Com produção em queda, setor automotivo teme impacto de tarifas dos EUA
Associação de fabricantes alerta que medidas norte-americanas podem deslocar atividade para o México

A produção de veículos no Brasil apresentou queda de 12,6% em março na comparação com fevereiro. Segundo dados divulgados pela Anfavea, a associação de fabricantes do setor, foram produzidas 190.008 unidades no mês. Com oscilação também nas exportações, a entidade fez projeções de impactos relevantes na indústria após a confirmação de tarifas impostas pelos Estados Unidos. Esse foi o pior desempenho para um mês de março desde 2022.
No acumulado do trimestre, porém, houve alta de 8,3% na comparação anual, com 583 mil unidades fabricadas — o melhor resultado desde 2021. As exportações também fecharam em alta, no recorte do trimestre (40,6%), impulsionadas pela demanda da Argentina. Mas, em março, a queda foi de 19% nas vendas externas na comparação mensal.
“A questão é saber se essa queda é sazonal ou indica uma tendência”, ponderou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea. A entidade entende que as medidas protecionistas norte-americanas tendem a realocar investimentos na América Latina. A interpretação é de que o México passe a ter capacidade ociosa em suas 37 fábricas, de modo que passe a abastecer de maneira mais intensa o Mercosul, com quem tem acordo de livre comércio.

“Em outras palavras, o bolso é um só. Pegando uma empresa com produção no México, nos EUA e no Brasil, se tiver que investir nos EUA, ela vai tirar investimento de onde? Ela vai usar a capacidade ociosa do México e deixar de fazer investimentos em outros países, e o Brasil pode ser um dos impactados”, analisou Leite, durante entrevista coletiva.
Em meio a este cenário, o setor demonstrou preocupação com o atraso na regulamentação do Programa Mover, que prevê incentivos fiscais para a indústria automotiva. Sancionado em junho de 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto ainda não foi publicado por conta de impasses em relação ao chamado “IPI Verde”, que define um novo modelo de tributação para veículos eletrificados, mas que ainda não teve alíquota definida.
Vendas sustentadas por importados e locadoras
Apesar da desaceleração produtiva, as vendas internas registraram alta de 5,7% em março, totalizando 195,5 mil unidades. No trimestre, o volume alcançou 552 mil veículos, 7,2% a mais que no mesmo período de 2024. A média diária de emplacamentos subiu 11,3% em março, mas grande parte desse avanço veio de modelos importados, que representaram 61% do aumento das vendas no trimestre. A China e a Argentina foram os principais fornecedores, com 22,6 mil unidades a mais comercializadas no país.
As vendas diretas, especialmente para locadoras, também contribuíram significativamente: subiram 14 pontos percentuais em relação ao varejo. Esse movimento, porém, sinaliza uma demanda aquecida por parte de empresas, não necessariamente por consumidores finais.
Diante da participação importante de importados, a Anfavea criticou pedidos para redução de tarifas na importação para SKD e CKD, de 10% a 5%, respectivamente. As siglas referem-se a veículos que chegam parcialmente montados ou completamente desmontados. Na apresentação, a Anfavea denuncia o pleito como um ataque à produção local, investimentos e emprego por parte de empresas chinesas.

A GWM, que deve inaugurar fábrica em Iracemápolis (SP) em junho, já adiantou que utiliza um regime diferente, no esquema “peça a peça”, no qual os componentes são montados no próprio veículo dentro da linha de montagem. A operação, no entanto, só deve começar no segundo semestre deste ano. O mesmo vale para a fábrica da BYD, que está em desenvolvimento em Camaçari (BA).