Até o fim de 2019 a Ford encerrará a produção de caminhões e do Fiesta hatch na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), mantendo ali apenas sua sede administrativa.
Além de pôr na berlinda cerca de 3.000 empregos diretos, a Ford coloca de lado o complexo que construiu sua história no Brasil.
O local começou a ganhar forma em 1952, quando a Willys-Overland se instalou ali. A produção de automóveis, porém, só teve início em 1954 com o Jeep Willys – que no ano seguinte seria substituído pelo CJ-5, que permaneceria em produção até 1983.
Em 1959 surgiriam a Rural 4×4 e o Renault Dauphine (produzido sob licença).
No ano seguinte foi a vez do grande sedã Aero. Em 61 a marca lançava a picape Jeep 4×2 (que viveria até 1984 como F-75), o esportivo Interlagos e, em 1966, o luxuoso Itamaraty.
A Willys trabalhava com a Renault no chamado Projeto M (de carro médio) em 1967, quando foi comprada pela Ford.
O projeto contemplava plataforma e motor Renault (o 1.3 Cléon-Fonte, lançado em 1962, com 68 cv), mas o design era adaptado ao gosto do brasileiro.
A Ford ainda teve tempo de fazer mudanças no motor, no câmbio e na suspensão antes de lançá-lo como Ford Corcel em 1968.
Àquela altura a Ford só produzia o Galaxie 500, a F-1000 e alguns caminhões em sua fábrica no bairro do Ipiranga, em São Paulo.
O Corcel começou a ser vendido antes mesmo do Renault 12, que só apareceu em 1969, junto com o gêmeo Dacia 1300. Este só saiu de linha em 2004, quando foi substituído pelo Logan. O Projeto M também teve vida longa no Brasil.
A fábrica de SBC passaria a produzir a Belina, perua derivada do Corcel, em 1970.
Em 1973 a novidade era o Maverick, primeiro com duas portas e depois com quatro. Tinha versões seis cilindros e V8, mas precisou recorrer a um 2.3 quatro cilindros para se tornar uma ameaça ao Chevrolet Opala.
Em 1977 surgiria o Corcel II. Ele mantinha a plataforma e até o entre-eixos de 2,44 m, mas tinha carroceria toda nova, inspirada nos Taunus e Cortina europeus. O motor era o 1.4 de 72 cv (brutos) dos últimos Corcel I.
O motor era fraco para o carro e, por isso, a Ford o aumentou para 1,6 litro e a potência chegou a 90 cv brutos (ou 71 cv líquidos, como se calcula hoje). A mudança ainda marcou a estreia de um câmbio manual de cinco marchas.
Foi com este motor que o Ford Del Rey fez sua estreia em 1981. Apesar das limitações da plataforma de origem Renault, tinha acabamento refinado e opção quatro portas.
O design era inspirado no Ford Granada e havia vidros e travas elétricos e até ar-condicionado integrado ao painel como opcional, o que ajudava a cumprir a missão de substituir o Maverick, extinto em 1979.
Em 1982 a fábrica de São Bernardo começava a fabricar a Pampa, a picape derivada do Corcel. A caçamba era inspirada na F-1000 e a suspensão traseira era de eixo rígido com feixe de molas, conceito mais robusto para cargas.
Em 1983 era a vez da Del Rey Scala, perua derivada do Del Rey. Mas o principal lançamento daquele ano foi o Escort, seu novo carro de entrada, igual em estilo ao vendido na Europa. Era o primeiro carro mundial da marca no Brasil.
Ele estreava os motores CHT, versão do Cléon-Fonte com novo cabeçote, em versões 1.3 (63,5 cv) e 1.6 (73,4 cv). Este segundo seria usado por toda a família Corcel e Del Rey a partir de 1984.
Com a chegada do moderno Escort, o Corcel foi perdendo espaço até sair de linha em 1986. A Belina, porém, continuou: para ganhar sobrevida, ganhou a frente do Del Rey em 1985.
As novidades seguintes dependeriam da Autolatina, joint-venture formada entre Volkswagen e Ford em 1987. Derivado do Escort, o sedã Verona surgiu em 1989.
Ele serviu como ponto de partida para o Volkswagen Apollo, o mesmo carro, porém mais requintado. Era um Volkswagen fabricado dentro da Ford.
O Apollo não vingou e saiu de linha em 1992. No ano seguinte, a Volkswagen usaria a nova geração do Escort para criar o Pointer, um hatch de quatro portas, e o Logus, um sedã de duas portas.
Em contrapartida, a Volkswagen fabricava os Ford Versailles e Royale, derivados do Santana, que substituíram o Del Rey e a Scala a partir de 1991.
Também havia troca de motores: enquanto alguns Ford eram equipados com motor VW AP, alguns VW (como o Gol 1000) saíam da fábrica com o motor Ford CHT.
Os carros derivados da Autolatina acabaram em 1996, junto com a joint-venture. O Escort, por sua vez, passou a vir da Argentina.
Para ocupar a fábrica, que ficaria apenas com a Pampa, a Ford resolveu nacionalizar o Fiesta, que chegava importado da Espanha desde 1995.
O Fiesta criou raiz em São Bernardo do Campo. Sua plataforma deu origem ao irmão menor Ka em 1997, mesmo ano que a picape Pampa foi substituída pela Courier, acabando de vez com o legado do Projeto M.
Em 2001, quando o Fiesta estava na iminência de ganhar uma nova geração (esta fabricada em Camaçari, Bahia, recém-inaugurada), a fábrica de SBC recebeu toda a produção de caminhões, que ainda estava no Ipiranga.
Quando o velho Ka saiu de linha, em 2013, o Fiesta retornou à unidade. Sua nova geração era importada do México desde 2010.