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Ladies Drive: as mulheres que se reúnem na pista para acelerar supercarros

Nossa repórter conta como é correr no evento criado por grupo que quer incentivar a paixão por carros no público feminino

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 1 ago 2019, 07h00 - Publicado em 1 ago 2019, 07h00
Ladies Drive em Interlagos: para entrar, é só ter um carro esportivo ou clássico (Fernanda Freixosa/Foto/Quatro Rodas)

“Vocês não imaginam a minha alegria de reunir esse monte de loucas como eu, que, de tão fissuradas por automóveis, só brincam de carrinhos com as crianças”, disse Bruna Frazão, idealizadora do Ladies Drive, no discurso que marcou o início da festa de aniversário de dois anos do grupo.

Como o nome já indica, trata-se de uma turma de 170 mulheres do país inteiro que discute nas redes sociais ou em eventos periódicos assuntos relacionados a seus carros, além de promover competições.

Para participar, basta ter um veículo (carro ou moto) esportivo, clássico (com placa preta) ou preparado para competições – ou ser uma profissional da área: jornalista, influenciadora ou piloto.

No mais, como diz a gíria, é “tudo 0800” (grátis). Por exemplo, o ingresso para participar do café da manhã e da disputa de arrancadas em Interlagos foi um pacote de fraldas, uma lata de leite em pó e outras doações para o Hospital Cruz Verde.

“É um hobby que virou atividade paralela. Por ora, a gente se banca com parcerias”, diz Bruna, que trabalha como gerente de marketing da Stock Car.

Bruna Frazão ganhou uma réplica de Porsche Spyder 550 aos 15 anos e agora passa seu amor motorizado à filha (Fernanda Freixosa/Foto/Quatro Rodas)

Como jornalista, eu participei dessa celebração ao lado de 39 outras ladies, em junho. Para mim, dirigir está entre os cinco maiores prazeres da vida.

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Sou a feliz proprietária de um SUV, mas nunca havia andado em Interlagos ou em qualquer outra pista. Para minimizar minha desvantagem em relação às colegas, elas conseguiram emprestado o novo BMW 330i M Sport. Obrigada, meninas!

A prova do dia era um tempo de reação: dois carros lado a lado, ganha quem dá a partida mais rápido assim que acende o sinal verde.

Graças aos 258 cv e 40,8 mkgf do meu BMW, cheguei a 141 km/h em menos de 10 segundos no quarto de milha (402,5 metros), a quarta maior velocidade máxima. Só que não valia nada.

Esta arrancada é um teste de reflexo, justamente para equiparar veículos tão diferentes. E aí, eu tensa, despreparada e até um pouco intimidada pelo carrão novo, acabei amargando a lanterninha: meu melhor tempo foi 0,982 segundo.

“Tudo bem, o importante é competir”, consolou Helena Deyama, 58 anos, piloto profissional de rali há 20 anos. Ela alcançou o segundo menor tempo, com 0,188 segundo.

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BMW e Mustang prontos para a arrancada: ganha quem larga na frente (Fernanda Freixosa/Foto/Quatro Rodas)

É verdade que Helena é uma fera ao volante, mas seu carro também ajudou: ela estava a bordo de um Jaguar F-Type, com 300 cv.

“Desde a infância, sou apaixonada por carros. É um esporte caro, difícil para membros de classe média, como eu, além de um meio machista, sim. Mas bons profissionais encontram patrocinadores e há também homens que dão a maior força”, conta Helena.

Por exemplo, em 1999, seu carro pegou fogo e foi destruído no Rally dos Sertões. “Um xeique árabe soube e me deu US$ 20.000, o que correspondia a mais de 30% do valor de um veículo  novo”, lembra sorrindo.

Naquele sábado, também ficou claro como a mulher precisa se impor em um universo ainda machista. A prova do Ladies Drive ocorreu nos intervalos do quinto Drag Race de Interlagos, que reunia cerca de 200 carros, com mais de 90% do público masculino.

Ao ver as ladies entrarem na pista, começaram as cantadas e piadinhas. Mas bastou Bruna disparar um “Exigimos respeito!” para que eles se comportassem.

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O Jaguar F-Type alinhado com o Ford Edge ST: diversidade de estilos (Fernanda Freixosa/Foto/Quatro Rodas)

“Muitos não têm coragem de encarar uma mulher e ficam com medo ao ver que sabemos mais do que eles”, diz Verinha Spylder, 48, empresária do ramo de beleza, uma das primeiras integrantes do grupo.

Dona de um Mini Cooper, ela ficou fora da competição na última hora por problemas de injeção, mas seguiu até o final, pegando carona na adrenalina ao lado de amigas.

“Quando menina, meu avô me ensinou sobre mecânica. Eu era a atração da família ao apontar cada peça sob o capô”, lembra.

“Mas todo mundo, mulher ou homem, deveria entender um pouco de mecânica”, diz ela lembrando um episódio recente. “O mecânico queria desempenar os discos de freio sem sequer ver as pastilhas nem as rodas.”

Verinha Spylder aprendeu sobre mecânica com o avô ainda criança (Fernanda Freixosa/Quatro Rodas)

O nível de conhecimento e devoção das ladies a suas máquinas é mesmo avançado. É só ver o BMW 125M de Maíra Nóbrega, 29, proprietária de uma loja de automóveis: o modelo teve motor e câmbio recalibrados e escape refeito.

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Dona de seis esportivos, ela gasta em média R$ 500.000 por ano só na manutenção de seus mimos. “Meus pais ficam horrorizados, mas é a minha paixão”, conta.

Há também as fãs de modelos vintage. A personal organizer Mary Morrone, 56, disputou a prova com um Ford Escort XR3 1992 (ficou em 21º lugar).

Ela coleciona nada menos do que 13 modelos, entre eles um raro  Dodge Custom Royal 1955 conversível. “Além de uma paixão, ele é um investimento. Depois de uma reforma, o preço de mercado dobra”, diz.

Outro sucesso foi o Ford Mustang V6 3.7 2013 da designer Marcia Lopes Mira, 51. Há sete anos, ela passou em frente a uma concessionária e avistou o “bonitão” na rara cor “Gotta Have It Green”.

Foi paixão à primeira vista: em poucos dias, vendeu seu CrossFox e completou o resto. A partir daí, começou a entrar em grupos, como o Clube do Mustang e o Ladies, e se integrou a esse universo.

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Além das novas amizades, descolou até um namorado, Rodrigo Garcia, dono de uma oficina.

“Meu maior prazer é ver a reação das pessoas ao passear com meu Mustang. Crianças o comparam aos carrinhos do Hot Wheels e adultos abrem um sorriso ao vê-lo. Sinto que torno o dia das pessoas melhor.”

Giovanna Victorino é sócia com o marido em uma oficina de preparação: “Graças a ele, acabei conquistando uma outra paixão: por velocidade e carros” (Fernanda Freixosa/Foto/Quatro Rodas)

No fim da jornada, Bruna, a organizadora, também exibe o sorriso de quem liderou mais uma tarde boa ao lado de suas meninas.

Filha da musa fitness Solange Frazão e de Paulo “Loco” Figueiredo, ex-piloto de Stock Car e empresário do ramo, a moça seguiu os passos do pai. “Amo carros e sou um desastre na academia”, brinca.

Ganhou do pai seu primeiro carro aos 15 anos, uma réplica de Porsche Spyder 550, que ela guarda até hoje, e na sequência já começou a fazer cursos de piloto.

Com pena de abusar de seus carros nas provas, preferiu atuar nos bastidores. A filha, Maria Luiza, de 1 ano, já foi introduzida nesse universo. “Ela é cheia de carrinhos e ganhou sua primeira boneca agora, no aniversário”, ri.

Veterana no ramo apesar de seus poucos 33 anos de idade, Bruna sonha com um cenário diferente no automobilismo no futuro, quando sua filha for adolescente.

“Vamos acabar com esse estereótipo da Penélope Charmosa. Imagino que não seremos mais exceção nesse mundo e poderemos competir de igual para igual com os homens. Afinal, de acordo com estudos, somos até melhores do que eles na direção”, conclui.

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