Carros capazes de levar até sete ocupantes eram mais comuns antes de as minivans se tornarem modelos em iminente risco de extinção. Os Chevrolet Spin e Fiat Doblò, hoje as opções mais baratas para quem tem família numerosa, são sobreviventes daqueles tempos. Viveram para ver os veículos de sete lugares voltando a ser desejados em todo o mundo – inclusive no Brasil.
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Se antes havia uma grande lacuna para quem buscava carros maiores (e melhores) e não tinha pelo menos R$ 300.000 na conta, agora há bons reforços para o patamar intermediário, entre R$ 200.000 e R$ 300.000.
Os principais representantes estão neste comparativo. O Caoa Chery Tiggo 8 é o atual líder da categoria e o Jeep Commander, o estreante que promete roubar o posto do rival.
Na mesma faixa de preço, o Volkswagen Tiguan não entrou por estar fora do catálogo da marca temporariamente, à espera de mudanças na linha.
Assim, o embate fica entre o chinês produzido em Anápolis (GO) e o americano feito em Goiana (PE). Os dois são bem diferentes, mas buscam o mesmo propósito. No fim, qual deles merece levar uma grande família para passear?
As diferenças começam nos preços. Enquanto o Tiggo 8 é vendido em versão única, TXS, por R$ 197.990, o Jeep Commander Overland é o topo de linha com motorização turbo flex e sai por R$ 233.990 – ela foi escolhida para que ambos os SUVs pudessem mostrar tudo o que têm para oferecer aos compradores.
No visual, os dois deixam bem claro que vieram de escolas de estilo diferentes. O Caoa Chery aposta em uma aparência mais chamativa, com grandes faróis e lanternas, grade volumosa e o característico friso cromado que sustenta o logotipo da marca e parece rasgar a dianteira.
As rodas de 18 polegadas têm desenho comum. O resultado é bom e dá um porte robusto ao SUV. A construção também demonstra qualidade, com vãos uniformes entre as peças e boa rigidez torcional. O Jeep Commander, por sua vez, vai para o lado da elegância, com superfícies lisas e linhas horizontais.
Faróis estreitos e escurecidos reforçam o estilo, assim como as belas rodas de 19 polegadas. Na construção, ele também vai bem, apesar de apresentar vãos irregulares em divisões de peças, como nas portas, e arcos das rodas.
Dentro da cabine o Jeep evidencia maior nível de sofisticação. Apesar de o painel ser exatamente o mesmo do Jeep Compass, os materiais utilizados têm qualidade superior aos já bons usados no irmão. No painel, por exemplo, a parte central é revestida com um tecido que imita camurça.
Há cromados e outras texturas que garantem o diferencial e o grande refinamento. No Tiggo 8, apesar do uso de materiais emborrachados e do tecido que imita couro, tudo de ótimo padrão, a qualidade percebida é inferior pelo desenho geral e pelo toque, inclusive dos botões.
A pequena e simplória tela do ar-condicionado, que fica camuflada no console central, não causa boa impressão e não facilita o uso do sistema. O conjunto é bom, mas ainda precisa evoluir em refinamento.
A lista de equipamentos também pesa a favor do Commander. Em comum, os dois SUVs têm faróis e lanternas com leds, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, ar-condicionado bizona com saída para a segunda fileira de bancos, quadro de instrumentos digital (com leitura mais cansativa no Tiggo 8), teto solar panorâmico, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, bancos dianteiros com ajustes elétricos, partida remota pela chave e carregador de celular por indução.
Porém, só o Jeep tem sistemas de condução semiautônomos, como alerta de colisão com frenagem automática, alerta e correção de saída involuntária da faixa, piloto automático adaptativo, detector de fadiga, faróis altos automáticos, leitura de placas de velocidade e sistema de estacionamento semiautônomo.
Ele tem ainda sete airbags (contra seis do rival), controle de fluxo do ar-condicionado para a segunda fileira de bancos (além de conexão USB e tomada de 12V), conexão sem fio para os dois sistemas Android e Apple e som da marca hi-end Harman Kardon.
O Tiggo 8 até tem um sistema de som premium, piloto automático convencional e monitoramento de pontos cegos. Como exclusividade, porém, dispõe do sistema de câmeras com visualização em 360º.
Convivência Apesar de tanto refinamento e tecnologia, o estreante Commander peca em pontos primordiais para sua categoria, como o espaço. Ele está longe de ser apertado como um hatch compacto, mas não oferece tanto conforto físico aos ocupantes.
Em ambos SUVs a segunda fileira corre sobre trilhos para que o espaço seja negociado com os passageiros da terceira fila. No Commander, porém, a negociação poderá ser mais difícil.
Além do espaço reduzido na terceira fileira, o Jeep também tem assoalho muito alto, fazendo com que os passageiros ali alocados fiquem com os joelhos acima da linha da cintura. O acesso aos bancos também é pior no Commander.
O Tiggo 8, por sua vez, além de abrigar melhor as pernas de seus últimos passageiros, não causa sensação de claustrofobia no fundão, em razão de seu teto mais alto. Só ficou faltando ao menos uma entrada USB, o que há no Jeep.
Em todo caso, para os dois modelos, apenas pessoas de baixa estatura irão na terceira fileira sem que o ótimo espaço da segunda seja prejudicado.
Quanto ao porta-malas, o Jeep Commander ainda oferece 233 litros para bagagens quando está com todas as fileiras disponíveis, contra 193 litros do Tiggo 8. Em contrapartida, o Chery eleva sua capacidade para 889 litros com a terceira fila rebatida, contra 661 litros no Jeep. É nessa formatação que a maioria dos seus compradores andarão no dia a dia.
Por fim, é claro que nenhum dos integrantes do segmento foca em esportividade, mas ter um bom desempenho para empurrar carros tão grandes e pesados é bem-vindo – especialmente quando carregados.
E nisso o Tiggo 8 dá mais uma lição no Commander. Seu motor é um 1.6 turbo a gasolina com 187 cv de potência e 28 kgfm de torque, acompanhado de um câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas.
Em nossos testes, foi de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos. O SUV de mais de 1,5 tonelada tem acelerações rápidas, boas retomadas e trocas de marcha praticamente imperceptíveis. Ele também teve bons números de consumo, com 11,1 km/l na cidade e 12,8 km/l na estrada.
E vale destacar os níveis de ruído a bordo, melhores em relação ao rival. Um inconveniente está em ter só dois modos de condução, Eco e Sport, sem meio-termo. Ou seja, há situações em que o jeito “pacato” do modo Eco é pouco e a aspereza do Sport, muito.
O Commander não faz feio, mas larga, literalmente, com mais de 1.700 kg. O motor 1.3 turbo flex de 180/185 cv e 27,5 kgfm tem quase o mesmo rendimento do 1.6 do Tiggo 8, mas se esforça mais e exige mais do câmbio automático de seis marchas, resultando em acelerações mais lentas.
Isso acontece mesmo com os ajustes específicos do Commander em relação ao Compass em pedal, com respostas mais rápidas e direção mais leve. O maior esforço se reflete na aceleração de 0 a 100 km/h, feita em 10,4 segundos, e no consumo urbano, que foi de 9,2 km/l. O rodoviário, porém, foi melhor do que o Tiggo 8, com a marca de 13,3 km/l.
Rodando, ambos são parecidos e focam no conforto, com um trabalho macio da suspensão e leveza na direção. O Tiggo balança mais a carroceria que o Commander, mas não causa incômodo. Também para os dois, é bom não abusar em curvas: apesar do desempenho, eles são SUVs grandes.
O Jeep é mais equipado, mas o Caoa Chery vence o comparativo em qualidades primordiais em um sete-lugares, como espaço e agilidade. E ainda pesar menos no bolso.
Veredicto
Caso você esteja procurando apenas por um SUV de sete lugares, talvez não sinta falta do apanhado tecnológico do Commander. Mas pode sentir falta do espaço e do desempenho do Tiggo 8, que ainda custa mais barato. Assim, o Caoa Chery sai vitorioso.
Teste Quatro Rodas
TIGGO 8 | JEEP COMMANDER | |
Aceleração 0 – 100 km/h | 8,7 s | 10,4 s |
Aceleração 0 a 1.000 m | 29,8 s – 178,6 km/h | 31,6 / 166,79 km/h |
Velocidade Máxima | não divulgada | 200 km/h (dado de fábrica) |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 3,8 s | 4,6 s |
D 60 a 100 km/h | 4,9 s | 5,5 s |
D 80 a 120 km/h | 5,7 s | 7,1 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 14,5/25,8/59 m | 14,2/25,5/59,2 m |
Consumo | ||
Urbano | 11,1 km/l | 9,2 km/l |
Rodoviário | 12,8 km/l | 13,3 km/l |
Ruído Interno | ||
Neutro/RPM máx. | 36,2/66,9 dBA | 45,8/66,4 dBA |
80/120 km/h | 63,4/69,6 dBA | 65,9/70,5 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 97 km/h | 97 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em D | 1.700 rpm | 1.750 rpm |
Volante | 2,5 voltas | 2,7 voltas |
Seu bolso | ||
Preço básico | R$ 197.990 | R$ 233.990 |
Concessionárias | 119 | 202 |
Garantia | 3 anos | 3 anos |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 13/34,5 °C; umid. relat., 52/43%; press., 1.013/1.012,5 mmHg
Ficha Técnica – Caoa Chery Tiggo 8
Motor: gasolina, diant., transv., 4 cil., turbo, injeção direta, 16V, 1.600 cm³, 187 cv a 5.500 rpm, 28 kgfm a 2.000 rpm
Câmbio: automatizado de dupla embreagem, 7 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Pneus: 235/55 R18
Peso: 1.573 kg
Dimensões: compr., 470 cm; larg., 186 cm; alt., 170,5; entre-eixos, 271 cm; porta-malas, 193/889 l; tanque de combustível, 51 l
Ficha Técnica – Jeep Commander
Motor: flex, diant., transv. 4 cil., turbo, injeção direta, 16V, 1.332 cm³, 180/185 cv a 5.750 rpm, 27,5 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica Suspensão: McPherson (dianteira e traseira)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.) Pneus: 235/50 R19
Peso: 1.715 kg
Dimensões: compr., 476,9 cm; larg., 185,9 cm; alt., 168; entre-eixos, 279,4 cm; porta-malas, 233/661 l; tanque de combustível, 61 l
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