Nove meses após a invasão russa da Ucrânia, a indústria automotiva da Rússia segue lutando para sobreviver. Em meio a sanções, pressão política e conflitos éticos, praticamente todas as grandes montadoras baseadas na Rússia se retiraram, muitas vezes com grandes prejuízos.
Mas os russos precisam de carros, e o jeito foi improvisar recorrendo à nostalgia: após anunciar, em julho, que ressuscitaria a antiga Moskvich, ainda do período soviético, o governo de Moscou apresentou o primeiro resultado da medida, que é bem conhecido dos brasileiros.
O Moskvich 3, cujo início da produção está marcado para dezembro, será o primeiro carro à venda pela “nova” marca. O SUV médio, entretanto, nada mais é do que um rebadge do JAC JS4, que no Brasil é vendido na versão elétrica e-JS4.
Fabricante de caminhões local, a Kamaz é parceira de longa data da JAC, que, por ser chinesa, não tem problemas em realizar negócios com a Rússia, uma vez que não há sanções vigentes entre os países. A Kamaz, segundo relatos da imprensa, teria intermediado um acordo para que o JS4 chegasse desmontado à Rússia, sendo posteriormente montado na antiga fábrica da Renault, que agora é de propriedade russa.
Segundo a Reuters, há tantos problemas na montagem local que os veículos das fotos ainda exibiam adesivos da JAC. A fragilidade da linha de produção também é evidenciada pela meta de produção: apenas 600 unidades até o final do ano.
Dessas centenas, diz a Kamaz em nota, 400 serão movidas por motor a combustão, que pode ser o 1.5 turbo ou 1.6 turbo, com até 150 cv e 21,4 kgfm. As outras 200 unidades serão elétricas tais quais o e-JS4 vendido no Brasil. Nesse caso, o Moskvich 3 teria algo em torno de 150 cv e 34,7 kgfm.
Propaganda ou realidade?
Em uma indústria tão globalizada quanto a automotiva, obviamente as sanções aplicadas à Rússia são um grande desafio. Tanto que o gerente da fábrica ex-Renault, Maxim Klyushkin, celebra o fato do SUV ter ABS — um dos componentes básicos que foram retirados de outros modelos nacionalizados por lá.
Oficiais russos afirmam que, ao longo de 2023, a meta é vender 50.000 carros da Moskvich, dobrando a meta para 2024. Obviamente, isso exigiria uma cadeia de suprimentos robusta, e que parece improvável de ser construída só com países que não sancionaram a Rússia de algum modo.
Em tempos de guerra, nos quais todo tipo de declaração oficial pode estar modulada pela propaganda estatal, tal afirmação pede ainda mais cautela.