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China tem guerra interna de preços e pode limitar novos carros elétricos

Mercado de carros novos chinês encolheu em 2023, enquanto excesso de marcas de carros elétricos gerou uma guerra de preços interna

Por Rafael Somadossi e Henrique Rodriguez
Atualizado em 4 abr 2024, 10h39 - Publicado em 25 jan 2024, 09h35
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  • A falência da Guangdong Yongao Investment Group, um grupo com 80 concessionárias de automóveis na província de Guangdong, no sul da China, pode ser efeito da retração do mercado de automóveis da China. 

    A empresa representa marcas fortes, como Audi, BMW, Mercedes-Benz, GAC Aion, Honda, Volkswagen, Land Rover, Jaguar, Volvo e Aito, mas recentemente anunciou sua falência e suspendeu entregas de carros. Enquanto consumidores aguardam seus carros ou a devolução do dinheiro, os funcionários podem ficar sem seus salários, conforme relatado pelo National Business Daily da China.

    A crise do Guangdong reflete os desafios que as fabricantes de automóveis chinesas têm pela frente. Embora suas exportações tenham prosperado bastante em 2023, o mercado interno está encolhendo. Mais que isso: dá sinais de que já está saturado de fabricantes – especialmente as de carros elétricos. 

    O mercado automotivo da China cresceu muito rápido de 2008 a 2016, mas estagnou nas 24 milhões de unidades anuais (mais que 10 vezes o tamanho do mercado brasileiro em 2023) até 2022. Conseguiram manter esse patamar mesmo com a pandemia da COVID-19 e com a crise global de chips, mas o mercado chinês encolheu para 21,7 milhões de carros em 2023.

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    Zeekr é uma das marcas chinesas que quer estrear no Brasil ainda em 2024 (Zeekr/Divulgação)

    A situação é agravada pela crise econômica e por desafios na indústria automotiva chinesa, que agora podem estimular uma guerra interna enquanto os carros chineses também enfrentam desafios no mercado externo.

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    Já no mercado externo, os Estados Unidos responderam à competição chinesa com a introdução da Lei de Redução da Inflação (IRA), visando conter a ofensiva chinesa em setores críticos para o mercado de energia limpa, ao mesmo tempo que incentiva apenas carros elétricos produzidos localmente. Em paralelo, a União Europeia investiga o baixo preço dos carros elétricos exportados para a Europa, citando possíveis práticas de concorrência desleal.

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    Até a fabricante de celulares Xiaomi está entrando no mercado de carros elétricos, com o Xiaomi SU7 (Xiaomi/Divulgação)

    Empresas europeias expressaram preocupações com o enorme número fábricas de veículos elétricos na China, que hoje utiliza apenas 33% de sua capacidade produtiva instalada. Temem que se repita o ocorrido com os setores de aço, alumínio e painéis solares, onde empresas chinesas esmagaram as demais. Mas isso também preocupa Pequim. 

    Governo chinês pode limitar a criação de novos carros

    O Vice-Ministro da Indústria e Tecnologias de Informação na China, Xin Guobin, admitiu ao Financial Times que há uma demanda externa “insuficiente” para os carros chineses, levando o governo a tomar “medidas fortes” para controlar o surgimento de novos projetos dedicados à fabricação de carros elétricos.

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    (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

    Guobin destacou que há comportamentos competitivos desordenados dentro da própria indústria chinesa em um momento crítico, enquanto enfrentam uma guerra comercial com o Ocidente. O vice-ministro também criticou aquilo que considera como protecionismo estrangeiro e abuso de mecanismos de disputa comercial, refletindo as preocupações de Pequim sobre as investigações da União Europeia e as restrições dos EUA aos elétricos chineses.

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    Além das preocupações externas, a China enfrenta uma guerra de preços interna alimentada pela saturação do mercado e acesso fácil a empréstimos bancários generosos. Essa situação levanta questões sobre as margens de lucro e a estabilidade do setor automotivo chinês e também põe em xeque o número de fabricantes ou startups que estão se lançando no mercado de carros elétricos.

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    Aiways U6 (Aiways/Divulgação)

    Embora o mercado de carros novos da China tenha encolhido em 2023, os carros tiveram cortes substanciais nos preços. A estratégia das grandes fabricantes chinesas vem sendo aproveitar seu volume (e os empréstimos acessíveis) para reduzir os preços dos seus carros e suas margens. Sem poder acompanhar o ritmo, fabricantes menores tendem a fechar. Muitos já tratam isso como um processo de consolidação da indústria automotiva chinesa.

    Ainda não houve medidas concretas do governo chinês para lidar com a pressão sobre os preços, mas espera-se algo que possa equilibrar a competição e garantir a sustentabilidade do setor. Afinal, uma quebra generalizada coloca muitas outras empresas (como fornecedores e distribuidores) em xeque.

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    A Lifan chegou a montar carros no Uruguai para vender no Brasil, mas não existe mais (Christian Castanho/Quatro Rodas)
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    Analistas apontam que podem restar apenas algo entre 10 e 12 das mais de 50 fabricantes de automóveis chinesas que existem atualmente. Algumas fabricantes chinesas como Lifan, Zotye, Singulato. Levdeo, Hawtai e Borgward já ficaram pelo caminho, enquanto Aiways, Enovate e Weltmeister tentam se reestruturar. A Yudo chegou a ser salva por uma companhia aérea chinesa, mas hoje só produz um carro.

    Essa guerra e retração no mercado interno não impediu a China de se tornar o maior exportador de automóveis do mundo em 2023, superando o Japão. Contudo, a expansão para os mercados externos é um dos caminhos para garantir a demanda por carros de fabricantes chinesas. Isso também explica a chegada de tantos fabricantes chineses ao mercado brasileiro e europeu ao mesmo tempo.

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