Vendo as linhas de produtos de Land Rover e Volvo e a transformação das duas marcas na última década, é até difícil acreditar que já pertenceram à mesma empresa.
As duas, ao lado de Aston Martin, Jaguar, Lincoln e da falecida Mercury, formavam o Premier Automotive Group, divisão das marcas de luxo comandadas pela Ford.
A Land Rover foi comprada da BMW em 2000 e vendida em 2008 à Tata Motors, da Índia, junto com a Jaguar – que havia sido incorporada em 1989.
Já a operação de automóveis da Volvo, comprada em 1999, só foi vendida em 2010 à fabricante Geely naquela que foi a maior aquisição de empresa estrangeira por uma chinesa na história até aquele momento.
Faz tempo, mas a efetiva independência técnica das duas marcas é recente.
Os novos Land Rover Discovery Sport e Volvo XC60 ajudam a ilustrar o caminho das duas fabricantes, mas sem evitar agora o natural enfrentamento entre os dois SUVs médios de luxo.
O próprio Discovery Sport ocupa desde 2014 o posto que, nos tempos da Ford, era do Freelander. A linha 2020 marca a chegada de sua reestilização de meia-vida, com novos faróis full-led, para-choque frontal com tomadas de ar verticais e lanternas traseiras de led com elementos horizontais que ajudaram a dar ar de novidade ao modelo.
No interior, há uma série de boas mudanças. É o caso do quadro de instrumentos digital com tela de 12,3 polegadas personalizável e da nova central InControl Touch Pro com tela de 10,25 polegadas, posicionada abaixo das saídas de ar centrais, que passa, enfim, a permitir ao dono de um Discovery Sport usar Android Auto ou Apple CarPlay, em vez de ficar dependente da integração da interface com aplicativos específicos.
Em nossa avaliação, contudo, o sistema apresentou travamentos e ficou mudo algumas vezes.
Volante e console central ganharam botões sensíveis ao toque e outros com funções duplas. É possível ajustar o volume do som deslizando os dedos ou pressionando o botão. Já o comando de temperatura do lado do motorista também controla a velocidade da ventilação.
E o do carona se transforma no seletor do modo de funcionamento do sistema de tração 4×4 Terrain Response 2 ao toque de um botão ao lado.
O seletor giratório do câmbio lembrava o do Ford Fusion, mas a versão que saltava do console ao ligar o carro e estreou no Evoque foi trocada por uma alavanca do tipo joystick, que sempre retorna ao centro e aciona automaticamente o freio de estacionamento.
Enquanto o Land Rover é montado no Brasil, em Itatiaia (RJ), o Volvo XC60 chega importado diretamente da China. E o toque oriental otimizou bastante a linha da marca.
Se a primeira geração do SUV era tão Ford que compartilhava a plataforma EUCD com o Mondeo e com o Land Rover Freelander 2, esta segunda é baseada na arquitetura modular SPA, criada sob a gestão da Geely, e já presente em todos os modelos da marca, exceto no XC40, que usa sua própria base compacta.
A SPA não só universaliza os parâmetros de segurança e os equipamentos como também uma família de motores 2.0 de quatro cilindros, com opções a diesel e gasolina criadas com a mesma arquitetura, o câmbio automático de oito marchas e a tração integral. Mas falaremos melhor deles adiante.
Por dentro, o XC60 Momentum não é tão requintado quanto o rival Discovery Sport, que usa couro de toque mais delicado e materiais mais macios no painel e nas portas, com direito a partes com costuras vermelhas na faixa central do painel e entre as peças que imitam algo como fibra de carbono.
O SUV de ascendência sueca é mais comedido nos detalhes. Não abre mão de materiais de toque macio ou do couro, mas não há tantos detalhes vistosos, além da faixa de alumínio escovado no painel.
Posições diferentes
Por outro lado, o compartilhamento de arquitetura trouxe para o XC60 sistemas em comum com o irmão maior XC90.
É o caso do quadro de instrumentos digital de 12,3 polegadas e da central multimídia Sensus Connect, com tela de 9 polegadas vertical e interface bastante rápida e intuitiva, e que também é compatível com Android Auto e CarPlay.
Mas o mais importante é a presença do pacote IntelliSafe de série desde essa versão de entrada tabelada em R$ 260.950 com motor a gasolina.
Ele integra a leitura das placas de sinalização da via e o piloto automático adaptativo com funções semiautônomas, como correção da direção para manter o carro bem no centro da faixa de rolagem, tráfego cruzado e frenagem autônoma de emergência com visão noturna. Além dos airbags frontais, laterais e de cortina, tem um para pedestre em caso de atropelamento.
No caso do Discovery Sport SE R-Dynamic, versão topo de linha que custa R$ 266.985 com motor a gasolina, a oferta de sistemas tecnológicos é mais contida.
Tem frenagem de emergência, assistente de permanência em faixa e monitor de tráfego cruzado, mas piloto automático adaptativo nem sequer é opcional. Assistente de baliza, porém, é de série.
O motorista não tem do que se queixar nos dois carros. Mas cada um conta com posição de dirigir completamente diferente. O XC60 dispõe de maior amplitude de ajuste de altura para o assento e permite sentar mais próximo do assoalho.
O ajuste é elétrico, mas só há memórias para o motorista, enquanto no rival o carona também tem. Por outro lado, se a posição de dirigir é bem mais elevada, a amplitude dos ajustes de altura e profundidade da direção do Land Rover é maior.
Os dois SUVs têm espaço equivalente no banco traseiro, bom para ombros, cabeça e pernas de três pessoas, a despeito do túnel central um pouco mais elevado no Volvo.
O sueco vem com duas portas USB escondidas dentro do apoio de braço dianteiro e uma tomada 12 V para os ocupantes do banco de trás, com saídas de ar traseiras logo acima.
No rival de origem inglesa, porém, há duas USBs no apoio de braço e mais duas traseiras, além da tomada 12 V. Já as saídas de ar de trás ficam na coluna das portas.
O Discovery ainda tem a terceira fileira de bancos (com direito a saídas de ar independentes, frise-se), mas apenas crianças conseguem acessar e se acomodar confortavelmente ali.
Correr a segunda fila para a frente limita o espaço para pernas e não resolve a vida de um adulto, que só vai concordar em viajar ali em último caso. Por outro lado, os dois assentos extras se escondem no assoalho do porta-malas e não roubam espaço de carga.
Dupla dinâmica
A Land Rover se modernizou sem abandonar sua relação intrínseca com o off-road. Além do seletor dos modos de funcionamento da tração, o Discovery lida melhor com a buraqueira, mas nem tanto com a rolagem da carroceria.
Já o XC60 demonstra acerto voltado para o prazer de dirigir: é mais apoiado e tem reações mais neutras em sequências de curvas, oferecendo em troca um rodar mais firme.
Sua direção não é tão rápida quanto a do Land Rover, mas é possível alternar seu peso, que também pode estar vinculado aos modos de condução – outro item que não existe no rival –, que atuam na resposta do pedal de acelerador e do câmbio.
Por sinal, a mecânica dos dois é muito parecida, mas os resultados obtidos pelos veículos são completamente diferentes.
O Discovery Sport usou o motor 2.0 Ecoboost de 240 cv fornecido pela Ford – mesmo do Fusion – até o final de 2018. Foi quanto a Land Rover estreou a família de motores modulares Ingenium, com versões de três, quatro e seis cilindros e variantes a diesel e gasolina.
No caso da versão SE R-Dynamic testada, o 2.0 turbo é flex e gera 249 cv e 37,2 kgfm de torque, com etanol ou gasolina, e está casado com câmbio automático de nove marchas.
Em nossa pista de testes, precisou de 9,4 s para levar os 1.864 kg aos 100 km/h. O consumo de ciclo urbano com gasolina ficou em 6,6 km/l e em 10 km/l no rodoviário.
O Volvo XC60 confia seus 1.863 kg ao 2.0 a gasolina de 254 cv e 35,7 kgfm combinado com o câmbio automático de oito marchas, que, juntos, fazem o que parece ser mágica: alcança os 100 km/h em 7,6 s, quase 2 s mais rápido que o Land Rover.
Números de consumo são consideravelmente melhores, com 8,7 km/l em ciclo urbano e 12,4 km/l no rodoviário. Também vale comparar os números de retomada e frenagem nas fichas ao lado, sempre melhores no Volvo.
Enquanto o Land Rover Dicovery Sport é mais fiel ao conceito original de um SUV de luxo, o Volvo XC60 mostra que é, sim, possível ter prazer e se divertir ao volante de um SUV, e vence este comparativo por não deixar de lado aspectos importantes como espaço interno e sistemas de segurança.
De tão diferentes, nem parece que no passado os dois poderiam ser considerados irmãos.
Ficha técnica
Discovery Sport | XC60 | |
Preço | R$ 266.985 | R$ 260.950 |
Motor | flex, diant., transv., 4 cil. em linha, 1.997 cm3, 16V, 83 x 92,3 mm, 10,5:1, 249 cv a 5.500 rpm, 37,2 kgfm a 1.250 rpm | gas, diant., transv., 4 cil. em linha, 1.969 cm3, 16V, 82,0 x 93,2 mm, 10,8:1, 254 cv a 5.500 rpm, 35,7 kgfm a 1.500 rpm |
Câmbio | automático, 9 marchas, tração integral sob demanda | automático, 8 marchas, tração integral permanente |
Suspensão | McPherson (diant.) e multilink (tras.) | duplo A (diant.)/ multilink (tras.) |
Freios | disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.) | disco ventilado |
Direção | elétrica, diâm. de giro 11,8 m | elétrica, diâm. de giro 11,4 m |
Pneus | 245/45 R20 | 235/55 R19 |
Dimensões | comprimento, 459,7 cm; largura, 189,6 cm; altura, 172,7 cm; entre-eixos, 274,1 cm; altura livre do solo, 21,1 cm; peso, 1.864 kg; tanque, 67 l; porta-malas 454 l | comprimento, 468,8 cm; largura, 190,2 cm; altura, 165,8 cm; entre-eixos, 286,5 cm; altura livre do solo, 21,6 cm; peso, 1.863 kg; tanque, 60 l; porta-malas, 505 l |
Teste
Discovery Sport | XC60 | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,4 s | 7,6 s |
Aceleração de 0 a 1.000 km/h | 30,8 s – 172,2 km/h | 28,8 s – 181,6 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h | 4,1 s | 3,4 s |
Retomada de 60 a 100 km/h | 5,1 s | 4,3 s |
Retomada de 80 a 120 km/h | 6,7 s | 5,4 s |
Frenagem 60/80/120 km/h | 15,3/27,8/63,8 m | 14,2/24,3/55,7 m |
Consumo urbano | 6,8 km/l | 8,7 km/l |
Consumo rodoviário | 10 km/l | 12,4 km/l |
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