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Opinião: golpistas e batedores de carteira existem em todo o mundo

Batedores de carteiras e roubos de veículos acontecem em todo o mundo e não é de hoje, mas, no Brasil, a violência dos bandidos é muito maior

Por Paulo Campo Grande Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
18 fev 2024, 10h20
 (Reprodução/Quatro Rodas)
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Se você tem perfil no Instagram ou no TikTok, já deve ter visto os vídeos da italiana Monica Poli flagrando batedores de carteiras em plena atividade pelas ruas de Veneza, na Itália. Quando assisti pela primeira vez, pensei que fosse armação. Que a caçada fosse aos cliques e não aos gatunos. Afinal, os batedores de carteiras filmados mais pareciam pessoas atrás de 15 minutos de fama; gente de classe média, roupas limpas e cabelos bem cuidados, misturada aos turistas.

Nós, brasileiros, estamos acostumados a abordagens bem mais violentas, quando nos tornamos vítimas dos meliantes. Não que não exista esse tipo de furto no país. Existe, sim. Mas os pickpoquets brasileiros preferem atuar em vagões dos trens, estações de metrô e locais com aglomerações como shows e outros eventos. E os bens preferidos são os celulares. Pickmobile?

 

Esse fenômeno não acontece somente na Itália. Ocorre também em outros países como França e Inglaterra. Mas os criminosos europeus estão décadas defasados em suas práticas, em relação aos colegas do Brasil. E isso ocorre não apenas com os batedores de carteiras, mas também com os ladrões de outros segmentos, como os de roubos de carros e motos.

Pickpocket
Armada com celular, Monica sai na captura dos ladrões (Divulgação/Quatro Rodas)

É comum se ver nas redes sociais fotos de veículos estacionados na Europa exibindo travas de volante e de pedais, correntes e outros acessórios rudimentares que já entraram em desuso no Brasil, por absoluta ineficácia.

A italiana de 57 anos se dedica a perseguir os batedores e as batedoras de carteiras, respectivamente (borseggiatori e borseggiatrici, em italiano), desde 2009. Ela pertence a um grupo chamado Cittadini non distratti (Cidadãos não distraídos), que tem a missão de alertar as pessoas para que elas não sejam vítimas dos amigos do alheio e que ganhou fama internacional com as redes sociais. Seus posts alcançam milhões de espectadores e já viraram memes, com cachorrinhos em fuga e outras situações do cotidiano. A caçadora de larápios já deu entrevistas até para The New York Times e Whashington Post.

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O grupo Cittadini non distratti conta com 300 integrantes, mais cerca de 50 sentinelas, colaboradores que, de seus locais de trabalho, avistam os amigos do alheio e avisam via WhatsApp, sempre que identificam algum na área.

De acordo com Monica, a turma de borseggiatori é bem conhecida, porque são capturados e logo liberados. Em uma entrevista que deu ao jornal Corriere Della Sera, ela afirmou que essa tolerância remete a 2022, quando houve uma reforma nas leis italianas, com o objetivo de agilizar o andamento dos processos. Deve ser por isso que os alvos de Monica não revidam, apenas se esquivam e fogem escondendo o rosto. Outra cena que me deixava incrédulo.

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Penso que a razão para essa passividade deve ser porque, sem partir para a agressão, o infrator deva ganhar o perdão mais rapidamente. Há algum tempo, porém, Monica também se tornou vítima dos pickpockets que ela tanto persegue. Ela teve seu celular roubado enquanto registrava mais um furto.

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De volta ao lado de cá do Atlântico, mas mais ao norte, nos Estados Unidos, a violência também é bem mais branda, se comparada à do Brasil. Mas, nesse caso, acredito que seja por conta da repressão mais eficiente do que aqui e na Itália.

Certa vez, em São Francisco, na Califórnia, quando fui dirigir o VW Jetta de sexta geração, que foi lançado no Brasil em 2011, me hospedei em um hotel com mais quartos que vagas para carros – first come first served basis – e tive de deixar meu carro na rua.

Ao perceber minha insegurança, coisa de brasileiro traumatizado, ao olhar para trás várias vezes enquanto me distanciava do veículo, um sujeito me abordou oferecendo uma vaga na garagem de outro hotel na mesma rua. Pediu 40 dólares e disse que eu poderia pagar e me dirigir ao hotel. Ele teria um amigo lá que liberaria a entrada. Obviamente, não existia amigo e nem vaga e ele não tinha autorização alguma do hotel. Eu não caí nesse conto do vigário.

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Se quisesse, o rapaz bem mais alto e forte do que eu poderia ter me dado um sopapo e ter me roubado, levado tudo o que eu tinha no bolso, sem mais delongas. Era de noite, eu estava sozinho e a rua era escura e deserta. Mas acredito que essa hipótese nem passou pela cabeça dele, que também não me pediu um trocado, como último recurso.

Pickpocket é uma expressão muito popular no basquete americano, usada quando um jogador rouba a bola do adversário – aqui, no futebol, nós somos mais diretos gritando ladrão, quando queremos alertar um companheiro da proximidade do adversário. E também já foi tema no cinema francês, no filme O Batedor de Carteiras, do diretor Robert Bresson, lançado em 1959.

Ver cenas de roubos e furtos no cinema, no vídeo e na vida real nos causam indignação, revolta. Mas confesso que eu preferiria mil vezes ter de enfrentar esse tipo de problema, como existe no exterior, do que como o que vemos diariamente nos noticiários locais.

Paulo Campo Grande
(Acervo Pessoal/Quatro Rodas)
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Paulo Campo Grande

Jornalista fala sobre diferentes assuntos, reflexões e memórias que considera interessantes de compartilhar com os leitores.

 

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