre os três e o Americar Classic 427 conquistou o segundo lugar em desempenho. Mister Shelby certamente sentiria orgulho de ver as lendas que ajudou a criar tão bem representadas.

Nós dissemos… janeiro de 2007

“Nunca tivemos um Cobra original rodando no Brasil. Para dirigir um autêntico por aqui, o comprador deve pagar lá fora R$ 1,5 milhão (…). Portanto, na prática, são as réplicas que dão o ar da graça em nossas ruas e estradas. Bonitas de ver, mais ainda de pilotar. Fãs de emoções fortes encontram nas réplicas a pilotagem visceral dos roadsters das décadas de 1950 e 1960. Como os originais, são carros despojados de recursos modernos, como freios com ABS e controle de tração.”

Teste de pista (com gasolina)

QSH Mk2 Newtrack Americar 427
Aceleração de 0 a 100 km/h 5,4 s 9,4 s 9,1 s
Aceleração de 0 a 1.000 m 13,7 s 19,3 s 17,3 s
Preço (janeiro 2007) R$ 95.500 R$ 72.000 R$ 75.000
Preço (atualizado IPC-Brasil) R$ 180.534 R$ 136.826 R$ 143.029

Ficha Técnica

QSH Mk2 Newtrack Americar 427
Motor V8 Ford 302, 4.949 cm³, 380 cv a 6.500 rpm, 48 mkgf a rpm, carburador Holley quadrijet V8 Ford 302, 4.949 cm³, 199 cv a 4.600 rpm, 39,5 mkgf a 2.400 rpm, carburador Motorcraft bijet V8 Ford 302, 4.949 cm³; 230 cv a 4.600 rpm; 43 mkgf a 2.600 rpm; carburador Holley quadrijet
Câmbio manual de 5 marchas, tração traseira; peso, 1.010 kg manual de 4 marchas, tração traseira; peso, 1.150 kg manual de 5 marchas, tração traseira; peso, 1.030 kg
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