Você está acostumado a ver nas ruas modelos que têm uma roupagem mais esportiva mas que, na prática, tirando um adesivo aqui e um acessório ali, nada mais são do que suas versões comportadas. Essa prática das fabricantes não é recente, porque já era vista nos anos 70.
General Motors e Ford tinham, respectivamente, Opala SS 4 e Maverick GT 4 como chamariz para atrair um público mais interessado em esportividade. Sem cobrar pelos desejados motores de seis e oito cilindros das configurações mais caras, eles eram cupês bem semelhantes em cilindrada, potência, preço e – como se viu depois do comparativo – em alguns resultados no teste feito em abril de 1977.
No fim, o Opala ganhou por pequena margem. “Insuficiente para influenciar de forma decisiva o comprador, que avaliará também outros elementos, como estilo”, afirmava o texto.
O principal apelo de um carro tido como esportivo é o desempenho. O motor 2.5 com 98 cv a 4 800 rpm fez o SS 4 alcançar 160,3 km/h, contra 153,8 km/h do 2.3 do GT 4, de 99 cv a 5 400 rpm. No 0 a 100 km/h, a vantagem do Opala aumentou e com sobras, ao cravar 14,9 segundos, enquanto o Maverick precisou de 17,4.
Culpa da octanagem
Por que a diferença se a potência era quase igual? “O motor do Ford, de desenho moderno, é prejudicado pela baixa octanagem da nossa gasolina, que veta uma taxa de compressão mais elevada”, justificava o texto. Além disso, o Opala era mais leve (1.118 kg contra 1.276 kg), o que lhe dava relação peso/potência de 11,4 kg/cv, ao passo que a do rival era de 12,8 kg/cv.
Desempenho e economia de combustível não caminham juntos quando carros esportivos estão no centro da discussão. Desde que sejam esportivos de verdade. Esse não era o caso de SS 4 e GT 4: como eles apresentavam apenas faixas e logotipos que lhes davam uma cara um pouco mais agressiva, o teste de consumo ganhou importância.
Na média, o Chevrolet foi um pouco mais econômico (9,59 km/l), mas nada que desabonasse o Maverick, com 9,39 km/l. No entanto, quando foram consideradas as velocidades constantes de 80, 100 e 120 km/h, o Maverick obteve melhores marcas.
No item segurança, os dois modelos mereceram ressalvas. Os cintos eram do tipo pélvico, mais simples e menos eficazes. O volante do Opala, de plástico duro, tinha diâmetro excessivo, dificultando um pouco as manobras rápidas. O do Maverick contava com diâmetro mais justo. Por ser de curvim e com revestimento de espuma, era mais confortável para ser manejado pelo motorista.
Outra falha dos cupês era a posição da buzina, acionada por um botão central, forçando a tirar uma mão do volante. O Opala levava vantagem na visibilidade, especialmente na lateral traseira. “A soma de ângulos mortos no SS 4 é de 36 graus, enquanto no GT 4 é de 56 graus”, descrevia a reportagem. “Mas é bom lembrar que, enquanto no Maverick o motorista se situa em posição mais alta, no Opala ele se encaixa no carro e isso pode criar uma sensação de maior dificuldade visual.”
Outro aspecto favorável ao Maverick era a possibilidade de utilizar pneus radiais, o que não acontecia com o Opala. “Seria interessante que a GM homologasse para o SS 4 um bom pneu radial da série 70, com o que o carro certamente ganharia. Os radiais podem perfeitamente ser usados com mínimas modificações na suspensão”, recomendava o texto.
Enquanto esteve em produção, o Opala sempre se caracterizou pelo conforto, e isso ficou evidenciado no duelo com o Maverick. A começar dos bancos dianteiros, melhores que os do GT 4, que tinham assentos curtos e encosto quase reto. O curso do câmbio do Ford era bem maior que o do Chevrolet e o engate da ré podia ser confundido com a primeira marcha numa manobra mais rápida.
Ou seja, era um perigo para os motoristas mais desatentos, que, em vez de seguir adiante, corriam o risco de provocar uma batida no veículo de trás. O painel do Opala também oferecia mais vantagens: tinha conta-giros de fácil leitura, enquanto o do Maverick ficava acima da coluna de direção e com diâmetro pequeno. O texto argumentava que um manômetro de óleo seria muito bem-vindo aos dois carros, ainda mais por terem pretensões esportivas.
Na verdade, na verdade mesmo, eles só disfarçavam ser esportivos. Mas, se nesse jogo de faz de conta o principal fator de escolha era o desempenho, então a decisão deveria ser o Opala – que, afinal, ganhava em aceleração, retomada e velocidade máxima. Até que o disfarce lhe caía bem.
Nós dissemos – abril de 1977
“À primeira vista, o acabamento de ambos é bom, embora, numa análise mais cuidadosa, alguns detalhes possam revelar-se passíveis de melhoria. No Opala SS 4, o revestimento de tecido dos bancos é opcional (o de série é plástico). Tanto no SS 4 como no Maverick GT 4, o carpete é opcional, pois nos modelos standard o piso é revestido com tapetes de borracha moldada. São detalhes que não devem influir em demasia no julgamento geral dos dois carros.”
Teste QUATRO RODAS – abril de 1977
Opala SS 4 | Maverick GT 4 | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 14,9 s | 17,4 s |
Velocidade máxima | 160,3 km/h | 153,8 km/h |
Frenagem de 80 km/h a 0 | 28,8 m | 31,4 m |
Consumo médio | 9,59 km/l | 9,39 km/l |
Preço (abril de 1977) | Cr$ 86.898 | Cr$ 88.677 |
Preço (atualizado IGP-DI) | R$ 98.979 | R$ 99.789 |
Ficha Técnica
Opala SS 4 | Maverick GT 4 | |||
Motor | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 2.474 cm³, 101,5 x 76,2 mm, carburador, 98 cv a 4.800 rpm, 19,8 mkgf a 2.600 rpm | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 2.300 cm³, 96 x 79,4 mm, carburador, 99 cv a 5.400 rpm, 16,9 mkgf a 3.200 rpm | ||
Câmbio | manual de 4 marchas, tração traseira | manual de 4 marchas, tração traseira | ||
Dimensões | comprimento, 467 cm; largura, 176 cm; altura, 136 cm; entre-eixos, 266 cm; peso, 1.116 kg |
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