Da última sexta-feira (23) à próxima quarta (28), a capital paulista recebe a 25ª edição do São Paulo Boat Show, o maior salão náutico da América Latina. Ainda que o pavilhão lotado de iates e embarcações já impressione por conta própria, entretanto, os fãs de carros também têm motivos para curtir as tecnologias exibidas no evento.
Seja por conta dos motores a combustão, soluções mecânicas ou até tecnologias de automação veicular, os barcos também vêm evoluindo a passos largos, e muitos dos avanços obtidos nas ruas são compartilhados com as águas e vice-versa.
Suspensão marítima
Os corpos d’água não sofrem com buracos e asfalto ruim, mas as ondulações provocam enjoo muito pior aos passageiros aquáticos do que aos ocupantes de um carro. De maneira análoga à suspensão automotiva, já existem tecnologias que conseguem, entretanto, reduzir radicalmente o balanço das ondas.
Uma das mais consolidadas envolve o uso de giroscópios: instrumentos que aproveitam conceitos físicos para, com simplicidade, compensar o balanço de equipamentos tão diversos quanto uma câmera de vídeo e um iate.
No caso do estabilizador da japonesa Tohmei, um disco gira em alta velocidade e altera sua inclinação, aplicando ao barco o mesmo conceito que professor de física demonstram na sala de aula: a conservação do momento angular.
É um equipamento efetivo para amenizar a rolagem de um barco ancorado ou em baixas velocidades. Mas suas desvantagens incluem a necessidade de arrefecimento do motor, isolamento acústico e instalação em pontos específicos tanto por termos estruturais, quanto pelo centro de gravidade do modelo.
É por isso que a norueguesa Sleipner aposta numa alternativa diferente, com aletas que ficam direto na água. Elas funcionam ligadas a um atuador elétrico que detecta o balanço da embarcação e, em tempo real, gera uma força oposta através da superfície aerodinâmica, anulando o balanço.
A tecnologia parte de US$ 50.000, mas suas vantagens incluem não roubar espaço interno do barco, agir silenciosamente e servir para os diversos tipos de ondulação, incluindo as que ocorrem em altas velocidades.
“Lamborghini das águas”
É assim que o engenheiro da canadense Sea-Doo chama o RXP-X Apex 300, a moto aquática mais brutal da marca. O uso de Daniel Ricciardo não apenas na divulgação, mas no desenvolvimento do esportivo, dá conta de seu apelo. Mas o destaque fica por conta do motor 1.6 do jet, que utiliza um supercharger para atingir 304 cv.
A relação peso-potência é favorecida pelo uso de fibra de carbono na construção da máquina, que pesa meros 354 kg. O piloto conta com assentos esportivos de material premium e um quadro de instrumentos digital de 7,8’’, com conexão USB que emparelha o celular e o mantém bem protegido. Também há caixas de som e até launch control, para arrancada à moda da Fórmula 1.
Curiosamente, o RXP-X Apex 300 e outros produtos da Sea-Doo contam também com modo de condução: a fim de economizar combustível ou ganhar performance, é possível escolher as funções ECO e Sport direto no guidão, que conta com assistência hidráulica.
Quadro de instrumentos digital
Ao contrário dos carros, o “cockpit” de uma embarcação é mais personalizável. Na verdade, é possível instalar novas telas à medida que mais tecnologia é inserida: radares, sonares, GPS, etc. A Naviop, porém, criou um quadro de instrumentos digital com 1,5 m de comprimento, capaz de dar inveja ao Mercedes-Benz EQS.
Além de unir todo tipo de informação útil ao capitão, o display é, por si, uma demonstração da potência de sensores análogos aos de carros autônomos. Enquanto as primeiras fabricantes de carros começam a utilizar o lidar (equivalente a laser do radar), as náuticas apostam em sonares cada vez mais precisos. Através da reflexão de ondas ultrassônicas no fundo do corpo d’água, é possível ter uma imagem 3D que serve para identificar cardumes e evitar rochas, por exemplo.
O Corpo de Bombeiros de São Paulo adquiriu um desses equipamentos para o resgaste de vítimas: através da tela sensível ao toque, é possível tocar no ponto de interesse e obter, imediatamente, informações como as coordenadas geográficas, temperatura da água e profundidade — dados úteis no resgaste de vítimas de afogamento.
V8 a diesel de 1.300 cv
Uma das tecnologias mais identificáveis aos fãs da indústria automotiva está nos motores, que são bem parecidos com os de veículos pesados. A MWM foi uma expositora que se destacou ao exibir o motor V8-1300 da MAN, fabricado para diferentes tipos de embarcação.
A diferença mais visível está no arrefecimento do 18.0: como o motor fica em ambiente confinado, não é possível utilizar um radiador convencional. Desse modo, o líquido de arrefecimento é resfriado em um trocador de calor pelo qual passa água do mar ininterruptamente.
Curiosamente, os motores marítimos têm vida útil mais curta por (pasmem) funcionarem menos. Afinal de contas, um V8 parado no meio do mar está extremamente sujeito à corrosão por conta da umidade e dos sais. Para mitigar esse problema, o V8-1300 conta com metais de sacrifício — placas de metal que “atraem” pra si a oxidação. Materiais mais resistentes à corrosão e peças plásticas também são usadas quanto possível.
Pensando em evitar incêndios, também há alterações como no alternador — que contam com sistemas que mitigam faíscas — e nas bombas de combustível — com reforço contra vazamentos, já que, ao contrário dos carros, que derramariam diesel no asfalto, uma falha nas bombas faria o óleo escorrer dentro da casa de máquinas.