Audi eliminará pedais e painéis de seus carros (mais rápido do que parece)
Sedã-conceito Grandsphere adianta design e tecnologias que a Audi quer usar no sucessor do A8, já na metade da década
Tinha tudo para ser um daqueles dias que muitas vezes são de pesadelo para os designers de automóveis. O assunto era a sucessão do Audi A8 e Marc Lichte, o diretor de design da Audi, deveria apresentar as suas ideias à administração do Grupo Volkswagen.
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Muitas vezes neste tipo de situações a criatividade dos projetistas fica embaçada pela pressão de ter que criar algo que seja aceito. Comentários como “muito caro”, “tecnicamente inviável” ou simplesmente “não vai ao encontro do gosto do cliente” são comuns em reação às propostas apresentadas.
Mas desta vez tudo correu bem melhor. O CEO do Grupo VW, Herbert Diess, foi direto com Marc Lichte quando lhe disse: “A Audi sempre teve sucesso quando os designers foram corajosos”, dando assim um salvo-conduto para que o projeto tivesse rodas para andar, abrindo novos caminhos para a marca dos anéis. Uma reação que também foi similar por por parte de Markus Duesmann, o presidente da Audi, que não cabia em si de contente com o que via.
Antecipando o A8 de 2024
O resultado é este carro-conceito Audi Grandsphere Concept, que será uma das estrelas do Salão de Munique de 2021, oferecendo uma visão bastante específica da próxima geração do Audi A8. Marc Lichte mostrou-se muito contente com a rapidez com que a sua equipe conseguiu elaborar o veículo que é 75% a 80% representativo do modelo final de produção e que logo cria um forte impacto visual pelo seu enorme comprimento de 5,35 metros e distância entre-eixos de 3,19 metros.
O futuro topo de gama, que deverá inaugurar uma era na linguagem de estilo da Audi na transição de 2024/25, rompe com muitas convenções. Em primeiro lugar, o Grandsphere engana visualmente quem o observa: quando visto de traseira parece ter um capô relativamente normal, mas quando avançamos para a parte dianteira percebemos que não resta muito dele, que já foi um símbolo do status dos motores potentes.
“O capô é realmente muito reduzido, o mais reduzido que já desenhei num automóvel”, assegura Lichte. O mesmo se aplica à silhueta elegante deste concept-car, que se parece mais a de um GT do que a de um sedã clássico, cujos dias provavelmente já acabaram.
Mas mesmo aqui a impressão é enganosa porque, se quisermos catalogar o Audi Grandsphere, devemos considerar que tem mais de perua do que de sedã no que diz respeito à oferta de espaço interior.
Truques como os enormes vidros laterais que derivam repentinamente para dentro, na ligação ao teto, e o impressionante spoiler traseiro acabam por se traduzir em importantes benefícios aerodinâmicos, o que depois tem implicações positivas na autonomia do carro que, também graças à bateria de 120 kWh, deve ser superior a 750 km.
Os engenheiros da Audi estão trabalhando com tecnologia de 800 volts para os carregamentos (que já hoje é usada no Audi e-Tron GT, bem como no Porsche Taycan), mas muita água ainda fluirá pelo vizinho rio Danúbio até ao final de 2024.
750 km de autonomia, 721 cv…
Também não vai faltar potência ao Grandsphere, proveniente de dois motores elétricos com um total de 721 cv e 94,8 kgfm, que ajudam a explicar a velocidade máxima de mais de 200 km/h. Isto é pura soberania da dinâmica de condução, mas do “velho mundo”, porque o “novo mundo” irá centrar mais a sua retórica nas tecnologias de condução autônoma.
O Grandsphere deverá ser um “carro-robô” de Nível 4, pouco depois da sua apresentação como modelo final, já na segunda metade da década (o que são planos ambiciosos, se tivermos em conta como é difícil ao atual Audi A8 mover-se de forma autônoma no nível três).
De Classe Executiva à Primeira Classe
O espaço é o novo luxo, uma realidade bem conhecida por Lichte: “Estamos transformando o conforto geral, elevando-o dos padrões de Classe Executiva da segunda fila de bancos para a Primeira Classe até mesmo no banco do motorista, o que constitui uma autêntica revolução”.
Se for esse o desejo do seu ocupante, as costas do seu banco podem ser inclinadas para trás em 60º e os testes destes assentos mostraram que é realmente possível dormir a noite toda, como a bordo de um avião, numa viagem rodoviária (de 750 km) entre Munique e Hamburgo. Algo que é facilitado pelo fato de volante e pedais serem recolhidos, o que torna toda esta zona mais desobstruída.
O quadro de instrumentos estreito e curvo, adornado por uma tela digital contínua a toda a largura, também contribui para a excelente sensação de espaço. Neste carro-conceito as telas são projetadas nas aplicações de madeira como um projetor, mas não é certo que esta solução engenhosa venha a se materializar: “Ainda estamos trabalhando na sua implementação”, admite Lichte.
Na primeira fase, o Audi Grandsphere será equipado com displays mais convencionais, podendo os visores serem usados não apenas para passar informação sobre velocidade ou autonomia restante como para diversão, com videogames, filmes ou programas de televisão.
Para poder implementar este sistema de entretenimento, a Audi está estabelecendo parcerias com gigantes da alta tecnologia — como a Apple e o Google — e com serviços de streaming como a Netflix. É assim que se prepara uma demonstração de coragem em forma de automóvel.
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