As rádios de músicas antigas têm um desafio constante. Algumas optam por ter na programação só clássicos das décadas passadas, enquanto outras incluem hits atuais para atrair ouvintes mais novos.
O segmento de sedãs executivos fora da tríade Audi-BMW-Mercedes enfrenta uma situação similar: Honda e Toyota seguem uma escola mais conservadora com o Accord e Camry, com menos ousadias, enquanto a Volkswagen usa o Passat como uma vitrine tecnológica.
Convocamos o Passat 2019, que recebeu mais equipamentos, para um duelo com o novo Camry – o Accord ficou de fora por causa da iminente troca de geração do sedã.
O Toyota é mais novo, mas sai perdendo pelo preço: R$ 199.990, ante os R$ 164.620 do Volkswagen. Mas pesa a favor do japonês o V6 3.5 de 310 cv, enquanto o Passat manteve o 2.0 16V com 220 cv.
O câmbio da dupla é sempre automático, mas com conceitos diferentes: por conversor de torque e oito marchas no Camry, e automatizado com dupla embreagem e seis marchas no VW.
As escolas da dupla também são distintas da porta para dentro, com o alemão voltado a quem dirige, enquanto o japonês valoriza quem anda de passageiro. E essa diferença foi essencial para definir o campeão deste comparativo, como veremos a seguir.
A oitava geração do Passat reúne plataforma, motor e câmbio do Golf GTI em uma embalagem familiar. Isso significa que os estampidos nas trocas de marcha foram suavizados, mas a resposta da suspensão firme e da direção direta faz com que qualquer motorista veterano rejuvenesça uma dezena de anos.
Mesmo popularizado, o painel digital ainda chama a atenção, e ganhou a companhia de um sistema multimídia que reconhece alguns gestos feitos no ar, como ao virar uma página invisível com os dedos e, com isso, trocar a tela do computador de bordo.
A praticidade do recurso é quase nula, ao contrário do farol de led com facho alto automático e do controlador de velocidade adaptativo com frenagem automática de emergência, que passaram a ser de série no Passat.
O Camry, por outro lado, não tem nada disso. Mas quem viajar em seu banco traseiro não sentirá falta de um rádio moderno, do freio com Auto Hold ou da vetorização de torque.
A falta desses itens (e de outros mais frugais, como as portas sem travas automáticas) é um problema do motorista, já que o melhor lugar para quem investir quase R$ 200.000 no Camry está no assento de trás.
Ele só tem 3,4 cm a mais de entre-eixos (são 2,82 m no total), mas o encosto traseiro reclinável comandado por um requintado controle embutido no apoio de braço central dá ao Toyota um ar de “carro da diretoria” que falta à cabine do Passat.
Essa sensação é reforçada pelo rodar suave da suspensão macia, típica de um carro americano. Não à toa, o Camry é o Toyota mais vendido nos Estados Unidos, um mercado onde nem um Passat feito especificamente para lá conseguiu dominar.
Quem quiser ficar no comando terá em mãos um modelo menos ágil nas curvas, mas que entrega uma aceleração até os 100 km/h cumprida em ótimos sete segundos. Mesmo que isso seja só 0,1 segundo mais rápido que o Passat, o ronco do V6 entrega uma trilha sonora que vem desaparecendo gradualmente no segmento. E por um motivo nobre.
Ainda que o motor do Camry seja moderno e tenha quase todos os recursos do quatro-cilindros alemão, a ausência do turbo pesa contra o consumo do Toyota, mais elevado tanto em ciclo urbano quanto rodoviário.
O Passat também é mais econômico na hora de fazer revisões e na cesta básica de peças. Seu seguro é mais elevado, mas o proprietário do Camry teria que ficar 20 anos com o modelo para usar essa vantagem para empatar os gastos com a compra do carro.
O preço elevado do Toyota, inclusive, é o seu maior ponto fraco. Ele tem um design marcante, que destoa do Passat, e trata – muito bem – seus ocupantes. Mas não há argumento racional que justifique um modelo que tenha acabamento e desempenho similar ao Passat, mas que gaste mais combustível, seja R$ 35.370 mais caro e bem menos equipado.
O Volks sai deste comparativo como o vencedor com grande vantagem, mas o Camry ainda toca no coração dos fãs dos sedãs executivos clássicos, onde ser conduzido é tão ou mais prazeroso quanto conduzir. É uma fórmula que ainda tem seus consumidores, mas que, como nas rádios, limita o alcance do seu produto.
Veredicto
O novo Camry ficou ousado como nenhum outro Toyota e entrega um rodar macio e vigoroso. Mas o Passat anda junto, é mais prazeroso de guiar, tem muito mais equipamentos e custa bem menos.
Ficha técnica
Toyota Camry | VW Passat | |
Preço | R$ 199.990 | R$ 164.620 |
Motor | gasolina, dianteira, transversal, V6, 3.456 cm3, 24V, 310 cv a 6.600 rpm, 37,7 mkgf a 4.700 rpm | gasolina, dianteiro, transversal, quatro cilindros, 1.984 cm3, 16V, turbo, 220 cv a 4.500 rpm, 35,7 mkgf a 1.500 rpm |
Câmbio | aut., 8 marchas, tração dianteira | automatizado, dupla embreagem, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (diant.) e braços sobrepostos (tras.) | McPherson (diant.) e multibraço (tras.) |
Freios | disco vent. (diant.) sólido (tras.) | disco vent. (diant.) sólido (tras.) |
Direção | hidráulica, diâm. de giro 12,4 m | elétrica, diâm. de giro 10,4 m |
Pneus | 235/45 R18 (diant.) | 235/45 R18 (diant.) |
Dimensões | compr., 488,5 cm; largura, 184,0 cm; alt.,145,5 cm; entre-eixos, 282,5 cm; altura livre do solo, 15 cm; peso, 1.645 kg; tanque, 60 l; porta-malas, 593 l | compr., 476,7 cm; larg., 83,2 cm; alt., 147,6 cm; entre-eixos, 279,1 cm; alt. livre do solo, 13 cm; peso, 1.529 kg; tanque, 66 l; porta-malas, 586 l |
Teste
Toyota Camry | VW Passat | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 7 s | 7,1 s |
Aceleração de 0 a 1.000 km/h | 27 s – 204,6 km/h | 27 s – 202 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h | 3,2 s | 2,8 s |
Retomada de 60 a 100 km/h | 3,4 s | 3,5 s |
Retomada de 80 a 120 km/h | 4,4 s | 4,3 s |
Frenagem 60/80/120 km/h | 15,8/27,5/64,1 m | 14,8/24,7/59 m |
Consumo urbano | 8,2 km/l | 9,7 km/l |
Consumo rodoviário | 13,7 km/l | 13 km/l |
Custos
Toyota Camry | VW Passat | |
Seguro | R$ 9.819 | R$ 11.511 |
Revisões | R$ 5.075 | R$ 3.741 |
Peças | R$ 26.282 | R$ 11.557 |