Monza-Benz 190 E: a maquiagem que fazia sedã da Chevrolet virar Mercedes
A transformação dava ao Monza balanço traseiro, setas e grades do Mercedes-Benz consagrado na Europa
Nos últimos meses temos visto empresas criarem bodykit de carros de luxo para equipar modelos comuns. Seja a capa de Lamborghini Urus dada ao Toyota Rav4 ou até mesmo a maquiagem de Ferrari passada no Toyota Prius.
No entanto, essas modificações não são novidades no mundo automotivo.
Entre as décadas de 1980 e 1990, era comum, no Brasil, a construção de veículos fora de série, ou seja, modelos nacionais que ganhavam kit de modificação por empresas especializadas e adotavam um novo nome.
Um desses casos é o do Chevrolet Monza.
Na virada da década de 1970 para 1980, a Chevrolet – seguindo a tendência do mercado – deixou de adotar o design norte-americano para seus veículos brasileiros, passando a utilizar a base de carrocerias europeias produzidas pela alemã Opel, que na época fazia parte do grupo GM.
Um dos primeiros modelos dessa nova fase a aportar por aqui foi o Monza, principal lançamento da marca na década de 1980. Versão tupiniquim do Opel Ascona, ele tinha por objetivo substituir nada mais, nada menos, que o Opala.
As novas linhas estruturais davam ao modelo uma grande semelhança ao icônico Mercedes-Benz 190 E.
Como naquela época o Brasil contava apenas com as marcas generalistas (Volkwagen, Fiat, Ford e Chevrolet), a saída encontrada pela empresa Agromotor para dar um toque de luxo ao Monza foi de unir sua carroceria a peças do Mercedes, para assim construir um modelo com ar mais luxuoso e exclusivo.
Dessa forma, o Chevrolet passou a carregar itens como grade dianteira, pára-lamas, balanço traseiro, lanternas e volante todos inspirados (para não dizer plagiados) do sedã alemão. O resultado? Com a preparação, o Monza vira uma espécie de irmão bastardo do ilustre 190 E.
Por fora, os modelos se parecem tanto que qualquer pessoa menos entendida certamente vai enxergar o Monza 190 E como um Mercedes ao primeiro olhar.
Para distingui-los, é preciso ter um olhar mais aguçado para perceber as distinções. Além de bem mais estreito, o Chevrolet possui frente mais bicuda e faróis menores.
Mas o que assina o atestado de falso é alemão e a falta de casamento fiel entre faróis e capô, evidenciados pelas grandes lacunas entre as partes – comum em adaptações de peças.
A lateral levemente arredondada entregava outras características do sedã nacional, que também possuía coluna C menor e conjunto de vidros maiores. O Chevrolet carregava réplicas das rodas do modelo alemão.
Se, de lado, o modelo exibia os detalhes da carroceria Opel, o mesmo não se pode dizer da traseira.
Com a preparação, os veículos ficavam com balanços traseiros bem parecidos. Apenas o para-choque e o desenho da tampa do porta-malas, que não se prolongava até as lanternas, eram capazes de denunciar a cópia.
Não bastassem faróis, grade e balanço traseiro muito similares, a Agromotor adicionava emblemas da Mercedes-Benz no Monza 190 E, o que ajudava a aumentar ainda mais a confusão.
Se nenhum dos detalhes anteriores bastasse, tudo poderia ser resolvido com a simples abertura do cofre do motor.
O Monza era modificado esteticamente, mas seguia movido pelo motor 2.0 carburado de 100 cv e 16,2 kgfm de torque, que acelerava de 0 a 100 km/h em 12 segundos e tinha máxima de 166 km/h.
Enquanto isso, sob o capô do 190 E havia um suntuoso 2.3 com injeção eletrônica de 185 cv e 24 kgfm de torque, capaz de levá-lo de 0 a 100 km/h em 7,8 segundos e a uma velocidade máxima de 200 km/h.
Se a comparação de desempenho e qualidade é totalmente desequilibrada, talvez você torça menos o nariz para o Monza-Benz 190 E ao saber que ele custava somente 10% do valor de um Mercedes 190 E original.