Opinião: a dor e a delícia de trabalhar na Quatro Rodas
Trabalhar em uma publicação especializada agrega conhecimento sobre os temas abordados nos tornando fonte de consulta. Isso é (quase sempre) bom...

Quem trabalha com produção de conteúdo, principalmente em um meio de comunicação específico, acaba se tornando especialista no assunto. Trabalhando como designer da revista Viagem & Turismo, da Editora Abril, aprendi como economizar em viagens e dar dicas para os amigos sobre os mais variados destinos mais em conta, entre outras artimanhas de quem passa os dias da vida com uma equipe que viaja, investiga e testa todas as oportunidades nas diversas paragens do planeta.
Depois que entrei na QUATRO RODAS, há mais de dez anos, passei a aprender sobre carros, o que sempre foi um tema de meu interesse. Juntou a fome com a vontade de comer. Estar em contato diário com os automóveis é um baita privilégio para quem é apaixonado por carros desde criancinha. Mas, assim como na V&T, acabei me tornando um consultor involuntário sobre o tema da revista. Virei “o cara da QUATRO RODAS” no grupo de amigos e na família.
Certa vez, em uma pesquisa de mercado encomendada pela Abril, descobrimos que isso acontece com os assinantes da revista, leitores vorazes, que se tornam referência no assunto entre seus pares. O estudo revelou que, em sua maioria, os assinantes viram formadores de opinião quando o tema é automóveis. Aquele que sempre é consultado pelos amigos que querem trocar de carro, e pelos parentes, tio, irmão, sobrinho, que buscam informações sobre os últimos lançamentos.
Sei bem como é ser da equipe de QUATRO RODAS: em qualquer conversa entre amigos, em algum momento o tema automóvel surge e aí logo alguém acaba anunciando que ali está um conhecedor do assunto, “integrante da QUATRO RODAS”. Confesso que sinto orgulho dessa referência. A maioria das pessoas sempre tem uma lembrança da publicação que marcou, em algum momento, ao longo de sua vida. Muitos assinam ou compram regularmente a revista nas bancas e, quando a conversa começa a se aprofundar, a primeira curiosidade é o cotidiano de trabalho, quais carros já dirigi etc… “Você já andou de Ferrari?”

Passada a curiosidade, em um segundo momento, a conversa fica mais pé no chão. As pessoas querem saber sobre algum lançamento recente, o que eu achei do carro tal. “Vale a pena?”
Até que chegam os temas delicados: os próprios carros dos interlocutores. Delicado justamente por sabermos todos os pontos fracos e fortes dos veículos… e pode acreditar, não existe veículo perfeito, sempre achamos algo que pode ser melhorado seja preço, acabamento, consumo ou desempenho. Geralmente coloco na mesa todos os prós e contras, argumento e no final digo que muita coisa é questão de gosto, de preferências pessoais e evito dissabores. Mas nem sempre dá certo.
Há ainda aquelas situações em que os amigos são leitores de QUATRO RODAS e questionam determinadas conclusões, muitas vezes em comparativos em que os carros deles perderam. Dependendo da abordagem, para não ferir os sentimentos do amigo, explico que um comparativo é um retrato de momento dos dois produtos, e que não é porque um carro perdeu que ele deve ser totalmente descartado.
Alguns me consultam sobre todo e qualquer modelo que cogitam pôr na garagem. Querem saber o que eu acho e o que a QUATRO RODAS disse sobre aquele modelo. Um desses amigos, depois de perguntar sobre vários candidatos em sequência, um dia me ligou e disse que havia comprado um de fora da relação previamente consultada, me advertindo: “Não vem me falar que é ruim porque já comprei”. Ficou claro que a paixão falou mais alto e independente de números, dados técnicos e comparativos que eu poderia fornecer.

No final, meu conselho pessoal é: estude muito bem a compra do seu automóvel e para isso conte com a QUATRO RODAS, mas nunca se esqueça de ouvir o que seu coração fala. Afinal de contas, a compra de um carro tem que ter paixão envolvida. Ser “o cara da QUATRO RODAS” rende sempre boas conversas, amigos e até mesmo ideias de reportagens… Que continue assim!