Quando meus pais me deixaram no internato, meu pai tirou do seu bolso uma pequena caixa e me deu de presente. Era um Omega Geneve Dynamic, e logo eu dei um grito. Em parte porque estava com medo de como seria o internato, mas principalmente porque eu nunca tinha visto uma coisa tão maravilhosa. Um relógio inteirinho. Só meu.
Nos primeiros anos de escola, os alunos mais velhos quebraram praticamente todas as minhas coisas, colaram meus discos uns aos outros, comeram meus biscoitos e até cortaram minhas calças com a tesoura de jardim. Mas eu sempre dava um jeito de guardar meu relógio em um lugar bem seguro. Hoje em dia, o Geneve Dynamic se tornou em certa medida um clássico.
Eu gostaria de começar a usar o Geneve de novo. Mas há um problema. Desde aqueles dias, relógios deixaram de ser um patrimônio passado de pai para filho em uma data importante e que era usado pelo resto da vida. Tenho medo de que, se usar um relógio que é evidentemente dos anos 70, as pessoas pensem que eu estou sendo pós-moderno, irônico ou algo assim. Outro dia vi um homem usando um relógio que era: a) azul berrante; e b) cujo mostrador era praticamente do tamanho do seu rosto. Não duvido por um segundo que ele tenha custado umas 10 000 libras o alqueire e, cara, como ele se esforçava para que você soubesse disso.
Eu também posso apostar que ele tem, no seu quarto, uma caixa de mogno especial onde guarda diversos outros relógios, o que levanta uma questão: por quê? Ter dois relógios é como ter dois ferros de passar, ou duas lavadoras de roupa. É totalmente desnecessário.
Então, por que você compraria um relógio se o que você usa atualmente ainda está funcionando? Relógios não saem de moda – nem vou colocar isso em discussão. E não houve um grande avanço tecnológico que os tenha tornado capazes de marcar o tempo de forma mais eficiente do que no passado.
Eu gosto de um relógio bonito. Eu leio com grande atenção todas as 200 páginas de características técnicas deles em revistas especializadas e até costumo parar para olhar vitrines de relojoarias. Mas não compraria um novo, porque não faz sentido. Meu Omega Seamaster atual continua firme e forte e não duvido por um segundo que a única coisa que vai fazê-lo parar será o incinerador em que serei colocado para ser cremado quando morrer.
Ok, então vamos ao ponto: por que os relógios Rolex se tornaram um acessório de mau gosto? Deve ter havido uma época em que eles eram bonitos, elegantes e usados por pessoas com bom gosto e discrição. Daí um dia eles se tornaram o relógio preferido de pessoas chamadas Steve e que trabalham como encanador ou marceneiro. E eu acho que é justo dizer que a única coisa no mundo pior do que um Rolex falso é um legítimo. Hoje você só os vê saindo de mangas de ternos cujo tecido é brilhante em demasia ou em punhos tatuados de braços fortes demais.
E isso me leva ao Range Rover. Há não muito tempo, Range Rovers eram a personificação de bom gosto discreto. E sob o exterior conservador, mas imponente, havia uma mecânica extremamente capaz. Você podia adquirir um BMW ou Mercedes, mas acabaria precisando de um carro novo após bater em câmera lenta em um mourão de cerca depois de não conseguir atravessar um campo enlameado. Com os pneus certos, um Range Rover sempre era muito, muito melhor que qualquer alternativa. Era um carro de categoria mundial. Uma joia. Um clássico de todos os tempos.
Mas agora alguma coisa está desandando, porque os Range Rovers estão ficando como os Rolex: meio de mau gosto. E eu acho que sei o porquê: eles sempre foram extremamente caros, o que significa que qualquer um que não tivesse dinheiro suficiente para comprar um tinha de procurar outro carro. Mas agora as coisas mudaram, pois há o Range Rover Sport e o Range Rover Evoque – e o Land Rover Discovery Sport, que parece um cruzamento entre os dois primeiros.
E isso significa que todos os Steve do planeta agora estão dirigindo um, com seu braço tatuado para fora da janela. É como se, de uma hora para outra, fosse possível para qualquer cidadão de classe média comprar um título de nobreza. Isso significa que aqueles realmente bem de vida, que normalmente comprariam a versão grande do Range Rover, com a tampa traseira dividida e dobrável estão pensando: “Oh, Deus! Eu não posso ter o mesmo carro que meu encanador. Preciso de algo diferente.”
Mas o quê? Não existe nada diferente. Ao contrário do Rolex, que tem umas mil marcas como concorrentes, não há alternativa a um Range Rover. Você tem veículos que andam bem na terra e veículos que andam bem na estrada. Mas não há outro que faça as duas coisas tão bem quanto ele.
E agora, finalmente, chegamos ao carro que eu supostamente deveria estar avaliando. O novo Range Rover Sport SVR. Ele é ridículo de múltiplas maneiras. Ele é ridiculamente caro e ridiculamente desnecessário. E tem um V8 de 5 litros superalimentado que é ridiculamente beberrão e ridiculamente rápido.
Fala sério: se você quer um carro que faça de 0 a 100 km/h em cerca de um milionésimo de segundo e tenha uma velocidade máxima de milhares de quilômetros por hora, por que comprar algo com a área frontal de uma casa e o consumo de combustível de um incêndio numa plataforma de petróleo?
Sim, ele tem uma dirigibilidade muito boa para algo que é maior do que uma ilha escocesa. Mas se é isso que você quer, por que não comprar um Jaguar, que tem basicamente o mesmo motor, consome menos combustível, é ainda mais rápido e custa menos?
E a situação fica ainda pior, porque a suspensão do Sport SVR é aflitivamente dura. É o preço que você paga por sua capacidade de fazer a volta de Nürburgring em apenas 2 segundos cravados.
É um carro que não faz sentido, mas na verdade eu gostei muito dele. Porque é um Range Rover que você pode comprar com a certeza de que o cara que vem consertar seu encanamento não terá um também.