Segundo o jornal britânico Mail Online, eu tenho estado bem ocupado. Enquanto fazia filmagens para meu novo programa, The Grand Tour, usei um drone, e, quando não havia mais falcões-peregrinos em época de acasalamento para cortar em pedaços, fui a um hotel de Hampshire para entrar como penetra no casamento de algum ator de novela.
Ok, mas algumas coisas têm de ser esclarecidas. Eu não estava fazendo filmagens para o programa. Eu não estava usando um drone. Não estamos na época de acasalamento de falcões. Eu não estava em Hampshire. E não entrei de penetra em um casamento.
Mas eles acertaram numa coisa: eu realmente estava em um hotel. E como todos os refúgios/spa rurais chiques, o menu oferecia comida de vanguarda preparada por um chef que podia fazer maravilhas com matinhos e sementes. Só que tudo o que eu queria era um coquetel de camarão.
Isso acontece com frequência. Estou indo para um restaurante, eu sei que eles vão me oferecer uma seleção de cérebro de ovelha sauté e uma auréola de leitão, e subitamente me sinto invadido pela necessidade urgente de um ovo pochê na torrada.
E não é só na comida que gosto de coisas simples. Com carro também. Passei a maior parte da minha vida pilotando bólidos exóticos feitos de platina, equipados com motores que uivam, rugem e cospem fogo. E tudo o que eu quero quando estou indo para casa é um Ford Fiesta ST.
Ao longo dos últimos 40 anos, houve várias versões nervosas do Fiesta, que no geral eram coisas sensacionais – foguetinhos baratos, animação típica de filhote de cachorro e traseiras barulhentas. Então, quatro anos atrás, a Ford nos trouxe uma versão apimentada do Fiesta. Ele tinha motor 1.6 turbo, bancos tipo concha e suspensão recalibrada, e todo mundo achava que seria mais do mesmo.
Mas, na verdade, foi uma virada de mesa: o mais afetuoso e brilhante hot hatch que o mundo já viu. Nós todos ficamos embevecidos com o Golf GTI original e o Peugeot 205 1.9 GTI. Eles eram excelentes. Mas o pequeno Ford Fiesta ST? Ele estava em uma categoria diferente.
No uso cotidiano, nenhum carro era tão divertido. Ele parecia guiado por telepatia: você pensava na curva seguinte e ele a fazia, agarrando o piso quando você queria e escorregando quando você achava melhor que ele se comportasse assim. Se houvesse algo como um divertidômetro, esse carrinho ia levá-lo além do fim da escala.
E agora a Ford tentou torná-lo ainda melhor, lançando o que chamaram de ST200.
Bem, deixe-me fazer um resumo. Ele é um pouquinho mais potente que a versão normal, o que significa que ele é um pouquinho mais rápido. Bem pouquinho. Apenas 0,2 segundo mais rápido no 0-100 km/h.
Mas ele passa uma sensação de maior urgência, porque a última marcha é mais curta. O que não é bom para a economia de combustível. Nem para o meio ambiente. Mas é excelente para colocar um sorriso no seu rosto.
Digamos que você precise mudar rapidamente de faixa numa rodovia congestionada. Nenhum carro faz isso melhor. Em qualquer marcha. Em qualquer rotação. Num piscar de olhos, a manobra é feita. Eu já vi mosquitos menos ágeis.
E daí tem o barulho. Você espera que em um carro desse tipo faça um assobio do tipo daqueles disparos de fogos de artifício fazem. Mas, em vez disso, você ouve algo grave e profundo. Tem o som de uma batalha acontecendo ao longe. É maravilhoso.
Por baixo da carroceria, a suspensão traseira, autoestabilizante, está mais rígida, e na frente há uma barra estabilizadora maior. Significa que a plataforma é mais sólida, e que a Ford pôde amolecer molas e amortecedores. O que significa que você tem toda a compostura de que precisa, sem um rodar duro demais.
O único problema é que esses ajustes fizeram tanto sucesso, que a Ford também os aplicou ao ST normal. O que quer dizer que você paga 4.850 libras (R$ 19.700) a mais pelo ST200, para ser 0,2 segundo mais rápido que no ST mais barato. Humm.
Ah, sim, você tem uma pequena placa no console central em que diz ST200. Se ela fosse feita de ouro ou mirra, talvez a diferença de preço fosse justificável. Mas não é. É só um ímã de geladeira.
Exceto por isso, o interior é igual ao do ST comum, o que quer dizer que você tem bancos Recaro que são tão altos e tão grandes que reduzem o espaço para as pernas no banco traseiro ao ponto que só um anão caberia. E um painel de complexidade sem igual.
Quando o usei pela primeira vez, supus que minha incapacidade de trocar de estação de rádio ou ativar o GPS (nem vou falar em lê-lo, porque a tela é do tamanho de um selo) era porque sou velho. Mas não. Recentemente comprei um ST normal para minha filha mais velha, e como todo jovem ela mergulhou nos comandos, pressionando botões de um lado para outro, até que disse: “Vou ter de ler o manual”.
Então ligamos o carro, e. . . desastre. Uma das coisas inteligentes no ST é o recurso MyKey. Ele permite que você tenha uma chave para você e uma de reserva que você pode usar quando empresta o carro para, digamos, seus filhos adolescentes ou, no caso da minha filha, seu irmão.
A ideia é que você programe a chave de forma que, quando ela for usada para dar partida no carro, o motor produza menos potência. E o sistema de som permita um volume máximo de 2 decibéis. Na prática é uma ideia muito boa, mas o painel é tão complexo que até minha filha especialista em tecnologia conseguiu fazer um ajuste que fez com que as duas chaves a impedissem de ouvir mais que um sussurro das músicas tocadas.
Bem, de volta ao ST200. E… não sei. Exceto pela última marcha mais curta e aquele escapamento com barulho de gente grande, é basicamente igual à versão normal, só que mais caro. Por isso, eu compraria o modelo básico. E não estou dizendo em vez do ST200, ou em vez de qualquer outro hot hatch. Mas sim em vez de qualquer outra coisa nas ruas.