Quando se fala de carro do futuro, é fácil pensar no DeLorean do filme “De volta para o futuro”, movido a fusão nuclear. Mas se ele ainda está longe de ser real, outra variante de alta tecnologia já está entre nós: o primeiro automóvel a hidrogênio de série do mundo, o Toyota Mirai.
Para a montadora, esse lançamento é tão inovador que ela não teve medo de fazer a relação com a trilogia de Robert Zemeckis: a marca convidou os atores Micheal J. Fox e Christopher Lloyd para o comercial do lançamento mundial do Mirai, que foi ao ar em 21 de outubro de 2015, mesmo dia em que os personagens Marty McFly e Dr. Emmett Brown desembarcam na Califórnia futurística no segundo filme da série, de 1989.
Se os japoneses são bons de marketing, não dá para dizer o mesmo do design dos seus carros de propulsão alternativa. Foi assim com o híbrido Prius e é agora com o Mirai, com um estilo que parece vindo de algum lugar do passado. Mas o que interessa é menos sua beleza e mais o que há por baixo de suas linhas estranhas. Na traseira, há dois tanques de fibra de carbono que guardam o hidrogênio líquido. Este alimenta a célula de combustível (no centro do veículo), que reage com o oxigênio do ar, produzindo vapor d’água (que sai do escapamento) e eletricidade (armazenada nas baterias sob o porta-malas). Essa energia é usada para mover um motor elétrico e garantir uma autonomia de 500 km.
O Mirai (significa futuro, em japonês) chega ao público após 20 anos de pesquisas e testes da Toyota, que aposta tudo no novo combustível. “O que a gasolina foi nos primeiros 100 anos da indústria automotiva o hidrogênio será no futuro”, explica Takechi Uchiyamada, presidente mundial da marca. “Mas levará tempo. Também tivemos que esperar 10 anos para produzir 1 milhão de híbridos”.
Essa tecnologia não é nova: é conhecida desde os anos 60 e várias montadoras já investiram nesse tipo de carro. Mas sempre em forma de protótipo ou destinado a pequenas frotas. Mercedes, BMW, Honda ou GM queimaram milhões de dólares nessa rota. Nenhuma foi tão longe quanto a Toyota. A razão é o alto custo do veículo e do abastecimento, que exige uma rede própria para o combustível altamente inflamável e que deve ser guardado a altíssimas pressões – cerca de 700 bar nos tanques do carro, 135 vezes mais que num pneu de caminhão.
– Como é dirigir o Toyota Mirai movido a hidrogênio?
– Vídeo: Toyota mostra Mirai com atores de “De volta para o futuro”
Na Europa, o modelo custará 78 550 euros, que em alguns países compram dois BMW i3, um Tesla Model S ou um eficiente Mercedes S 300 híbrido diesel. No Japão e nos EUA, as condições são melhores. Na Califórnia, o interessado pode comprá-lo por US$ 57 500 (46 000 euros), e receber um subsídio de até US$ 12 000, ou alugá-lo a US$ 499 por mês. Entre San Diego e Sacramento (850 km), o dono pode encher os tanques de 112,4 litros (5 kg de hidrogênio) de graça nos primeiros três anos em qualquer um dos 100 postos que estão sendo construídos na região. E abastecê-lo leva só 6 minutos, bem menos que um elétrico comum, que exige até 8 horas para carregar suas baterias.
Carro sem futuro?
Para 2015, as projeções estimam 700 vendas no mundo e 3 000 até o fim de 2017. Mas ainda que seja um baixo volume, a Toyota acredita na tecnologia e, ao contrário do que ocorreu no seu primeiro híbrido em 1997, crê que logo terá concorrência de peso. “Muitos acham que o hidrogênio é um disparate sem futuro. Mas muitos diziam o mesmo do Prius”, diz Satochi Ogiso, responsável pelo desenvolvimento.
O Mirai é impulsionado por um motor elétrico de 155 cv na dianteira, capaz de levá-lo a 100 km/h em 9,6 segundos, além de atingir máxima de 178 km/h. Como percebemos no nosso test-drive em rodovias da Califórnia (EUA), a arrancada deste modelo de tração dianteira com 1 850 kg é bem rápida quando está no modo Power, que disponibiliza todo o torque máximo de 34,5 mkgf ao mais leve toque do pé direito. A direção não é um exemplo acabado de precisão e dá uma sensação artificial, enquanto a suspensão revela uma afinação surpreendentemente dura.
No interior, o Mirai tem um ar um pouco mais moderno que o exterior, com um console central que parece vindo de uma nave espacial, devido às grandes superfícies sensíveis ao toque. Há espaço só para quatro pessoas e a qualidade percebida é melhor do que se vê no Prius. Enquanto a unidade central da célula de combustível está protegida numa estrutura resistente a impactos sob os bancos dianteiros, os dois tanques estão à frente e atrás do eixo traseiro. Isso explica a posição relativamente alta dos assentos dos passageiros e o porta-malas de 371 litros, bem menos que os 500 litros de um Chevrolet Prisma. É pouco para um carro de 4,89 metros, 25 cm maior que um Corolla.
São características que revelam no geral um veículo cujo comportamento dinâmico não se distancia muito de um automóvel elétrico, é verdade. Mas o apelo futurístico dele está em outro lugar. Assim como o DeLorean de Marty McFly, o Mirai é um carro limpo, que não produz nenhum gás poluente. Apenas água. Por essa, nem o Dr. Brown esperava.
Preço | 80 000 EUR na Europa e US$ 57 500 nos EUA |
---|---|
Motor | diant. elétrico, 150 cv; 34,5 mkgf, alimentado por uma célula de combustível a hidrogênio |
Câmbio | automático, uma marcha à frente, tração dianteira |
Direção | elétrica |
Suspensão | independente McPherson à frente e independente com triângulos sobrepostos atrás |
Freios | discos ventilados na frente e sólidos atrás |
Pneus | 215/55 R17 |
Dimensões (em cm) | 489 (comprimento); 153,5 (altura); 181,5 (largura); 278 (entre-eixos); peso: 1 850 kg |
Porta-malas | 371 litros |
Tanque de combustível | dois reservatórios, um de 60 litros e outro de 62,4 litros |
Desempenho | 0 a 100 km/h em 9,6 s; velocidade máxima: 178 km/h |
VEREDICTO
Se o elétrico é o carro do futuro, o Mirai pode ser uma boa saída para contornar a baixa autonomia e o longo tempo de recarga.