A Audi recentemente voltou a fabricar o A3 sedã no Brasil, mas ela já tem uma história com o modelo por aqui: em abril de 2000, começou a produzir, em São José dos Pinhais (PR), o A3 hatch, que diria adeus seis anos mais tarde.
A despedida, porém, não apagou suas façanhas: o A3 1.8 Turbo foi considerado o carro nacional mais veloz, depois de um pega com Fiat Marea Turbo no autódromo de Interlagos, publicado na edição de agosto de 2000.
Para acelerar os dois carros, QUATRO RODAS convidou os pilotos Paulo Gomes, o Paulão, tetracampeão brasileiro de Stock Car, e João Paulo de Oliveira, que disputava o Campeonato Sul-americano de Fórmula 3.
Antes de levar as feras para o circuito, dois testes haviam sido feitos na pista da Freios Varga, em Limeira, e na reta infinita na pista circular da General Motors em Indaiatuba, ambas em São Paulo.
Primeira vitória
Os números preliminares foram mais favoráveis ao Fiat, que cravou 7,58 segundos no 0 a 100 km/h e 219 km/h de velocidade máxima. Os do Audi: 7,94 segundos e 218,6 km/h, respectivamente.
Os resultados, porém, não significavam vitória do Marea. A briga estava apenas começando, porque faltava a avaliação definitiva nos 4 292 metros do circuito de Interlagos.
Como se fosse seu habitat, o A3 se sentiu mais à vontade no autódromo. Em um total de dez voltas, ele ficou quase 1 segundo à frente do Marea. O hatch completou a melhor volta em 2min09s940, com a média de 118,21 km/h. O Marea fez 2min10s730 e média de 117,5 km/h.
“Ou seja, nas mesmas condições de temperatura e pressão, misturando curvas e retas, como na vida real, é o A3 1.8 Turbo o carro brasileiro mais rápido“, concluía a reportagem.
No entanto, o Marea vendeu caro sua derrota. Se dependesse do desempenho nas retas, ele teria vencido. Na reta oposta de Interlagos, por exemplo, seu motor 2.0 falou mais alto, registrando o tempo de 18,52 segundos, contra 18,64 do A3.
Essa superioridade deveu-se aos 2 cv a mais e ao torque maior (27 contra 24 mkgf) do motor importado da Itália, o mesmo do Coupé Turbo, então o Fiat mais potente na Europa (220 cv). No Brasil, foi limitado a 182 cv para que suspensão e freios não precisassem passar por ajustes mais profundos.
“Fiquei impressionado como o Marea acelera rápido e retoma a velocidade”, disse Paulão.
Em compensação, no miolo do circuito, onde estão os trechos mais sinuosos, o desempenho do Audi foi mais homogêneo. O A3 utilizava o mesmo motor 1.8 turbo da versão de 150 cv. Sua potência subiu para 180 cv devido a mudanças no chip da injeção eletrônica, no tamanho da turbina e nos dutos do coletor de admissão.
“Com pneus mais largos, o A3 chega às curvas mais equilibrado”, constatou João Paulo.
Uso urbano x pista
Nem sempre dirigir esportivos turbinados na cidade permite explorar tudo o que o motor tem a oferecer. Mas, em uma pista de corrida, a sensação é bem diferente. É preciso pisar fundo para eles dispararem.
“Quando o giro do A3 passa das 2 000 rpm e o do Marea rompe as 3 000 rpm, os motores se enchem e o desempenho é de arrepiar”, afirmava a reportagem.
Nessa faixa de rotação, o Marea chegava a saltar à frente de maneira abrupta. Mesmo assim, Paulo Gomes considerou o Fiat mais confortável que o Audi, que, por sua vez, primava pela esportividade.
Com a referência de um monoposto de F-3, João Paulo de Oliveira destacou que os dois modelos eram muito macios. “O fórmula, apesar de mais arisco e leve, é bem obediente. No Audi e no Marea, você sente mais as ondulações da pista”, comparou o piloto.
As oscilações eram percebidas principalmente antes de a turbina despejar sua carga máxima dentro do motor. A partir desse momento, as irregularidades do asfalto ficavam para trás e o que valia mesmo era acelerar. Afinal, o comprador de um automóvel desses não quer outra coisa, a não ser pisar firme no acelerador.
Os fãs de A3 e Marea Turbo tiveram essa chance até 2006 e 2007, anos em que, respectivamente, deixaram de ser fabricados no Brasil. O primeiro devido ao fato de a Audi ter encerrado sua produção no país e o segundo porque a Fiat passou a vender unicamente a versão 1.6, que iria brigar apenas pelo público tradicional de sedãs médios.
Nós dissemos… agosto de 2000
“Andar com os turbinados Fiat Marea e Audi A3 dá ao motorista uma sensação e tanto de poder. Mais importante que isso, segurança nas ultrapassagens e retomadas. Dosar a força no pedal do acelerador é desprezar o maior atributo dos dois carros, a força gerada pela turbina. (…) Antes de a turbina despejar carga máxima, os dois carros agem mais mansamente do que se tivessem um motor aspirado. Chegam a irritar em retomadas de velocidade que exigem mais do motor em baixas rotações, como a de 40 a 100 km/h, em quinta marcha.”
Teste QUATRO RODAS – agosto de 2000
A3 1.8 Turbo | Marea Turbo | |
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Aceleração de 0 a 100 km/h | 7,94 s | 7,58 s |
Velocidade máxima | 218,6 km/h | 219 km/h |
Preço (agosto de 200) | R$ 53.382 | R$ 46.402 |
Preço (atualizado IGP-M) | R$ 183.801 | R$ 159.768 |
A3 1.8 Turbo | Marea Turbo | |
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Motor | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.781 cm³, 81 x 86,4 mm, injeção eletrônica, 180 cv a 5.500 rpm, 24 mkgf a 1.950 rpm | dianteiro, transversal, 5 cilindros em linha, 1.996 cm³, 82 x 75,6 mm, injeção eletrônica, 182 cv a 6.000 rpm, 27 mkgf a 2.750 rpm |
Câmbio | manual, cinco marchas, tração dianteira | manual, cinco marchas, tração dianteira |
Freios | discos ventilados (diant.), sólidos (tras.), com ABS e EBD | discos ventilados (diant.), sólidos (tras.), com ABS |
Pneus e rodas | 205/60 R15, rodas de liga leve | 195/60 R15, rodas de liga leve |