Embora a sigla RS tenha diferentes traduções no mundo automotivo – em inglês, Racing Sport, Rally Sport; em alemão, RennSport e para a Renault, Renault Sport –, seu uso é sempre o mesmo: identificar versões esportivas. Da mesma forma que o significado não é rígido, cada fabricante emprega o termo como lhe convém, com doses diferentes de esportividade.
Aqui, nos deparamos com as duas acepções possíveis para um RS, com produtos um bocado distintos, mas de olho em você (e no seu bolso), que quer um hatch mais esportivo e estiloso que os demais.
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O recém-lançado Chevrolet Onix RS traz a receita de bolo conhecida, com algumas firulas visuais, ainda que o resultado ao vivo seja muito agradável. A versão chegou depois de muita especulação e flagras que alvoroçaram quem esperava por um Onix verdadeiramente mais esportivo.
Os entusiastas, no entanto, levaram um balde de água fria quando o modelo foi lançado como versão intermediária e, principalmente, com o mesmo motor 1.0 turbo de 116 cv que equipa as demais versões.
O que nem chega a ser um grande problema, e evitou que a Chevrolet criasse mais um unicórnio como o VW Polo GTS (ótimo conjunto, mas bem mais caro).
A saída que parecia óbvia era instalar o 1.2 turbo de 133 cv do Tracker, mas isso demandaria mudanças mais profundas em suspensão, freios e direção, além da adaptação do cofre do hatch ao motor maior, o que encareceria demais o simpático Onix.
Já a Renault seguiu mais à risca a cartilha e pediu à divisão francesa Renault Sport (R.S.) que criasse uma versão especial do Sandero. E o resultado não poderia ter saído mais ao gosto de quem procura um autêntico “hot-hatch”, à moda antiga.
E é aí que mora a grande diferença entre os dois modelos, além dos R$ 3.600 a mais da tabela do Renault (o Sandero R.S. custa R$ 79.190 e o Onix RS sai por R$ 75.590). O Sandero usa um valente 2.0, o mesmo que ainda serve à picape Duster Oroch, mas afinado para 150 cv e 20,2 kgfm. O câmbio é manual de seis marchas.
E, ao volante, a dupla não poderia ter comportamentos mais diversos. O Sandero R.S., literalmente, salta à frente do Onix RS com vitalidade. Não se engane pelos modestos 10,1 segundos que o modelo precisou para ir de 0 a 100 km/h em nosso teste.
No dia a dia, esse Sandero é nervoso e instiga o motorista o tempo todo. Culpa do câmbio de marchas curtas – a 120 km/h, o Renault vai a 3.400 rpm.
Isso significa que, a cada resvalada do pé no acelerador, o 2.0 responde prontamente, o que torna o modelo muito ágil, tanto na cidade quanto na estrada. É fácil empreender uma manobra rápida no trânsito, embora o R.S. pareça um animalzinho enjaulado na cidade.
Com mais espaço para esticar as marchas, o 2.0 do Sandero entrega potência progressivamente ao longo das seis marchas e deixa o Sandero um carro propriamente gostoso de dirigir, até porque o pico do torque aparece apenas a 4.000 rpm, e o motor parece gostar mesmo de rodar em giros mais elevados.
Há ainda um botão no painel que afia as respostas do acelerador e deixa os controles de tração e estabilidade mais permissivos. Não é a toa que o R.S. é figurinha conhecida em eventos de track day pelo país.
Nas provas de retomada de velocidade, o Sandero foi mais lento que o Onix, por ser equipado com câmbio manual, enquanto o rival tem câmbio automático (as medições são feitas sem intervenção do motorista, ou seja, sem troca de marchas, no caso do câmbio manual, enquanto o automático faz as reduções para acelerar com mais disposição).
O principal efeito colateral do pacote esportivo do Renault é o fato de que seu comportamento esportivo exige a interação do motorista em tempo integral, o que se torna cansativo no dia a dia. Todos os seus comandos são mais firmes que os do Onix. Sua direção e, principalmente, a suspensão são duras.
As rodas maiores (aro 17), com pneus de perfil baixo, deixam o rodar quase desconfortável, e os bancos forçam a uma postura mais alerta, ou pouco relaxada, em outras palavras.
O Onix RS chega com o seu motor 1.0 turbo sempre aliado ao câmbio automático – que poderia ser ao menos manual nesta variante com apelo esportivo. E, em sendo automático, a versão também merecia trocas manuais no volante, dispensando o pouco prático comando no topo da alavanca. A única diferença técnica são as rodas maiores, de 16 polegadas e exclusivas do Onix RS.
Isso significa um conjunto competente, mas bem mais manso que o Sandero R.S. O 1.0 tem boas respostas e foi apenas 1 segundo mais devagar na aceleração de 0 a 100 km/h na nossa pista, isso ainda sendo mais lento do que outras versões do modelo testadas anteriormente.
Assim como o Sandero, o Onix RS acerta no visual e chama a atenção por onde passa. Só não espere impressionar a audiência com um desempenho arrebatador. Ainda assim, o Onix compensa a pegada mais “normal” com um comportamento bem mais dócil no uso diário.
Além do câmbio automático, o Chevrolet tem interior mais bem-acabado, uma central multimídia com mais recursos, bem como airbags de cortina (além dos frontais e dos laterais que o Sandero também oferece).
A direção elétrica do Onix é bem mais leve que a do rival, assim como todos os demais comandos. A cabine do Chevrolet oferece visual mais moderno e com melhor ergonomia.
Se a General Motors não tivesse enxugado a lista de equipamentos de toda a gama do Onix e o RS tivesse itens como carregador de celulares sem fio, Wi-Fi a bordo ou o sistema Onstar de monitoramento remoto oferecidos por quase todas as versões do modelo até a linha 2020, o Onix abriria ainda mais distância do Renault quando olhado de dentro da cabine.
O Chevrolet também é superior ao Renault no rendimento, cravando bons 15,4 km/l na cidade e 17,1 km/l na estrada (com gasolina). O Sandero não passou dos 8,8 km/l em ciclo urbano e 12,8 km/l no rodoviário.
Ainda assim, o Sandero leva a melhor por ser mais sincero com seu público-alvo. O hatch da Renault não apenas parece ser esportivo como de fato entrega um conjunto pra lá de interessante, tanto que o R.S. feito aqui chegou a ser cobiçado pela Renault europeia para venda no Velho Continente, segundo a fábrica.
Já o Onix, por mais que seja um conjunto competente, parece entregar apenas parte da promessa, ao ter principalmente o mesmo conjunto mecânico de outras versões da linha.
O Sandero R.S. definitivamente é um carro mais diferenciado que o Onix RS, feito com carinho pela montadora. O hatch tem a mão da mesma divisão que faz os excelentes Clio e Mégane (lembra desses nomes?) esportivos para o mercado europeu.
As origens mais simples do Sandero ajudam a justificar a diferença relativamente pequena de preço entre os dois modelos, mas nem de longe isso é um demérito do modelo. Pelo contrário, ele ainda prova que é possível lançar modelos propriamente especiais no Brasil.
Teste – Chevrolet Onix RS
Aceleração:
0 a 100 km/h: 11,2s
0 a 1.000 m: 33,1 s – 157,6 km/h
VeloCidade máxima
Retomadas
D/3a 40 a 80 km/h: 4,7s
D/4a 60 a 100 km/h: 5,7s
D/5a 80 a 120 km/h: 8,1s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 14,3/25,9/58m
Consumo
Urbano: 15,4 km/l
Rodoviário: 17,1 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM max.: 45/65,1 dBA
80/120 km/h: 63,8/71,1 dBA
Aferição
Velocímetro real a 100 km/h: 98 km/h
Rotação a 100 km/h em 6a: 2.100 rpm
Volante: 3 voltas
Seu bolso
Preço: R$ 75.590
Garantia: 3 anos
Concessionárias: 540
Revisões até 60.000 km: R$ 3.248
Seguro: R$ 2.786
Ficha técnica – Chevrolet Onix RS
- Motor: flex, diant., transv., 3 cil., 12V, turbo, injeção direta, 999 cm3, 74 x 77,49 mm, 10,5:1, 116 cv a 5.500 rpm, 16,8/16,3 kgfm a 2.000 rpm Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
- Direção: elétrica
- Suspensão: McPherson(diant.) / eixo de torção (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.)/tambor (tras.)
- Pneus: 195/55 R16 Peso: 1.117 kg
- Peso/potência: 9,63/7,2 kg/cv
- Peso/torque: 66,49/66,52 kg/kgfm
- Dimensões: comprimento, 416,3 cm; largura,174,6 cm; altura, 147,1 cm; entre-eixos, 255,1 cm; porta-malas, 275 l; tanque de combustível: 44 l
- Equipamentos de série: 6 airbags, ar-condicionado, assistente de partida em rampas, central multimídia, controle de estabilidade, controle de tração, sensores de estacionamento traseiros
Teste – Sandero R.S.
Aceleração
0 a 100 km/h: 10,1s
0 a 1.000 m: 31,8s – 163,7 km/h
VeloCidade máxima*: 202 km/h
Retomadas
3a 40 a 80 km/h: 5,1s
D/4a 60 a 100 km/h: 6,4s
D/5a 80 a 120 km/h: 9,1s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 12,9/23,1/54,7m
Consumo
Urbano: 8,8 km/l
Rodoviário: 12,8 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 44,3/69,3 dBA
80/120 km/h: 68,4/72,3 dBA
Aferição
Velocímetro real a 100 km/h: 97 km/h
Rotação a 100 km/h em 6a marcha: 3.000 rpm
Volante: 3 voltas
Seu bolso
Preço: R$ 79.190
Garantia: 3 anos
Concessionárias: 295
Revisões até 60.000 km: R$ 7.011
Seguro**: R$ 3.476
Ficha técnica – Sandero R.S.
- Motor: flex, diant., transv., 16V, 4 cil., 1.998 cm3, 82,7 x 93 mm, 11,2:1, 150/145 cv a 5.750 rpm, 20,9/20,2 kgfm a 4.000 rpm
- Câmbio: manual, 6 marchas, tração dianteira, direção: elétrica, 10,6 m (diâmetro de giro);
- Suspensão: independente McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
- Freios: disco ventil. (diant.)/disco sólido (tras.) Pneus: 205/45 R17
- Peso: 1.161 kg
- Peso/potência: 7,7/8 kg/cv
- Peso/torque: 55,5/57,4 kg/kgfm
- Dimensões: comprimento: 406,8 cm, largura: 173,3 cm; altura: 149,9 cm; entre-eixos: 259 cm; porta-malas, 320 l; tanque de combustível, 50 l
- Equipamentos de série: ar automático, central multimídia, ESP, controle de tração, GPS, indicador de troca de marcha, piloto automático, sensor de estacionamento traseiro e câmera de ré.
Avaliação do editor
Motor e Câmbio
O três-cilindros do Onix é mais moderno e quase Alcança o 2.0 do Sandero nas acelerações e é muito Mais econômico, mas o motor da Renault ainda é mais suave e entrega mais prazer ao dirigir que o 1.0 do Onix. Câmbio de seis marchas do Renault tem bons engates e relações curtas, que deixam o conjunto ágil na cidade e na estrada. Automático do Onix merecia ser menos indeciso nas trocas.
Dirigibilidade
Sandero dá um baile no Onix com um conjunto bem mais na mão, graças à suspensão mais firme, ajustada para condução esportiva. Rodas maiores e pneus de perfil baixo ajudam no excelente comportamento dinâmico do Sandero. Onix não é ruim, mas mais macio e bem mais orientado ao conforto.
Segurança
Ambos possuem ESP e controle de tração, mas o Onix tem seis airbags e o Sandero fica nos quatro.
Seu bolso
Por ter perfil esportivo, o Sandero tem seguro mais caro que o do Onix. Já a manutenção surpreendeu, com o 2.0 da Renault sendo também bem mais caro de manter do que o 1.0 turbo da Chevrolet.
Conteúdo
Lista de itens de série é semelhante, mas Onix tem airbags a mais, e Sandero tem ar automático e rodas maiores.
Vida a bordo
Ambos são compactos, mas o Renault acomoda melhor ocupantes no banco de trás. Sandero também tem interior ligeiramente mais incrementado.
Qualidade
O acabamento do Sandero é pobre mesmo na versão esportiva. Onix não é luxuoso, mas é melhor.
Veredicto QUATRO RODAS
O Onix RS é um hatch competente para o dia a dia, mas se você procura um modelo verdadeiramente esportivo, o Sandero R.S. é a melhor pedida, e ainda custa quase o mesmo que o Chevrolet.
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