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Conserto de garagem

Com instrumentos apropriados, motociclistas dão show na manutenção

Por Mário Curcio
Atualizado em 9 nov 2016, 11h49 - Publicado em 27 jan 2011, 18h36
Conserto de garagem

Não é raro motociclistas montarem oficinas em casa para realizar a manutenção de suas motos por conta própria. Para boa parte dos amantes das clássicas, colocar a mão na graxa faz ainda mais sentido, uma vez que não é fácil encontrar mecânicos profissionais que aceitem fazer a manutenção das raridades – ou que tenham capricho e conhecimento para tanto.

Há também outras motivações, até mesmo a história familiar. O jornalista Gabriel Marazzi é um bom exemplo. Seu pai, Expedito Marazzi, foi editor responsável pelos testes de QUATRO RODAS nos anos 60/70. Incentivado pelo pai, Gabriel já acelerava aos 10 anos. E logo começou a fuçar em seus brinquedos. Primeiro desmontou um minibugue, depois uma moto alemã Zundapp 100. “Larguei o buguinho e comecei a pilotar essa motocicleta, que desmontava para ver como era.”

Aos 51 anos, Marazzi assume que a gasolina faz parte de sua história. “Sempre tive oficina em casa. Meu pai era engenheiro e trabalhou na metalúrgica da família. O pai dele, meu avô, fabricava peças para os Ford durante a Segunda Guerra Mundial. Meu avô materno também era mecânico: trabalhava na Estrada de Ferro Sorocabana e tinha uma oficina de automóveis.”

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Desde cedo Marazzi dispunha de ferramentas à mão. “Só comprava aquelas específicas para certo serviço. Ainda guardo todos os itens dessa época”, diz, orgulhoso. Claro, nem tudo dá sempre certo: “Uma vez comprei um par de buzinas Mini Fiamm (moda nos anos 70) e me meti a instalar numa Honda CB 125S. Quando as liguei no lugar da original, o botão da buzina derreteu”, diz, divertindo-se.

Marazzi chegou a fazer um curso sobre carburadores. “Eram componentes importantes na época e me especializei neles.” Hoje ele usa esse conhecimento para cuidar de suas inúmeras preciosidades, como uma Honda CB 450 DOHC 1971 que herdou do pai e uma Yamaha GT 50 Mini Enduro, restaurada em cada detalhe.

Outro motociclista com graxa na alma é o tradutor André Etienne Lieutaud, de 62 anos. As mãos calejadas confirmam que ele mexe para valer em suas três motos, uma BMW 1100 GS 1997 e duas Cagiva 900, ambas de 1995. Na garagem, além de dois armários de aço, um com peças e outro para lubrificantes e até tintas, que usa para retocar as motos, há um quadro de ferramentas completo e até equipamento para alinhar rodas. Lieutaud anda de moto desde os 20 anos e frequentemente viaja com elas pelo Brasil e Europa. “Se eu juntasse todas as viagens, daria uns 800000 km. Na estrada elas têm de estar impecáveis, para não causar vibração nem desgaste irregular dos pneus”, afirma.

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Também amante das Cagiva equipadas com motores Ducati, o empresário Carlos Augusto Fazoli é outro que gosta de cuidar pessoalmente de sua moto. Na garagem da casa materna, onde também guarda um belo Ford A 1929, ele apoia sua Elefant 750 Lucky Explorer 1995 em cavaletes, para executar revisões elétricas, trocas de correia dentada, velas e pastilhas de freio. “É importante ter um espaço reservado, mas a família deve poder participar e aprender”, diz Fazoli. Ele recomenda que o aspirante a mecânico ligue-se a um grupo de apreciadores e conhecedores do modelo (por exemplo, uma comunidade na internet) para trocar informações. Ele participa do Desmogroup, que reúne donos e fãs das Cagiva com alma de Ducati, como a dele.

CASA-OFICINA Há cerca de um ano, o dentista Carlos Ferrari Genovese, de 54 anos, e mais dois amigos resolveram alugar um sobradinho onde poderiam guardar e reparar suas motos antigas. Assim fundaram o Old Cycles. Na sala ficam as joias da coroa, como as raras Honda 350 Four 1974 (só duas teriam vindo ao Brasil) e Honda 750 Four 1978 com transmissão automática (trazida recentemente e com pouco mais de 800 milhas no velocímetro), além de uma bicicleta motorizada Victoria 1953.

As ferramentas são de primeira linha, algumas sem uso, e repousam em gaveteiros de aço com rodinhas. No quintal, bancada e lavador de peças permitem um trabalho sem improvisos. “Mexo nas motos como hobby desde adolescente e herdei as ferramentas de meu pai. Alugamos este espaço porque moramos em apartamento.”

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Também por necessidade de espaço, o empresário e colecionador Carlos Ferrari e outros quatro amigos alugaram um galpão onde guardam e restauram motos antigas. Hoje com 59 anos, Ferrari começou a consertar os próprios veículos aos 12, quando andava em uma bicicleta motorizada. “Ferramenta é uma coisa que a gente começa a comprar e não para mais.” No espaço alugado, elas servem para desmontar modelos americanos, japoneses e europeus. Como não nega sua origem, Ferrari gosta mais das italianas.

De tão experiente que ficou, ele percebe os improvisos de mecânicos anteriores: “É comum ver gambiarras e adaptações feitas no passado para manter a moto em uso”.

“É importante ter um espaço dedicado, uma bancada em que você jogue um pano em cima e ninguém mexa, porque às vezes é preciso parar o trabalho no meio e retomar dias depois”, afirma Ferrari. Também faz parte da brincadeira, segundo ele, alguma diplomacia, como negociar com a mulher: “Trocar alguns dias de transtorno e sujeira por uma peça de teatro e um bom jantar no fim de semana”.

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VOU CHAMAR O SÍNDICO Segundo Márcio Rachkorsky, advogado especializado em direito contratual e condomínios, usar a garagem dos edifícios pode dar zebra. “A maioria dos regulamentos internos proíbe qualquer tipo de manutenção, em regra por causa dos transtornos que isso pode causar. Alguns condomínios fazem vista grossa, outros autorizam pequenos reparos, desde que não haja sujeira.”

Rachkorsky diz que a postura dos condomínios em relação aos motociclistas vem mudando. “Esse é um assunto que pode ser levado às assembleias. Há mais motos atualmente, e os motociclistas vão naturalmente exigir maior respeito”, afirma. Como parte dessas mudanças, o advogado recorda que hoje já há condomínios com vagas para moto, espaço para lavagem de veículos ou até mesmo dedicado a quem gosta de fazer consertos.

Hubert Gebara, diretor de uma grande administradora de condomínios, fala em aplicar o tradicional bom senso. Para o empresário, coisas básicas, como esticar uma corrente, devem ser permitidas, desde que o morador não faça sujeira nem barulho – e só ocupe a vaga da moto ou a do próprio carro. “Mas não se pode querer pintar ou desmontar toda a motocicleta na garagem de uso comum”, diz.

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FERRAMENTAS ORIGINAIS

Para manutenção básica, ou para levar em uma viagem, as fábricas fornecem estojo original de ferramentas, com as chaves necessárias para as principais operações, como tensionamento da corrente (ou correia) e troca da vela de ignição. “É possível comprar o kit original na rede de concessionárias”, afirma o gerente de serviços pós-venda da Honda, Christian Okuda. As revendas da marca pedem em média 390 reais pelo estojo da descontinuada VT 600 Shadow. Para a também finada Suzuki Intruder 250, o jogo de chaves sai por volta de 130 reais. Nas autorizadas Yamaha, o kit da Drag Star 650 (fora de linha) custa cerca de 240 reais. O kit de ferramentas da Triumph (foto) chega ao Brasil por cerca de 400 reais.

FAÇA VOCÊ MESMO

Uma oficina razoavelmente completa sai por cerca de 6000 reais. Um quadro de ferramentas com itens como conjunto de chaves de fenda e Philips, alicates, martelos e chaves combinadas, por exemplo, sai em média a 1400 reais. Uma bancada com morsa fica por volta de 920 reais. Para motos mais pesadas, um elevador pneumático custa cerca de 1900 reais. Para que ele opere, será necessário compressor de ar. Com uma pistola de pintura e acessório para encher pneus, sai por cerca de 1800 reais. Um elevador a pedal custa cerca de 1700 reais. Com ele, a soma cai para cerca de 4050 reais. A oficina pode incluir um carrinho para ferramentas, que começa em 330 reais, com uma gaveta, e supera 1300 reais com seis compartimentos. Os preços, de setembro, são das lojas https://www.galmar.com.br, https://www.brferramentas.com.br e https://www.silmarferramentas.com.br, todas localizadas no estado de São Paulo.

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