Os chineses dominam o segmento dos elétricos de entrada no Brasil, que é composto por JAC E-JS1, Caoa Chery iCar e Renault Kwid E-Tech – este último pertencente a uma empresa francesa, porém produzido na China. E parece que esse domínio está longe de mudar: o BYD Dolphin acaba de chegar para completar a categoria.
Mais do que isso, o compacto produzido no segundo país mais populoso do mundo, e que poderá ser fabricado no Brasil nos próximos anos com a instalação da BYD em Camaçari (BA), chega colocando medo na concorrência, que tem motivos para isso.
O primeiro sinal de que o Dolphin já incomoda é a movimentação nos preços de seus rivais. O BYD foi lançado por R$ 149.800, em versão única, conquistando o título de segundo carro elétrico mais barato do país. À frente dele estava apenas o JAC E-JS1, que custava R$ 145.900 e passou a custar R$ 139.900, na mesma semana em que o Dolphin foi lançado.
O iCar e o Kwid E-Tech saíam pelos mesmos R$ 149.990, mas o iCar, uma semana depois, passou a ter o preço inicial de R$ 139.990. O Kwid, até o fechamento desta edição, não sofreu alterações. Assim, o BYD passa a ser o terceiro elétrico mais barato do Brasil.
Embora não seja uma unanimidade em desenho, o BYD mostra que tem personalidade e supera os concorrentes já no porte, equivalente ao de um hatch compacto. O entre-eixos de 2,7 metros, por sua vez, é o mesmo de um Toyota Corolla. O reflexo disso virá em alguns parágrafos.
Voltando ao desenho, o Dolphin (“golfinho”, em inglês) tem diversas referências aos oceanos, como as belas lanternas traseiras, com iluminação em led que se cruza e simula o efeito das ondas do mar. Ele também aposta em uma dianteira curta, como de um monovolume. Os faróis são full led, uma exclusividade na categoria e, as rodas, de 16 polegadas e calçadas com pneus 195/60, têm aspecto aerodinâmico e parecem se inspirar nas estrelas do mar.
De lado, o jeito de monovolume nos remete a um Honda Fit, enquanto o vinco diagonal das portas rouba as atenções. Também há demonstração de cuidado em áreas como a coluna C e a “grade” (totalmente fechada e com leds na base), que adotam adesivos com texturas e desenhos irregulares.
O modelo é limitado, porém, nas opções e combinações de cores. São apenas três: cinza com detalhes em laranja, como o aqui presente, branco com detalhes em preto e rosa com detalhes em branco. As combinações seguem no interior, com o painel, as portas e os bancos repetindo as tonalidades externas.
Se o Dolphin já atrai olhares por fora, o interior surpreende ainda mais – sem ser polêmico como o exterior. É possível notar, em meio ao trânsito, pessoas “bisbilhotando” a cabine do elétrico, com motivos. O painel tem traços arredondados que simulam ondas, com uma faixa central cinza em plástico liso e brilhante, que abriga as saídas de ar redondas e com as bordas em laranja. Lembrando, as combinações de cores variam de acordo com a carroceria.
Logo abaixo, uma faixa branca com pequenos losangos laranja é o ponto alto do interior, já que é macia e revestida com material que imita couro. O acabamento geral do Dolphin é superior ao dos concorrentes, tanto pelos detalhes já ditos, quanto por outros materiais e arremates. Há bom gosto e qualidade.
Nas portas, há diversos tipos de materiais e texturas, algumas que remetem a tecidos, mas que não são. O apoio de braço central é macio, assim como os apoios das portas – isso vale para todas elas. Os bancos também têm material que imita couro e uma bonita composição, que se repete na traseira.
As referências ao mar aparecem na parte superior do painel, com saídas de ar que remetem a escamas, cujo formato segue em relevos no plástico. Também há “guelras” laterais e frontais, próximas ao parabrisa, além de ondas logo ao lado. As maçanetas têm formato de barbatanas e o miolo do volante remete aos níveis de profundidade dos oceanos. Apesar dos diversos porta-objetos espalhados pela cabine (a maioria deles emborrachados), incluindo um abaixo do console central, não há carregador de celulares por indução.
O desenho do painel é completado pelos botões dispostos em uma espécie de cilindro, bem ao centro, e pelas telas. Para o quadro de instrumentos a tela é modesta, com 5 polegadas, mas uma boa riqueza de informações e qualidade de imagem. Já a central multimídia é representada por outra muito maior, com 12,8 polegadas e imagem de alta definição.
Como em todos os demais BYD, a tela central é giratória e pode ser utilizada na horizontal ou na vertical. Nela, ficam a maioria dos comandos do carro, inclusive de altura do facho dos faróis (nada prático), além de navegador e Spotify nativos, e o Apple CarPlay. Segundo a BYD, há Android Auto, mas não foi possível localizá-lo na unidade testada.
O BYD Dolphin ainda tem uma vasta lista de itens de série. Entre eles, seis airbags, faróis automáticos, autohold, piloto automático, chave presencial, assistente de partidas em rampa, iluminação interna em led com acendimento por toque e sensores de estacionamento traseiros. Há ainda um eficiente sistema de câmeras 360° com diversos ângulos, visualização 3D e que funciona mesmo com o carro em altas velocidades.
Urbano e familiar
Embora seja o mais potente, o mais espaçoso e tenha a maior bateria, com o maior alcance, entre Kwid E-Tech, iCar e E-JS1, o Dolphin segue como os rivais e não deixa de ser um compacto elétrico urbano. Seu conjunto mecânico é formado por um motor elétrico instalado no eixo dianteiro com 95 cv de potência e 18,4 kgfm de torque, alimentado por uma bateria de 44,5 kWh. Entre os concorrentes, o JAC tem 62 cv e bateria de 30,2 kWh, o iCar tem 61 cv e bateria de 30,9 kWh e, o Kwid E-Tech, 65 cv e bateria ainda menor, de 26,9 kWh.
De acordo com a BYD, a autonomia projetada do Dolphin é de 291 km seguindo o padrão PBEV, do Inmetro, que pode ser até 30% menor do que no ciclo WLTP, mais utilizado até então. Em nossos testes, o número foi maior: em ciclo misto (rodoviário e urbano), a autonomia chega aos 356 km. É um bom alcance, mas que ainda não deixa o modelo pronto para longas viagens, já que o consumo rodoviário é alto.
O desempenho do chinês, mesmo sendo o mais potente, passa longe de ter alguma esportividade. Também apesar do torque instantâneo, intrínseco aos elétricos, as acelerações do Dolphin são suaves e progressivas, mas entregam certa agilidade em ultrapassagens ou manobras urbanas.
Em nossos testes, ele foi de 0 a 100 km/h em 12,3 segundos, próximo ao tempo de um Fiat Pulse 1.3 manual (12,5 segundos) e mais rápido que um Pulse 1.3 CVT (13,9 segundos). É possível alterar a entrega de desempenho pelos modos de condução, que são apenas dois: Eco ou Sport, sem um modo intermediário. Há também uma função para gelo/neve, que controla a entrega de potência e torque para mais segurança em situações de piso escorregadio.
Também é possível alterar o nível de regeneração através das desacelerações, com dois modos, que, em tese, deixariam as desacelerações mais ou menos intensas para auxiliar na transformação da energia cinética gerada em energia elétrica para a bateria. No dia-a-dia com o modelo, no entanto, não foi possível sentir diferença entre eles. Mais uma possibilidade de personalização está no ruído virtual emitido dentro e fora do veículo, a até 25 km/h. Em ambas as opções, o ruído é bastante alto e desagradável.
A performance está de acordo com os ajustes de direção e suspensão do compacto, que prezam pelo conforto de motorista e passageiros. A direção é bastante leve e ajuda a torná-lo mais ágil, sem dar a impressão de folgas ou de ser solta demais.
O mesmo vale para a suspensão, macia e confortável. Em buracos, imperfeições ou divisões de viadutos, a suspensão mostra um acerto mais rígido, mas sem deixar que as batidas sejam abruptas. A traseira se mostra um pouco mais leve com o carro vazio e parece pular em altas velocidades ou em asfaltos mais prejudicados. Nada, porém, que incomode ou transmita insegurança. Por falar em segurança, a boa visibilidade do Dolphin também merece elogios.
Mesmo que não esteja pronto mecanicamente para longas viagens, elas seriam feitas com muito conforto para todos os ocupantes. Os bancos têm boa densidade e bons apoios laterais, no caso dos dianteiros, e bastante espaço para quem vai atrás.
Caso motorista e o passageiro dianteiro tenham estatura média, de até 1,75 m, quem for atrás terá espaço suficiente para cruzar as pernas graças ao espaço de sedã proporcionado pelo grande entre-eixos, dito no início deste texto. A situação fica ainda melhor com o assoalho totalmente plano, que permite levar um terceiro ocupante sem maiores problemas além de um leve aperto lateral.
Há uma falta de mimos, porém, para os passageiros do banco de trás: apenas uma porta USB está disponível e não há saídas de ar-condicionado.
O espaço também é bom para bagagens no porta-malas de 345 litros, mais que qualquer hatch compacto à venda atualmente no Brasil. Quem mais se aproxima é o Renault Stepway, com 320 litros. Considerando os concorrentes elétricos diretos do Dolphin, a vantagem fica ainda mais explícita, já que o Kwid tem o segundo maior compartimento de carga, com 290 litros. O JAC tem 131 litros e, o iCar, apenas 100 litros.
O BYD Dolphin é superior aos seus rivais em todos os aspectos: autonomia, desempenho, espaço, tecnologia, acabamento e dirigibilidade. Mais do que isso, ele se mostra um dos elétricos com o melhor custo-benefício do Brasil, justificando o medo causado na concorrência e o sucesso de vendas.
Em sua primeira semana, segundo a BYD, cerca de 1.300 unidades foram comercializadas no país – o dobro das vendas de todos os elétricos juntos durante o mês de junho que, segundo a Anfavea, contabilizaram 618 unidades.
A situação só tende a melhorar com o recente anúncio de que a BYD terá o primeiro complexo para fabricação de carros elétricos do Brasil. A maior fabricante de carros da China instalará três fábricas em Camaçari (BA), com a pretensão de utilizar a antiga estrutura da Ford e realizar todos os processo de fabricação no país. O Dolphin é um forte candidato a ser feito por aqui, sendo, assim, o primeiro carro elétrico nacional.
5 anos de revisões gratuitas
Carro elétrico mais barato da BYD, o Dolphin é oferecido com 5 anos de garantia total, 8 anos de garantia para a bateria e 5 anos de revisões gratuitas.
Veredicto
Superior aos rivais e com preço atraente, o Dolphin tem o melhor custo-benefício do mercado. Seu futuro é promissor.
Teste Quatro Rodas – BYD Dolphin
Aceleração
0 a 100 km/h – 12,3 s
0 a 1.000 m – 34, s – 148,36 km/h
Velocidade máxima – 150 km/h*
Retomadas
D 40 a 80 km/h – 4,9 s
D 60 a 100 km/h – 7 s
D 80 a 120 km/h – 10,3 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0 – 14,3/25,5/58,4 m
Consumo
Urbano – 8,4 km/kWh
Rodoviário – 7,6 km/kWh
Ruído interno
Neutro/RPM máx. – – / – dBA
80/120 km/h – 61,5/68,8 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h – 97 km/h
Volante – 2,7 voltas
Seu bolso
Preço básico – R$ 149.800
Garantia – 5 anos
Ficha técnica – BYD Dolphin
Motor: elétrico, dianteiro, 95 cv, 18,4 kgfm
Bateria: íon-lítio, 44,5 kWh, 356 km de autonomia
Recarga: 30 a 80% em 7h a 3,3 kW, 3,5h a 7 kW, 25 min. a 60 kW
Câmbio: 1 marcha, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco nas quatro rodas
Pneus: 195/60 R16
Dimensões: comprimento 412,5 cm; largura, 177 cm; altura, 157 cm; entre-eixos, 270 cm; peso, 1.405 kg; porta-malas, 345 litros