O Campeonato Mundial de Endurance (WEC) está de volta a Interlagos em uma temporada que marca a estreia de vários fabricantes de automóveis na competição. A maioria delas se vale da aproximação do regulamento com a IMSA (Associação Internacional de Esporte a Motor, que regulamenta o principal campeonato de endurance na América do Norte) para a classe Hypercar (LMH).
Os hypercars podem funcionar como um laboratório de tecnologias para as fabricantes, pois, independente da origem dos carros, são híbridos. Mas há sistemas diferentes na mesma categoria.
As diferenças técnicas entre os LMDh e os LMH
Carros homologados para a IMSA SportsCar Championship utilizam motor, eletrônica e câmbio padronizados. Motor, eletrônica e software são da Bosch, enquanto a Williams Advanced Engineering fornece a bateria de 800V com capacidade energética de 1,35 kWh. Já o câmbio é sempre um câmbio sequencial de 7 marchas da Xtrac. São os chamados LMDh (Le Mans Daytona h).
O motor elétrico é instalado entre o motor V8 e o câmbio e é responsável pela também pela frenagem do eixo traseiro. Daí vem uma característica curiosa: se por um lado pode funcionar como um boost entre 40 e 68 cv, por outro sua capacidade de regeneração pode ser equivalente a até 233 cv.
Já os Le Mans Hypercar ou LMH são exclusivos para a WEC e têm projeto de motor livre, desde que seja a gasolina, de quatro tempos e baseado em um motor de produção, com bloco e peças fundidas do cabeçote compartilhadas com o motor base, e virabrequim até 10% mais leve, mas sem mudança nos cames.
Os motores elétricos, neste caso, não podem exceder os 272 cv e sempre devem impulsionar as rodas dianteiras. Só podem mover o carro no pit lane ou acima dos 120 km/h quando com pneus slick para tempo seco ou a partir dos 140 km/h quando com outro tipo de pneu. Por isso, os LMH têm freios traseiros hidráulicos e motor de partida, funções que nos LMDh são exercidas pelo motor elétrico traseiro.
Isso faz parte da equalização do desempenho entre os LMH e os LMDh, que ainda contempla uma equalização de potência máxima disponível em 680 cv, pacotes aerodinâmicos específicos e a obrigatoriedade de um peso mínimo, de 1.030 kg.
Por isso, quando o motor elétrico entra em ação, a potência do motor de combustão interna diminui automaticamente. Os regulamentos estipulam a potência com precisão, com um equilíbrio entre os motores definido automaticamente. Cabe às equipes aprimorar essa combinação entre os motores.
Porsche 963 – Porsche Penske Motorsport
A Porsche lidera a classificação de construtores na atual temporada da WEC. O Porsche 963 é usado pela Porsche Penske Motorsport (com o piloto brasileiro Felipe Nars), equipe oficial da fabricante, e também pela Hertz Team Jota (que tem Jason Button como um dos pilotos). Pode ser facilmente reconhecido pelos faróis com quatro pontos de led, como nos Porsche de rua mais novos.
O Porsche 963 é baseado em um chassi LMP2 da Multimatic, mas seu motor é baseado naquele que era usado no Porsche 918 Spyder, lançado em 2013 e que já era híbrito. É um V8 4.6 com dois turbos trabalhando a apenas 0,3 bar para não ter turbo lag. Mais de 80% dos componentes são os mesmos de um 918. Entre as vantagens deste motor está o baixo centro de gravidade. Além do mais, gera até 700 cv – mas a limitação da competição é 680 cv.
O mesmo carro é utilizado, também, pelas equipes Hertz Team Jota e Proton Competition. A Porsche ainda está na categoria LMGT3 com o Porsche 911 GT3 R.
Cadillac V-Series.R – Cadillac Racing
Após um hiato de 20 anos, a Cadillac retornou à WEC com sua equipe própria e o Corvette Z06 LMGT3.R na categoria LMGT3 e o protótipo Cadillac V-Series.R LMDh, que corre na categoria Hypercar. O carro foi desenvolvido pela Cadillac e é fabricado pela Dallara. A carroceria é de fibra de carbono.
O que tem de especial é o motor motor V8 5.5 DOHC aspirado, com potência total de 680 cv. Como é um protótipo Le Mans Daytona h tem o motor a combustão trabalhando junto ao sistema híbrido padronizado da competição. Os blocos de leds empilhados para formar os faróis remetem aos Cadillac de rua.
Toyota GR010 – Toyota Gazoo Racing
Em sua quarta temporada, o Toyota GR010 alcançou um nível de maturidade que permitiu à equipe explorar melhorias em custos, dirigibilidade e facilidade de manutenção. Mas o protótipo criado pela Toyota para o Mundial de Endurance ainda é bastante peculiar.
Ele combina um motor V6 3.5 twin-turbo de 700 cv com o câmbio sequencial de 7 marchas padronizado, mas o motor-gerador de 272 cv, desenvolvido pela AISIN AW e DENSO está montado no eixo dianteiro. Quando o motor elétrico atua o motor a combustão automaticamente tem sua potência reduzida para que não exceda os 680 cv limitados. A bateria é da própria Toyota e não tem capacidade divulgada. Seu peso mínimo é de 1.040 kg.
Isotta Fraschini Tipo6-Competizione – Isotta Fraschini
A Isotta Fraschini disputa a temporada 2024 do WEC com apenas um carro e sem ter somado pontos até então. Seu carro, o Tipo6-C foi desenvolvido pela Michelotto, que por décadas foi um braço esportivo da Ferrari, e até tem uma versão de rua com quase 1.000 cv. Contudo, a equipe ainda não pontuou na temporada 2024.
Dentro das pistas, ele segue um conceito construtivo similar ao da Toyota, com um motor AMG V6 3.0 biturbo impulsionando as rodas traseiras, combinado a um câmbio sequencial, enquanto um motor elétrico de 272 cv impulsiona as rodas dianteiras. Também tem freio hidráulico traseiro, mas seu peso mínimo é 1.030 kg.
BMW M Hybrid V8 – BMW M Team WRT
A BMW está estreando na WEC nesta temporada com um BMW M4 na categoria LMGT3 e um Hypercar, este um carro desenvolvido sobre um chassi fabricado pela Dallara. E está indo relativamente bem, com uma 5a posição no campeonato de construtores.
O BMW M Hybrid V8 tem motor V8 4.0 biturbo com 649 cv desenvolvido a partir do que foi usado pelo M4 DTM entre 2014 e 2018 combinado ao sistema híbrido padronizado, com motor elétrico de 68 cv montado entre o V8 e o câmbio sequencial de sete marchas. Só com ele para chegar aos 680 cv estabelecidos para a categoria.
Alpine A424 – Alpine Endurance Team
Outra estreante da temporada 2024 da WEC, a Alpine Endurance Team tem um carro que praticamente não utiliza componentes Renault ou Alpine. Mas é curiosa a lanterna traseira do carro, que é exatamente o logotipo da Alpine.
O Alpine A424 é desenvolvido sobre um chassi Oreca e utiliza um motor V6 3.4 turbo de 675 cv que, na verdade, é uma versão muito modificada do Mecachrome V634 utilizado na Fórmula 2. A ele é combinado o sistema híbrido padronizado, com motor elétrico de até 68 cv montado antes do câmbio de sete marchas. O peso mínimo é de 1.030 kg.
Ferrari 499P – Ferrari AF Corse
A Ferrari retornou ao Mundial de Endurance em 2023 para marcar os 50 anos dos últimos protótipos da marca que correram em Le Mans. Tanto seu protótipo Hypercar quanto a Ferrari 296 LMGT3 utilizam o mesmo motor V6 3.0 biturbo.
No Hypercar, este motor é parte estrutural do chassi desenvolvido pela própria Ferrari e gera 680 cv. Na dianteira vai montado o motor elétrico capaz de entregar 272 cv acima dos 120 km/h, e que é alimentado por uma bateria de 900V da própria Ferrari. A escuderia está em segundo lugar no campeonato de construtores desta temporada. O mesmo carro é utilizado pela equipe AF Corse.
Lamborghini SC63 – Lamborghini Iron Lynx
A Lamborghini estreou tanto na WEC quanto na IMSA SportsCar Championship neste ano com um carro desenvolvido sobre um chassi Ligier e, por ser um LMDh, com sistema híbrido padronizado.
Seu motor a combustão é um V8 3.8 twin-turbo construído do zero pelos engenheiros da Lamborghini especificamente para as corridas. É o que chamam de V-Frio, pois os turbocompressores não ficam entre as bancadas dos cilindros, mas fora para melhorar o arrefecimento e facilitar a manutenção, ao passo que dizem melhorar a estabilidade nas pistas. Este motor gera 680 cv e é combinado ao elétrico de 68 cv padrão.
Peugeot 9X8 – Peugeot TotalEnergies
O Peugeot 9X8 estreou na WEC em 2022, mas foi profundamente modificado para 2024. Possui chassi próprio para a categoria LMH (Le Mans Hypercar). Está na sexta posição no campeonato de construtores desta temporada.
O 9×8 é equipado com motor V6 2.6 biturbo de 680 cv feito sob medida, mas seu bloco está relacionado ao V12 do antigo 908 HDi (a diesel). O motor elétrico dianteiro tem 272 cv e é alimentado pela energia armazenada em uma bateria de 900V fornecida pela TotalEnergies. Por conta da medida dos pneus, o motor elétrico só entra em ação acima dos 150 km/h.
A largada da 6 Horas de São Paulo acontece neste domingo, 14 de julho, a partir de 11h30 (horário de Brasília), com transmissão ao vivo e na íntegra pelo canal BandSports na TV por assinatura, canal no YouTube Esporte na Band, site da Band e no aplicativo Bandplay.