A Europa também deseja criar regras específicas para minicarros, uma inspiração que vem dos kei cars japoneses. A ideia partiu da ACEA, a associação de fabricantes automotivos européia, que deseja enquadrar os minicarros em uma categoria mais vantajosa de legislação.
É necessário explicar o que é um kei car. Também chamados de keijidosha, ou carros leves, os modelos têm limitações de tamanho e motorização. A categoria inclui veículos de até 3,4 metros de comprimento – 28 centímetros a menos que um Renault Kwid -, motorização de até 660 cm3 e 64 cv de potência.
Com impostos inferiores e, em alguns lugares, menores restrições aos lugares em que podem ser estacionados, os carrinhos se tornaram símbolos do mercado automotivo japonês. No entanto, os incentivos fiscais começaram a diminuir nos últimos dez anos.
O pleito da ACEA busca suavizar as regras automotivas cada vez mais rígidas dos mercados europeus. Luca de Meo, CEO do grupo Renault e presidente da associação, apresentou um manifesto que busca criar essa nova categoria de automóveis, uma classe que sofreria menos com as restrições de circulação e estacionamento, por exemplo.
Ao contrário dos japoneses, o foco é a eletrificação. Os pequenos veículos elétricos também teriam incentivos fiscais e pagariam tarifas menores nos pedágios.
“Quando você consegue atender certas necessidades específicas como a mobilidade urbana, você tem uma especificação técnica que permite uma bateria muito menor. Você não precisa de 50 ou 60 kWh de bateria, porque isso eleva o preço de um carro elétrico. Porque, quando você olha o uso desses produtos, o que podemos propor é atender exatamente o usuário da coisa, mas sem o custo de um carro que deve fazer tudo”, diz Luca de Meo, que ressalta que aumentar o peso e dimensões dos automóveis apenas eleva o preço deles.
O executivo ainda lembra que a média de rodagem de um típico motorista europeu é de apenas 30 km por dia, com velocidade média de 26 km/h. “Você não precisa de uma bateria de 100 kWh, o que é, aliás, é meio que um desastre ecológico”.
“Quando olhamos para mercados como o Japão, 40% dos carros são kei cars. Não é porque o Japão é um mercado pobre, é porque eles reconhecem que, em grandes cidades, é melhor dirigir carros pequenos porque eles ocupam muito menos espaço. Assim, eles podem ser mais baratos, pois, se você não vai fazer 130 km/h em rodovias, você não precisa de baterias maiores”, analisa o executivo e chefe da associação.
A necessidade de incentivos é um ponto importante. Luca de Meo lembra que os segmentos de carros menores deixaram de ser lucrativos, uma vez que eles tiveram que transformar tais modelos em “árvores de Natal”, tirando a competitividade deles e entregando mais do que o consumidor precisa em um carro pequeno. Oferecer incentivos para veículos menores e mais leves poderia ser uma maneira de recuperar a competitividade dos automóveis de acesso.