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O que São Paulo faz pelos ciclistas

Apesar dos esforços, eles ainda reclamam de maus tratos nas ruas

Por André Paixão | Fotos: Fabiano Cerchiari, Daniel Spalatto e divulgação
8 nov 2012, 20h09
geral

Nos últimos anos, São Paulo viu crescer outro número além dos automóveis: o das bicicletas. São aproximadamente 350 000 viagens diárias, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Bicicletas (Abraciclo). Mesmo devendo na quantidade e na extensão das ciclovias, São Paulo se esforça para ser mais democrática e dividir suas ruas entre duas, quatro ou mais rodas. Entre ciclovias, ciclofaixas e rotas de bicicleta, a malha soma 180 km. Esse número varia entre dias úteis e fins de semana, quando algumas ruas se transformam em ciclofaixas de lazer.

Uma das alternativas que se popularizam nas grandes cidades é o compartilhamento de bicicletas.Aqui, o pioneiro nesse mercado foi o Use Bike, fruto da parceria entre a Porto Seguro e a rede de estacionamentos Estapar. Em 2011, o programa passou a ser controlado pela ONG Instituto Parada Vital e foi rebatizado de Nossa Bike. Nos 19 pontos de retirada, situados em estações do Metrô e terminais metropolitanos, existem 245 bicicletas e a primeira hora de aluguel é gratuita. As horas excedentes custam 2 reais cada uma.

Já foram realizados cerca de 107000 empréstimos, 13 000 só em 2012. A Porto Seguro manteve a prestação de serviços e socorro a seus clientes que pedalam. Entre as ocorrências atendidas estão trocas de pneu, montagem de novas bicicletas e reparos no freio. Em 2011, foram mais de 500 atendimentos aos ciclistas clientes do seguro automotivo.

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A iniciativa de compartilhamento mais recente é a do Bike Sampa, que começou no fim de maio e já registrou quase 4000 viagens. São dez estações para retirada na região da Vila Mariana, com um total de 100 unidades disponíveis. Para alugar, o usuário deve possuir cartão de crédito e pagar a taxa de inscrição de 10 reais, que dá direito a viagens ilimitadas, desde que a bicicleta seja estacionada na estação durante 15 minutos a cada meia hora de uso. Para pedalar sem interrupções, é cobrada uma taxa de 5 reais a cada 30 minutos. As estações funcionam das 6 às 22 horas.

Para estimular pessoas com pouca experiência a perder o medo e pedalar pelas ruas da cidade, em 2010 foi criado o projeto Bike Anjo. No início, um grupo de amigos fazia uma “escolta” dos candidatos em passeios. Como a procura cresceu, foi criado um site em que o usuário se cadastra e solicita um ajudante de percurso. Hoje, 50 cidades contam com o serviço no país. Só em São Paulo são 150 voluntários. Para ter o auxílio de um bike anjo é preciso fazer o cadastro no site e preencher os dados do trajeto. O voluntário mais próximo é encaminhado para instruir e acompanhar o ciclista.

Um dos fundadores do grupo, o gestor ambiental João Paulo Amaral, conhecido como JP, fez o caminho inverso da maioria. Há quatro anos, trocou o carro pelo transporte público e depois pela bicicleta. “Comecei a fazer o trajeto em menor tempo e melhorei minha qualidade de vida e minha relação com São Paulo, que agora conheço melhor”, diz.

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O movimento de ciclistas Bike Bus é outra novidade em São Paulo. Um grupo de ciclistas se encontra para ir pedalando em comboio para o trabalho. A iniciativa, que já existia em cidades dos Estados Unidos, começou por aqui quando o engenheiro civil Tom Buser, que ia trabalhar de bicicleta, recrutou o amigo Rafael Stucchi para acompanhá-lo. Os dois colocaram o trajeto em uma rede social, convidando pessoas que faziam um percurso semelhante. “Quando pedalamos em conjunto, conseguimos ocupar uma faixa inteira da via, somos vistos pelos motoristas e corremos riscos menores”, conta Buser. O grupo costuma ter entre quatro e oito pessoas e percorre o trajeto entre Pinheiros e a Vila Olímpia todos os dias.

Com tantos movimentos pró-ciclistas, até os motoristas que trafegam pela cidade sentem uma diferença. O radialista Henrique Bittancourt, que utiliza o carro no cotidiano, trocaria seu veículo por uma bicicleta, desde que a infraestrutura fosse mais favorável aos ciclistas. “A relação entre motoristas e ciclistas está visivelmente melhor. Se as condições fossem mais adequadas para a prática, certamente trocaria meu carro por uma bicicleta.”

Além de ciclistas que abandonaram os carros, agentes da CET e policiais militares também estão pedalando para fiscalizar a cidade. Há um ano e oito meses, oito policiais da PM fazem a ronda na região da avenida Paulista. Segundo o capitão Luiz Gomes, a bicicleta ajuda no policiamento onde o carro não é tão ágil. “Em vias movimentadas como a Paulista, é quase impossível para uma viatura fazer um retorno em caso de necessidade. Já com a bicicleta, ganhamos eficiência. Se ela não der conta, acionamos uma viatura pelo rádio”, conta.

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Desde 2007, a CET usa 16 bicicletas para fiscalizar o Parque do Ibirapuera e a praça Charles Miller. Em maio deste ano, a operação se estendeu aos 3,3 km da ciclofaixa de Moema, na zona sul. Lá são quatro fiscais que se revezam em dois turnos para instruir os ciclistas e autuar motoristas que desrespeitam as leis de trânsito.

Uma das agentes que trabalham na região é Neusa Lima, de 52 anos, que atua no bairro desde o início da operação. “No começo, havia resistência dos moradores e os comerciantes e minha família achavam que eu era louca. Com o tempo, todos viram que era seguro e passaram a confiar no meu trabalho”, diz. Neusa se aposentou há um mês, depois de 26 anos na CET, mas continua na ativa: “Ainda tenho muito a aprender e, quem sabe, a ensinar”. Segundo a CET, nos três meses de operação no bairro, foram aplicadas 1 338 autuações, sendo que 92 delas foram por desrespeito a ciclistas.

PEDAL ELETRIZANTE

Uma alternativa mais confortável que tem sido vista em maior número em São Paulo são as bicicletas elétricas. São cerca de 2 000 unidades circulando. Elas permitem que o ciclista enfrente com maior facilidade as inúmeras ladeiras e obstáculos da capital. A Ebike Store vende em média 20 unidades por mês. O dono, Ricardo Uchoa, confirma que a procura aumentou desde o ano passado e que espera dobrar as vendas em 2012. A corretora de seguros Patrícia Sadalla trocou seu carro pela bicicleta elétrica em 2009 e passou a percorrer o trajeto entre sua casa e o escritório pronta para o trabalho. “Quando o semáforo abre, uso a potência do motor para ter um arranque mais eficiente que uma bicicleta comum”, diz. De acordo com o Denatran, as bicicletas elétricas são classificadas como ciclomotores e devem ser emplacadas. Cabe aos municípios regulamentar o uso desse veículo. Em São Paulo não há uma legislação específica para elas, o que impede a fiscalização.

AS BIKES MUNDO AFORA

Conheça ações de cidades amigas dos ciclistas:

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Copenhague, Dinamarca: quer ser a cidade mais amigável para os ciclistas até 2025. Para isso, o governo planeja tornar interativas as faixas de circulação, aumentando ou diminuindo o espaço para ônibus, carros
e bicicletas conforme a necessidade. Hoje, em determinados pontos, as áreas de estacionamento são flexíveis e se alternam entre bicicletas e carros. Como incentivo à população, o prefeito Frank Jensen vai trabalhar de bicicleta.

Bogotá, Colômbia: outro exemplo de cidade menor que São Paulo e com mais ciclovias. São 344 km e circulação diária de 285 000 pessoas. As chamadas
 Ciclorutas se estendem pelas longas avenidas e têm conexões com terminais de ônibus, facilitando a chegada a bairros mais distantes.

Barcelona, Espanha: a cidade catalã tem um programa com mais de 400 estações de aluguel espalhadas pela cidade. A taxa anual de 44 euros dá direito a alugar uma bicicleta por meia hora todos os dias. As demais horas são tarifadas.

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Londres, Inglaterra: iniciou seu sistema de compartilhamento em 2010. Hoje, são 160 000 usuários cadastrados e mais de 14 milhões de aluguéis.

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