O processo de instalação de uma fábrica de automóveis é demorado. Há questões de construção civil, maquinário, treinamento dos funcionários e definição de processos. Mas a BYD, que lançou pedra fundamental de sua fábrica na Bahia em outubro de 2023 e iniciou as obras há duas semanas quer ter carros nacionais ainda em 2024. Como fará isso?
Já estão com produção no Brasil confirmada o SUV híbrido Song Plus e os elétricos Dolphin, Dolphin Mini e Yuan Plus. Para isso, nesta semana até aumentou investimento na operação brasileira, de R$ 3 bilhões para R$ 5,5 bilhões.
Todos serão fabricados em Camaçari (BA), na antiga fábrica da Ford. A empresa prevê um ritmo de produção inicial de 150.000 unidades por ano, já prevendo que essa capacidade dobre futuramente numa segunda fase. Por um tempo, terá capacidade menor do que nos tempos da Ford, quando podia fazer 250.000 carros por ano. Mas o maquinário que era usado é considerado obsoleto hoje.
De toda forma, alguma infraestrutura que já existe ajudará a agilizar o início das operações. Por exemplo, os galpões que já existem serão usados em uma operação de montagem de carros no Brasil com kits de peças importados da China. Seria uma operação SKD, com carrocerias que já chegam soldadas, pintadas e, muitas vezes, com parte dos acabamentos internos montados. Mas essa etapa, a fabricante reforça, vai durar muito pouto tempo.
Nesse regime de produção a montagem dos carros será finalizada no Brasil sem demandar, por enquanto, a ativação de uma linha de pintura ou muitos robôs. É uma operação que depende de mais mão de obra e envolveria a montagem dos sistemas elétricos, de suspensão, freios e de tração dos carros. O ritmo de produção também é menor, mas o suficiente para complementar as importações.
Isso porque ajuda a reduzir a demanda pelo transporte especializado de automóveis prontos em navios: os kits de carros desmontados podem ser transportados em containers convencionais, aproveitando a rota de mais navios.
De toda forma, é o processo mais fácil e rápido para a BYD poder dizer que tem carros nacionais ainda em 2024. Ainda que esses primeiros carros não sejam tão nacionais assim, ajudarão no desenvolvimento da cadeia de fornecedores nacionais de forma gradual.
Audi, Land Rover e BMW (para X3 e X4) têm operações de SKD no Brasil com índice mínimo de componentes nacionais. Elas se valem de um regime especial de tributação: em vez de 35% de imposto de importação, pagam 18% para o regime SKD ou 15% caso seja CKD, ou seja, com peças importadas mas com processo de soldagem e pintura no Brasil. Mas o benefício só vale até o limite de 4.000 carros por ano.
Quando a BYD vai fabricar carros no Brasil?
A BYD não esconde que o processo de fabricação carros no Brasil vai começar, efetivamente, em 2025. Neste ponto, a fabricante chinesa avançaria para o processo de produção, iniciando os processos de armação, soldagem e pintura da carroceria na fábrica de Camaçari. Também neste momento 25% dos componentes passarão a ser fabricados no Brasil, aproveitando a operação de fabricantes locais ou de fornecedores chineses que a BYD está atraindo para o Brasil.
A movimentação para ter fornecedores locais de autopeças já começou, até mesmo para reduzir a demanda de importação para peças de reposição dos carros da marca. Mas o aumento da nacionalização dependerá, agora sim, de novos maquinários como prensas (que produzem as peças de estamparia) e injeção de plásticos, por exemplo.
Essa evolução dos processos dependerá, também, da construção das novas instalações e dos novos prédios que a BYD está planejando. Seriam 26 novas instalações entre galpões de produção, pista de testes e outras estruturas que vão ocupar uma área de cerca de 1 milhão de m² adjacente à fábrica que era da Ford.
A fábrica de automóveis, de fato, será erguida do zero e amplamente automatizada: os trabalhadores atuam na montagem dos acabamentos internos e no controle de qualidade.
A operação em Camaçari também contemplará fábrica de ônibus e caminhões elétricos, e outra destinada ao processamento de lítio e ferro-fosfato – que é a matéria-prima das baterias utilizadas pela empresa. O local terá maquinário para enriquecer o lítio para exportação.
A fabricante chinesa ainda construirá cinco prédios residenciais, a 3,5 km da fábrica, que serão destinados aos funcionários. Ocuparão uma área de aproximadamente 81 mil m² e terão a capacidade de abrigar 4.230 pessoas. Seria o início de uma cidade da BYD, com infraestrutura de transportes garantida por veículos elétricos da marca, como carros de uso compartilhado, caminhões, ônibus e monotrilho.
A BYD também já se movimenta para facilitar sua logística: solicitou ao governo da Bahia a utilização de área do Porto de Aratu, também conhecido na região como “Porto da Ford” e era de uso exclusivo da fabricante. Era a partir dali que os Ford Ka e EcoSport eram exportados. A BYD, porém, não terá uso exclusivo do local, que pertence ao Estado da Bahia.