Por pelo menos 13 anos a Great Wall Motors (GWM) estudou sua entrada no mercado brasileiro. Foi tanto tempo que a ofensiva de marcas chinesas veio e passou, deixando Caoa Chery, JAC e BYD, cada uma com sua estratégia. O que a Great Wall está fazendo de diferente é estrear no Brasil já com uma fábrica pronta, ou quase isso.
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Maior fabricante de capital privado da China, a Great Wall comprou a fábrica da Mercedes em Iracemápolis (SP), que de 2016 a 2020 foi responsável pela produção do SUV GLA e do sedã Classe C, que agora será importado, e tem capacidade instalada para produzir 20.000 unidades por ano. Desde já, a fabricante chinesa pretende ampliar essa capacidade para 100.000 carros/ano.
A transação inclui ativos como terreno de 1,2 milhão de m², planta, máquinas e equipamentos, e deverá ser concluída ainda em 2021. O valor não foi divulgado, mas a GWM já adiantou que pretende criar 2.000 empregos e transformar a fábrica brasileira em uma de suas bases globais de produção para atender não somente o mercado interno como também o dos nossos vizinhos da América do Sul.
Por sinal, a Great Wall tem uma pequena linha de montagem CKD no Equador e também está presente em Uruguai, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Chile. A marca até já chegou a nomear um representante em nosso país, mais exatamente em Brasília, em 2009. Mas o negócio não evoluiu e acabou rapidamente.
Foco nos SUVs
O estímulo que faltava para a marca criar raízes no Brasil veio de uma negociação congelada. Em 2020, a Great Wall anunciou a compra das fábricas da General Motors na Índia e na Tailândia.
O problema é que, por conta das tensões entre China e Índia, no Himalaia, o governo indiano passou a barrar qualquer investimento chinês. Dessa forma, parte do dinheiro que seria investido lá foi destinado ao Brasil.
A Great Wall atua na China com cinco submarcas. Mas vai demorar um pouco mais para se ver os carros da luxuosa Wey, da off-road Tank e da Ora, focada nos carros elétricos, aqui no Brasil. A estreia da fabricante por aqui será com os SUVs compactos e médios da Haval e com a família de picapes da GWM, a partir de 2022.
A fase dos carros baratos passou para as marcas chinesas. Seguindo a estratégia de sucesso da Caoa Chery, a estreia da Great Wall no mercado brasileiro será com os recém-lançados Haval Jolion e H6, modernos e com personalidade suficiente para estabelecer a empresa no país até que a fábrica esteja operando, com cadeia de fornecedores estabelecida.
Com 4,47 metros de comprimento e 2,70 m de entre-eixos, o Haval Jolion (pronuncia-se “Chulian”, que significa “primeiro amor”) tem o porte de SUVs conhecidos em nosso mercado como o Jeep Compass ou VW Taos. Seu motor é um 1.5 Turbo com injeção direta de combustível e rende 156 cv e 22 kgfm.
O câmbio é de dupla embreagem com sete marchas. Tem sete airbags e até mesmo frenagem autônoma de emergência e piloto automático adaptativo. No Uruguai, parte dos 30.000 dólares.
O Haval H6, por sua vez, foi lançado há apenas dez anos e já está em sua terceira geração. É significativamente maior que o Jolion, com 4,65 m de comprimento. Mas o entre-eixos é de 2,68 m – o mesmo de um Toyota RAV4.
Sua oferta mecânica é mais diversa, a começar pelo 1.5 turbo em versão de 170 cv e 29 kgfm, passando a um 2.0 turbo de 225 cv e 39 kgfm combinado a um câmbio de dupla embreagem e nove marchas.
O pináculo da linha, porém, é a versão híbrida, que combina o motor 1.5 de 170 cv e um elétrico, para entregar a potência máxima de 243 cv e 54 kgfm. No Uruguai, o preço da versão 2.0 começa em 46.000 dólares.
Outro modelo aventado e até com patente registrada no Brasil é a picape média P Series (também conhecida como Poer, Pao e Cannon). O chassi vem do SUV Haval H9, mas com 5,41 m de comprimento e 3,23 m de entre-eixos é maior que uma Ford Ranger.
Há motores 2.0 turbo a gasolina (200 cv) e 2.0 turbodiesel (177 cv), câmbio manual de seis marchas, automático de oito fornecido pela ZF (o mesmo da VW Amarok) e opção de tração 4×4. Aparentemente, não é só um rostinho bonito: vem sendo elogiada por publicações de Ásia, Oceania e África, onde já foi lançada.
O grande desafio para a Great Wall pode ser entender as peculiaridades do mercado brasileiro. Mas, com a fábrica e bons produtos, as chances de sucesso aumentam.
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