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M113: testamos o blindado que é considerado o Fusca do Exército Brasileiro

Robusto, simples e fácil de manter, o M113 BR navega na água, encara os piores pisos, não tem volante nem pedal de freio e usa esteiras no lugar das rodas

Por Paulo Campo Grande
Atualizado em 6 fev 2021, 18h28 - Publicado em 4 dez 2019, 07h00
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    Blindado encara todo tipo de terreno (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Já dirigi coisas estranhas: triciclo que inclina nas curvas (Carver One), moto que dá marcha a ré (Honda Gold Wing), carro anfíbio (VW Schwimmingwagen) e trator com joysticks no lugar de volante e pedais (Caterpillar 12M).

    Veículo militar sobre lagartas foi a primeira vez.

    Pilotei o modelo M113 BR cedido pelo Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar, de Curitiba (PR), que é um departamento responsável pela operação desse e de outros carros de combate do Exército brasileiro.

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    M113 BR é um veículo usado para o transporte das tropas (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O M113 BR tem um modo de condução bem esquisito. Além da ausência das rodas em contato com o piso, ele não tem volante e nem pedal de freio.

    O M113 BR é controlado por manches que comandam dois diferenciais e possibilitam realizar todas as manobras. De convencional, só há o pedal do acelerador.

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    O câmbio é automático, mas permite que se selecione a combinação das marchas: são três à frente e uma marcha a ré.

    A alavanca tem seis posições: 1 (só vai até a 1ª, para maior força), 1-2 (até a 2ª), 1-3 (até a 3ª), 2-3 (varia da 2ª a 3ª para maior velocidade), N (neutro) e R (ré).

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    Manches reúnem as funções de freio e direção (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Seus diferenciais trabalham de forma independente, um para cada lado do veículo, transmitindo a força do motor às engrenagens que tracionam as lagartas.

    Os manches, por sua vez, acionam os freios que controlam os diferenciais. Por meio deles é possível parar o veículo (puxando as duas alavancas para frear os dois diferenciais) e manobrá-lo (a partir do bloqueio de apenas um dos lados).

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    A alavanca do câmbio permite selecionar os intervalos das marchas usadas (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Para virar à direita, basta frear o diferencial direito e deixar que o esquerdo continue a acionar a lagarta da esquerda. Para virar à esquerda, basta frear o diferencial esquerdo. Para seguir em frente, empurre as duas alavancas para liberar os dois lados.

    Há ainda um segundo par de alavancas usado para bloquear os diferenciais e possibilitar manobras rápidas. Você já viu cenas de guerra em que os tanques parecem deslizar sobre patins? São essas alavancas que permitem esses movimentos.

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    Além do motorista, o carro pode acomodar onze militares (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Antes de dirigir, passei por um treinamento. Um instrutor me apresentou os principais comandos do veículo (chave geral, contato, painel, acelerador, câmbio e alavancas) e disse que, no começo, eu deveria obedecer sua orientação.

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    Combinamos que ele diria o que fazer por meio de comandos. Se quisesse que eu virasse à direita, ele bateria no meu ombro direito. Para virar à esquerda, no ombro esquerdo.

    Na hora de frear, o sinal era uma batida no alto do capacete. Quando fosse necessário reduzir a velocidade, ele bateria nas minhas costas.

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    Apesar de pesar quase 10 toneladas, M113 BR também é anfíbio (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Começamos movendo o carro em linha reta, para a frente e para trás. Os manches se assemelham a alavancas de freio de estacionamento de automóveis, só que maiores e instalados na posição vertical.

    Para liberá-los, é preciso apertar um botão na parte superior. A alavanca do câmbio, por sua vez, é bem diferente das encontradas nos automóveis.

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    Para selecionar o grupo de marchas que se quer usar, é preciso soltar uma trava e correr a haste por uma guia com ressaltos para evitar erros na seleção.

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    Engrenagem dianteira é de tração, traseira é tensionadora e as rodas apenas apoiam a lagarta (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Terminados os exercícios, fui autorizado a me embrenhar pelas trilhas do Parque de Manutenção, que eram tão acidentadas em alguns trechos que davam a impressão de que ninguém havia passado por ali antes.

    Não foi difícil me acostumar com os manches e saber quanto eu deveria frear os diferenciais para conseguir o esterço desejado.

    Na hora de frear para estacionar, no começo eu puxava as alavancas com muita força e tinha a sensação de que não ia conseguir travá-las. Mas eu estava puxando mais do que o necessário, indo além do ponto da trava. Quando identifiquei o ponto certo, ficou fácil.

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    Lagartas têm sapatas de borracha e ressaltos que funcionam como pás, na navegação (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O treinamento aconteceu na parte da manhã. À tarde, seguimos para o Campo de Instrução do Exército, que fica a cerca de 30 km de Curitiba, em uma área onde eu pude andar sozinho na maior parte do tempo explorando o veículo e o terreno.

    Equipado com motor V6 turbodiesel de dois tempos, de 268,7 cv, o M113 BR pode atingir 61 km/h de velocidade máxima.

    Não parece muito se comparado a um automóvel, mas é bastante quando se está no comando de um veículo pesado como o M113 BR – são 9.930 kg.

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    Blindado pode atingir 61 km/h de velocidade máxima (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Sua aceleração é crescente e constante, e, durante o movimento, o tanque acumula bastante energia, o que fica nítido quando se precisa frear. O consumo divulgado pelo Exército é assustador: 1,8 km/l na estrada!

    O nível de ruído é alto porque junta o barulho do motor com o das lagartas. Mas isso não me incomodou. Ao contrário, serviu para amplificar minha experiência a bordo.

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    Com a escotilha fechada, a visão do motorista fica restrita a quatro periscópios (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    A parte mais tensa foi quando desci uma ladeira íngreme, situação em que, mesmo freado, o veículo deslizava para o lado em que a terra estava mais fofa.

    Nessas horas, o M113 BR saía levemente da trajetória ao mesmo tempo que minha visão do barranco ao lado da trilha era quase nula. O instrutor tinha me avisado que não havia risco, mas eu não tinha ideia de como seria a descida.

    O instrutor voltou a bordo quando colocamos o veículo na água.

    O M113 BR é anfíbio. Apesar de ter quase 10 toneladas, ele flutua e consegue se locomover como uma balsa devido aos pequenos ressaltos nas lagartas que trabalham como pás remando quando o veículo está submerso.

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    Com um diferencial travado, o carro é capaz de girar sobre o eixo (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    A tração por lagartas é uma invenção atribuída ao polonês Jösef Maria Höené-Wronski (1776-1853), embora a primeira patente seja do inglês George Cayley (1773-1857). As primeiras aplicações foram feitas em máquinas agrícolas.

    A vantagem das lagartas está na tração e na distribuição do peso do veículo, graças à maior área de contato permitindo a transferência da força do motor em tempo integral em qualquer terreno.

    Essa tecnologia chegou aos veículos militares durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas foi na Segunda (1939-1945) que se popularizou. Pela definição do Exército, o M113 BR é uma Viatura Blindada para Transporte de Pessoal (VBTP).

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    (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Sua carroceria – de alumínio balístico, que além de ser mais leve que o aço é mais resistente à perfuração – comporta 12 ocupantes, sendo motorista, atirador e dez soldados.

    Fabricado nos EUA, pela FMC (Food Machinery and Chemical Corporation), o M113 é uma espécie de Fusca no meio militar. Além de simples, robusto e fácil de manter, ele é um dos veículos de combate mais utilizados no mundo.

    Seu projeto surgiu nos anos 50 e passou por várias mudanças ao longo do tempo.

    Segundo o especialista Expedito Bastos, autor do livro M113 no Brasil, o Clássico Ocidental, o M113 teve mais de 80.000 unidades produzidas ao longo do tempo, sendo empregado até hoje em cerca de 50 países.

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    M113 BR tem motor V6 diesel, de dois tempos, que gera 268,7 cv de potência (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    As unidades do Exército brasileiro datam de meados dos anos 60, mas ao chegar aqui elas receberam melhorias, como reforços estruturais, mudanças na suspensão e novo conjunto de motor e câmbio (a versão original tinha um V8 Chrysler a gasolina e as anteriores à atual utilizaram motor Mercedes de seis cilindros em linha diesel).

    O BR adicionado ao nome identifica a versão brasileira.

    Passado o estranhamento inicial, confesso: eu me diverti muito no comando do Fusca do mundo militar.

    Ficha Técnica – M113 BR

    Motor: Detroit Diesel, dianteiro, longitudinal, V6, 2 tempos, turbo, 268,7 cv a 2.800 rpm
    Câmbio: Alisson, automático, 3 marchas, e caixa de transferência BAE Systems (1ª marcha até 16 km/h; 2ª até 32 km/h; 3ª até 61 km/h)
    Carroceria: alumínio balístico, 12 ocupantes
    Suspensão: 10 barras de torção e 6 amortecedores
    Freios e direção: mecânicos, com manches que acionam os diferenciais controlados
    Lagartas: 127 patins e 20 rodas de apoio (somando os dois lados)traseira)
    Dimensões: comprimento, 486 cm; largura, 267 cm; altura, 253 cm; peso, 9.930 kg; tanque, 359,6 l; carga máxima rebocável, 6.583 kg
    Desempenho: velocidade máxima na terra 61 km/h; velocidade máxima na água, 5,79 km/h; rampa máxima, 60%, inclinação máxima 30%; consumo, 1,8 km/l (estrada)

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