Grandes Comparativos: réplicas nacionais do Shelby Cobra
O bote mortal de três réplicas do clássico Shelby Cobra; qual era o melhor?
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-7.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Quando o texano Carroll Shelby levou os motores Ford V8 de 239 polegadas cúbicas (3,9 litros) e 240 cv de potência para a fábrica britânica AC Cars, em 1962, ele mal sabia que estava dando o primeiro passo para criar uma lenda.
A empresa tratou de adaptá-los a roadsters de carroceria de alumínio, que antes eram impulsionados por motores Bristol, de seis cilindros e só 120 cv.
O esportivo foi batizado de Cobra 289 e chegou a 240 km/h em seu primeiro teste. A Ford, que acompanhava de perto o desenvolvimento do projeto, gostou do resultado e apostou nele. Ela precisava ter um concorrente à altura para o Chevrolet Corvette.
A briga só estava começando. A GM não deixou por menos e lançou a versão Sting Ray, com motor opcional de 7 litros e brutais 425 cv.
Shelby encarou isso como uma provocação. Como adorava desafios, em 1965 ele apresentou o Cobra 427, com motor Ford de 7 litros e 485 cv. Esse Cobra acelerava de 0 a 100 km/h em 4,4 segundos.
O Corvette Sting Ray acusou o golpe: com 1.350 kg, gastava 1 segundo a mais, o que podia ser considerado uma eternidade num duelo entre dois superesportivos.
Foram feitas 900 unidades dos Cobra 289 e 427 até o fim da produção, em 1967. A partir disso, começaram a pipocar fabricantes de réplicas nos Estados Unidos. E, quem diria, também no Brasil.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/mdb1492-1.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
No Brasil, em 1981, a fabricante de bugues Glaspac lançou sua réplica. O ótimo acabamento e a fidelidade de detalhes fizeram com que hoje um Cobra Glaspac seja considerado um clássico, tal qual o Super 90 da Envemo é das réplicas de Porsche 356.
Na edição de janeiro de 2007, QUATRO RODAS avaliou fiéis reproduções cedidas pelas fabricantes QSH, Newtrack e Americar. Todas usavam motor Ford 302 (o mesmo de Landau e Maverick GT), com preparações que davam a cada modelo uma potência diferente.
O motor do QSH MK2 era forte o bastante para levá-lo a 380 cv a 6.500 rpm, instalado num veículo de apenas 1.010 kg (peso similar ao de um VW Fox), bem distribuídos na proporção de 47% no eixo dianteiro e 53% no traseiro.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-11.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
“Os pedais estão bem posicionados e não há assistência na direção nem nos freios, o que é ótimo, pois assim sentimos melhor as reações do carro”, elogiava o texto.
Segundo a reportagem, das três réplicas, o MK2 era o mais parecido com o original, tanto nas linhas como no chassi (tubular de seção circular) e na suspensão (independente com duplo A na frente e atrás).
O fabricante também se lembrou das minúcias das rodas de magnésio ajustadas por borboletas de cubo rápido, como as Halibrand legítimas. Só havia um detalhe que contrastava com o verdadeiro Cobra: o ar de sofisticação do interior muito bem-acabado.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-21.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
As avaliações foram feitas na pista da Pirelli, em Sumaré (SP), cuja reta principal tem 800 metros. Por isso, só foi possível medir a aceleração de 0 a 100 km/h e a arrancada de 0 a 400 metros.
Com os pneus calibrados a 23 libras/pol², o QSH registrou o 0 a 100 km/h em 5,4 segundos, de longe a melhor marca entre os três. Em seguida, foi de 0 a 400 metros em 13,7 segundos. Esse Cobra voador transmitiu segurança nas curvas, mas era preciso segurar o ímpeto de acelerar além da conta.
Nada fácil conter uma serpente com 380 cv. Bastava uma pressãozinha a mais no acelerador para o carro, desobediente, sair de traseira. Mas a suspensão independente atrás tratava de colocá-lo no prumo novamente.
Do MK2, o piloto de testes saltou para dentro do Newtrack. Trata-se de um chassi com estrutura tubular de seção retangular. O modelo era equipado com motor V8 de 199 cv a 4.200 rpm sem preparação especial.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-31.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
A caixa de câmbio Clark, de quatro marchas, fora herdada do Maverick. As suspensões dianteira e traseira vieram do Opala, enquanto os freios eram a disco nas quatro rodas.
A reportagem descreveu as diferenças nos pneus: “Os pneus Toyo Proxes S/T, atrás, e Toyo Proxes TPT, na frente, são mais macios no rodar que os Toyo Proxes 4, graças ao perfil mais alto. Mas garantem menor aderência, por sua borracha ser dura. Enquanto o QSH calça 225/45 R17 na frente e 245/25 R17 atrás, o Newtrack vem com 215/60 R15 e 295/50 R15, respectivamente”.
Peso pesado
Os para-lamas traseiros eram largos para acomodar melhor o eixo traseiro do Opala. O Newtrack pesava mais que os outros dois: 1.150 kg bem distribuídos, com 49% na frente e 51% atrás.
Embora mais tranquilo que o do QSH, o motor também era forte e foi necessário domá-lo nas acelerações: gastou 9,4 segundos de 0 a 100 km/h e 19,3 de 0 a 400 metros. São números abaixo da primeira réplica testada, mas não eram ruins em se tratando de um conversível dono de um comportamento mais compatível com um automóvel de passeio.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-6.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Em altas velocidades, porém, mostrou-se menos estável. A partir dos 180 km/h, sua frente começava a apresentar instabilidade, ao contrário do QSH, que se manteve firme até 220 km/h.
Depois foi a vez de o Classic 427, da Americar, entrar na pista. A única modificação no motor foi a taxa de compressão mais alta e um carburador Holley quadrijet. Com isso, passou a ter 230 cv a 4 .00 rpm, embora a fabricante oferecesse aos interessados opções de motor com mais de 400 cv.
O 427 pesava 1.030 kg, equilibrados em 47% na dianteira e 53% na traseira. Calçada com pneus Michelin de grande aderência, a réplica do Cobra deu o bote na aceleração de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos e de 0 a 400 metros em 17,3 segundos. “Os tempos seriam melhores, não fosse uma leve patinada da embreagem”, dizia o texto.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-5.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Com suspensão de Opala na frente e de Maverick V8 atrás, o Americar apresentou um comportamento semelhante ao do Newtrack, com tendência a sair de frente, por causa dos pneus traseiros mais largos e do eixo traseiro pesado.
“Os freios eram bons, mas a atuação do servofreio é muito violenta, daí termos que cuidar e pensar antes de frear, para não exagerar. A estabilidade direcional foi boa, situada entre os outros dois”, afirmava a reportagem.
![QSH Mk2 x Newtrack x Americar Classic 427](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/qr560_cobras-4.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
O veredicto foi mais favorável ao QSH MK2, o mais eficiente na avaliação dinâmica. A explicação estava no bem-resolvido conjunto chassi-suspensão independente nas quatro rodas. Ele também tinha melhor acabamento e linhas mais fiéis ao modelo original.
O Newtrack foi eleito o mais confortável entre os três e o Americar Classic 427 conquistou o segundo lugar em desempenho. Mister Shelby certamente sentiria orgulho de ver as lendas que ajudou a criar tão bem representadas.
Nós dissemos… janeiro de 2007
“Nunca tivemos um Cobra original rodando no Brasil. Para dirigir um autêntico por aqui, o comprador deve pagar lá fora R$ 1,5 milhão (…). Portanto, na prática, são as réplicas que dão o ar da graça em nossas ruas e estradas. Bonitas de ver, mais ainda de pilotar. Fãs de emoções fortes encontram nas réplicas a pilotagem visceral dos roadsters das décadas de 1950 e 1960. Como os originais, são carros despojados de recursos modernos, como freios com ABS e controle de tração.”
Teste de pista (com gasolina)
QSH Mk2 | Newtrack | Americar 427 | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 5,4 s | 9,4 s | 9,1 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 13,7 s | 19,3 s | 17,3 s |
Preço (janeiro 2007) | R$ 95.500 | R$ 72.000 | R$ 75.000 |
Preço (atualizado IPC-Brasil) | R$ 180.534 | R$ 136.826 | R$ 143.029 |
Ficha Técnica
QSH Mk2 | Newtrack | Americar 427 | |
Motor | V8 Ford 302, 4.949 cm³, 380 cv a 6.500 rpm, 48 mkgf a rpm, carburador Holley quadrijet | V8 Ford 302, 4.949 cm³, 199 cv a 4.600 rpm, 39,5 mkgf a 2.400 rpm, carburador Motorcraft bijet | V8 Ford 302, 4.949 cm³; 230 cv a 4.600 rpm; 43 mkgf a 2.600 rpm; carburador Holley quadrijet |
Câmbio | manual de 5 marchas, tração traseira; peso, 1.010 kg | manual de 4 marchas, tração traseira; peso, 1.150 kg | manual de 5 marchas, tração traseira; peso, 1.030 kg |