A gaúcha Giovana Toso, 29 anos, descobriu aos 23 que gostaria de ser mecânica de automóveis. O que realmente fazia os seus olhos brilharem era consertar carros.
“Sou formada em processos gerenciais e comecei a minha carreira profissional em uma distribuidora de peças, na área administrativa. Mas, ao visitar as oficinas, que eram as minhas clientes, eu sabia que era lá que era o meu lugar”, conta Giovana.
Para realizar esse sonho ela largou o emprego fixo, boa remuneração e estabilidade para trabalhar na oficina Fulljet, localizada em Ijuí (RS), a cerca de 28 km de sua cidade natal, Ajuricaba (RS).
“Por lá eu comecei do zero. Era assistente dos mecânicos, fazia de tudo um pouco, desde lavar peças e limpar o chão da oficina, que era branco, inclusive”, brinca Toso.
Ela garante que só conseguiu começar de novo graças a ajuda dos pais, pois o que ganhava era o suficiente para alimentação e combustível do seu VW Gol G4 que percorria 56 km para ir e voltar do trabalho.
“Essa oficina era reconhecida pelo atendimento e por ser muito bem equipada e por isso aprendi muito. O dono da oficina deixava eu me virar pra solucionar um problema e isso fez com que eu aprendesse de forma profunda e detalhada.” Ela conta que demorou três horas para trocar uma bobina de ignição de uma Chevrolet Montana, serviço que hoje não leva mais do que cinco minutos.
Mudança de vida e de cidade
Em março de 2020 quando a pandemia começou, Giovana acabou perdendo o emprego na oficina devido a instabilidade econômica do período. Um pouco depois começou a trabalhar em uma concessionária, na área administrativa, mas entrou com a promessa do chefe que assim que abrisse uma vaga na área da oficina ela seria transferida de área. “A vaga abriu e abriram processo seletivo para ocupá-la, sendo assim, pedi demissão, pois o meu foco e meu sonho era trabalhar em oficina”, afirma Giovana.
Ela acabou conhecendo um grupo de mulheres donas de oficinas que chamavam Gaúchas Car (atualmente como Instituto MV8) e foi convidada para conhecê-las em Porto Alegre, que ficava a 500 km de sua cidade. Após o encontro recebeu cinco propostas de emprego nas oficinas e mudou-se para Porto Alegre em uma semana.
Por lá, passou por três oficinas e na terceira teve a oportunidade de fazer um serviço completo sozinha. “Eu troquei a correia dentada de uma Nissan Livina, um serviço até simples, mas complexo pra quem está começando. Fiquei o dia inteiro apenas nisso, mas quando girei a chave e deu a partida sabia que estava pronta para qualquer serviço”, conta.
Logo depois recebeu uma proposta para trabalhar em uma oficina dentro do shopping de Porto Alegre como gerente de oficina. “Estava realizada nesse momento, podia continuar colocando a mão na massa e a remuneração era melhor.” Porém, um grupo de amigas começou a insistir para ela se inscrever em um reality show de mecânica automotiva promovido pela revista O Mecânico.
“Em um primeiro momento recusei a ideia, mas depois fiz a inscrição e respondi o questionário de conhecimentos gerais em nove minutos, acabei sendo selecionada por ser a mais rápida.”
A competição foi realizada com dez participantes, sendo a Giovana a única representante feminina. Foram sete dias de gravações em São Paulo. “Foi a experiência mais intensa e cansativa fisicamente e emocionalmente da minha vida.”
Na prova final Giovana teve que encontrar três defeitos em um Hyundai HB20. Ela fez o diagnóstico correto, corrigiu todos os problemas e fez o motor funcionar sem falhas em apenas 50 minutos de prova.
O outro competidor só descobriu dois defeitos: conector do motor de partida desligado e relé da bomba de combustível fora de lugar. O terceiro defeito que era um plástico obstruindo a passagem de ar para dentro do motor só foi descoberto pela Giovana.
“Eu entrei na competição ciente que teriam competidores muito mais experientes e só tinha medo de ser eliminada em alguma prova muito simples e no decorrer das provas percebi que o meu ponto forte era o controle emocional e o tempo que dedicava para analisar o problema.” conta Giovana.
Ela ganhou R$ 20.000, um kit de oficina com 82 itens e até uma proposta de emprego: foi convidada para trabalhar na Tonimek, uma oficina reconhecida pela excelência em serviços de reparação.
“Me mudei para São Paulo e estou muito feliz com a oportunidade única de desempenhar o papel que eu sempre quis. O meu objetivo é abrir o caminho para outras mulheres que queiram trabalhar em oficina e que possam encontrar um ambiente com menos preconceito e assédio, que eu infelizmente sofri um pouco”, conclui Giovana, que atualmente também promove conteúdos de procedimento técnico de instalação de peças no canal da Tonimek e a partir de 2024 vai ministrar cursos de manutenção automotiva.