Enquanto alguns países europeus, como a Suíça, podem proibir o uso dos carros elétricos devido a crise energética, cidades como Fernando Noronha incentivam a circulação apenas de modelos eletrificados. O arquipélago que pertence a Pernambuco está prestes de proibir a entrada de novos carros a combustão.
Os primeiros três Renault Kwid E-Tech desembarcaram na ilha neste sábado (3), mas eles não são os primeiros elétricos por lá. A frota de modelos elétricos da Renault é composta por 49 unidades e algumas já circulam desde 2019. Entre os exemplares sustentáveis estão o Zoe, Twizy e Kangoo. Também há modelos de outras marcas circulando por lá.
A parceria da Renault com a Administração da ilha, que começou em 2019, faz parte do Projeto Noronha Carbono Zero, que, entre outras ações, proíbe a entrada de veículos a combustão no arquipélago a partir de 12 de agosto de 2023, permitindo apenas a circulação de unidades já presentes na ilha. A nova legislação ainda prevê, de 2030 em diante, a retirada da ilha de todos os veículos movidos a gasolina, álcool e diesel.
Carbono zero de verdade
Mas, esse plano só seria realmente ecológico se a geração de energia para recarga desses elétricos também fosse limpa. E quando o Noronha Carbono Zero começou, em 2019, não era.
QUATRO RODAS publicou na ocasião uma reportagem destacando que um carro elétrico circulando na ilha poluía mais do que uma van a diesel, pois a energia elétrica era proveniente de usinas termoelétricas, que utilizam o diesel para funcionar. Agora a história é outra.
Há um ecoposto público para o carregamento dos carros elétricos que já circulam. Ele pode atender até seis carros ao mesmo tempo e gera de energia 26MWh por ano por meio de placas fotovoltaicas instaladas em sua cobertura de 90 m².
Essa energia solar é o suficiente para rodar 180.000 quilômetros e ainda sobra pra entregar pra rede elétrica, para o uso da população local.
Também dentro do programa, foi firmado em 2020 um Termo de Cooperação Técnica entre o governo e a Companhia Energética de Pernambuco – Neoenergia Pernambuco –, para o acionamento de dois novos módulos de baterias solares fotovoltaicas, reforçando o sistema de armazenamento na ilha, dobrando a utilização de energia limpa em horários de pico.
As novas plantas fotovoltaicas são compostas por módulos policristalinos de 345 Wp. A primeira já foi concluída, na Vacaria. A segunda, que ficará próxima ao Laboratório Noronha e da usina de tratamento de resíduos, será concluída no primeiro trimestre de 2023. As duas áreas somam cerca de 2.100 m².
As estações terão capacidade de gerar 155 MWh de energia por ano, quantidade que cobre em até três vezes o consumo elétrico de todos os veículos do projeto que circulam pela ilha.
Isso representa a possibilidade de cada automóvel rodar aproximadamente 16.000 quilômetros ao ano, evitando a emissão de CO2 no meio ambiente. A outra ação é a instalação de doze novos eletropostos públicos com capacidades de 7,4 e de 22 kW.
Kwid E-Tech versão “Noronha”
Não existe uma versão dos Kwid elétricos específica para Noronha, mas até que deveria. O arquipélago, que fica a 545 km do continente, tem 17 km² de extensão e apenas uma rodovia, a BR-363 com 7,5 km, não por acaso a menor do Nordeste e a única via asfaltada da ilha.
Todos os outros pavimentos são de terra batida, areia e pedra. Isso faz com que os outros elétricos da marca, como o Zoe, estejam sofrendo para vencer esses obstáculos do dia a dia. Afinal, esse modelo foi desenvolvido para trafegar nas bem asfaltadas ruas e avenidas das cidades europeias.
Tive a oportunidade de rodar com um Kwid recém-chegado a Noronha, que não tinha nem 200 km rodados, e é perceptível que o compacto, mais alto e com melhores ângulos de entrada e saída, “sofre” bem menos nos pavimentos fora de estrada noronhenses. Por conta das pedras, seriam bem vindos pneus de uso misto e não os 175/70 R14 que são recomendados para o asfalto.
Mas, os Kwid “Noronha” têm uma diferença: todos vêm de série com protetor de cárter, ou quase isso, porque a proteção não é para um reservatório de óleo mas para parte da mecânica elétrica do carro. Afinal pedras irão voar e ninguém quer o conjunto de baterias “caríssimo” (elas estão dispostas no assoalho) danificado.
O preço também é atrativo, ele custa R$ 144.990 para os noronhenses – R$ 2.000 mais barato que o valor público que é de R$ 146.990. A população ainda conta com taxas de juros mais baixas para o financiamento, tudo para fomentar a mobilidade elétrica por lá. Se os carros elétricos substituirão os famosos buggys com motor de Fusca, saberemos nos próximos anos.