Embraer KC-390: conhecemos o maior veículo sobre rodas feito no Brasil
Mais moderno e versátil que qualquer outra aeronave militar nacional, ele foi desenvolvido para uso em diferentes missões. Seu preço? US$ 65 milhões!
O Brasil não tem uma marca nacional de automóvel. Mas manda bem no setor aeronáutico com a Embraer.
O mais novo produto da empresa, o avião militar KC-390, ainda nem chegou ao mercado, mas já é visto como o mais moderno da categoria, com recursos que superam os rivais e tecnologia de ponta.
O único ponto em comum do KC-390 com os automóveis está no trem de pouso, que tem quatro rodas em cada braço. Mas isso foi suficiente para nos estimular a conferir de perto a tecnologia do avião.
Afinal, não é só das competições automobilísticas que vêm soluções que depois são incorporadas aos veículos de passeio.
Vários equipamentos que existem hoje nos carros surgiram nos aviões, como o sistema antitravamento de freios ABS e o projetor de informações no para-brisas, o chamado head-up display.
Apesar de ser o maior veículo sobre rodas feito no Brasil (35 metros de comprimento e envergadura e 51 toneladas de peso, vazio), o KC de perto é menor do que eu imaginava para um cargueiro.
Mas quem sou eu para dizer que o KC é pequeno se em seu compartimento de cargas ele pode levar até um helicóptero?
Segundo a Embraer, com um volume interno de 169 m³, o KC pode ser configurado de acordo com necessidades dos militares.
Pode, por exemplo, levar sete pallets de 463 litros ou 80 soldados ou 66 paraquedistas ou dois blindados 4×4 (como o Oshkosh M-ATV) ou até um helicóptero igual ao S70-A Blackhawk, ou a combinação desses tipos de carga, em quantidades menores.
Segundo a Embraer, o KC-390 tem capacidade para até 26 toneladas a bordo, podendo pousar em pistas curtas e sem pavimento ou danificadas.
A carga de diferentes formas e tamanhos pode ser lançada de modo manual ou automático, com o auxílio de um dispositivo que calcula o ponto ideal de lançamento para se atingir a zona desejada.
Ele se baseia em informações como altitude e velocidade da aeronave e a influência do vento.
No piso do cargueiro existem sensores que avaliam o peso e a localização da carga e enviam essas informações para a central de comando de voo fly-by-wire, que monitora o comportamento do avião e responde a essa dinâmica.
Por dentro da aeronave, o que chama mais a atenção é a cabine, com suas cinco telas LCD de 15 polegadas, e os inúmeros comandos, no console e no teto da aeronave.
Além dos assentos do piloto e do copiloto, há um terceiro posto de comando, com uma estação adicional contendo display integrado, sistema de comunicação e controles de missão, para um engenheiro de voo, que pode auxiliar nas diferentes manobras.
Como nos caminhões com cabine estendida, existe também uma cama na parte traseira.
No compartimento de carga, há outra estação para um quarto tripulante, que é o responsável pelo manejo da carga (incluindo soldados, paraquedistas e quem mais viajar nesse compartimento).
Como nos jatos comerciais, há uma pequena copa para café e refeições rápidas e um banheiro.
989 KM/H de velocidade
O KC-390 é um avião que pode ser usado em diferentes missões.
Segundo a Embraer, ele foi criado para as seguintes tarefas: transporte (carga e tropas), reabastecimento em voo, combate a incêndios, socorro médico, ajuda humanitária e busca e salvamento.
Muitas de suas características, portanto, foram desenvolvidas para atender a esses diferentes tipos de usos.
Além da construção robusta e a sofisticação no compartimento de carga, a aerodinâmica do avião foi trabalhada não só para aumentar a eficiência energética.
Ela também permite o reabastecimento em voo de helicópteros (que ocorre em baixa velocidade e altitude) e o desembarque dos paraquedistas tanto pela cauda quanto pelas laterais (numa aerodinâmica ruim, os paraquedistas não poderiam saltar pelas laterais, sob risco de serem arremessados contra a fuselagem).
O KC-390 foi projetado para ser um jato de carga rápido e capaz de cobrir grandes distâncias.
Ele é equipado com dois motores (turbofan Pratt & Whitney IAE V2500), cada um com 139.400 N de empuxo 34.332 mkgf de torque (748 motores de Toyota Hilux 2.8 turbodiesel).
Sua velocidade de cruzeiro máxima é de 0,8 Mach (unidade de medida de velocidade utilizada para os jatos) ou 989 km/h.
Segundo a Embraer, o KC é 40% mais veloz do que qualquer cargueiro de transporte militar da atualidade no mesmo segmento. E sua autonomia (sem carga) chega a 3.310 nm (milhas náuticas) ou 6.130 km.
Partindo de Manaus (AM), ele consegue voar, por exemplo, até Ushuaia, no sul da Argentina, ou até Gander, na costa leste do Canadá. Isso sem considerar o uso de tanques adicionais que o KC pode levar, aumentando seu alcance para 8.519 km.
A altitude de cruzeiro é 18.000 pés, quase 5.500 km.
Entre os equipamentos a bordo, além do conjunto de dispositivos eletrônicos de controle de voo, navegação, comunicação, piloto automático, radares e diagnóstico, reunidos nas cinco telas de LCD do cockpit, o KC possui:
Sistemas de pressurização e de ar-condicionado, head-up display duplo, sistema de visão noturna (interna, externa e cockpit) e dispositivos de segurança para detecção e anúncio (alertas de radar, laser e aproximação de míssil) e proteção eficaz com recursos como chaff e flare.
Estes dois últimos são artefatos usados para enganar os mísseis: os chaff são metálicos e servem como iscas para os mísseis orientados por radares, enquanto os flares são incandescentes, feitos para os mísseis guiados por calor.
O programa do KC-390 foi anunciado em 2009 e, em 2014, a FAB assinou o contrato para adquirir 28 aeronaves. O primeiro voo experimental aconteceu em 2015. E, este ano, a Embraer apresentou o modelo finalizado.
A empresa não informa o preço do cargueiro. Segundo ela, as aeronaves do segmento de defesa não possuem preço de lista, pois cada cliente exige uma configuração específica e isso pode alterar significativamente o valor de cada aeronave.
Segundo os especialistas, porém, o custo estimado do KC ficaria entre US$ 65 milhões e US$ 70 milhões.
A Embraer começou a produzir o KC-390 em abril de 2019 e a previsão é de que a primeira unidade seja entregue à FAB, que participa do projeto desde o início, ainda este mês.
O KC nem chegou, mas, além do fornecimento à FAB, já tem cinco unidades vendidas para Portugal e algumas em negociação para outros países. Assim como vários aviões da Embraer, esse também deve fazer sucesso internacional.