A engenharia da Stellantis em Betim (MG) é uma das melhores heranças dos tempos de Fiat e FCA. Tem fama de conseguir fazer qualquer coisa, da Strada cabine dupla a uma picape com plataforma de hatch médio (Fiat Punto e Opel Corsa) que é um sucesso há nove anos, a Fiat Toro.
Nestes tempos de Stellantis, melhoraram o projeto do Citroën C3, criado na Índia. Mas o “toque de Midas” foi bastante limitado no projeto da Fiat Titano.
Pudera. Esse projeto nasceu nos tempos da PSA Peugeot Citroën, que, a partir da chinesa Changan Hunter, criou a Peugeot Landtrek. O que a Stellantis conseguiu fazer foi evitar que fosse vendida no Brasil como Peugeot, e repassar o projeto à Fiat. Entendeu-se que fazia mais sentido a picape dividir o showroom com uma linha que tem tradição no segmento de carros de trabalho como Fiorino, Strada e Ducato.
Há um contrato de montagem da picape com a Nordex, do Uruguai, a ser honrado. Muitas peças são chinesas, mas foi possível fazer alguns ajustes na medida do possível, para transformar a Peugeot numa Fiat.
Nós testamos a Fiat Titano Ranch, versão mais cara e completa e, talvez, isso tenha sido um erro. Essa versão é vistosa e isso eleva as expectativas, à primeira vista. Ela tem rodas diamantadas aro 18, detalhes cromados, santoantônio, estribos, capota marítima, sensores de estacionamento, faróis e lanternas de led, câmeras de visão 360° e alerta de saída de faixa. E porte, pois é uma das maiores picapes médias à venda no Brasil.
O efeito continua por dentro, onde o painel ainda segue o estilo dos Peugeot: volante compacto, central estreitinha e botões do tipo tecla. Nada de Fiat além do logotipo. Ainda há bancos elétricos dianteiros, ar-condicionado bizona, saídas de ar traseiras e partida sem chave.
Aliás, é uma picape que leva cinco pessoas, pois o túnel central traseiro é baixo e a cabine oferece uma boa largura. Isso não compromete o espaço da caçamba, com volume de 1.109 litros e 1.020 kg de carga.
Como a troca de marca atrasou o lançamento, deu tempo de providenciar o motor 2.2 turbo diesel Multijet da mesma família do Fiat Ducato (e diferente do usado pela Toro), combinado com câmbio automático de seis marchas da Aisin. O motor é conhecido das oficinas e o câmbio também tem boa reputação. São 180 cv e 40,8 kgfm e ainda tem tração 4×4 e bloqueio do diferencial traseiro.
Essa combinação de motor e câmbio ficou boa: é um dos pontos altos da Titano. A pronta resposta do motor à pressão no acelerador é elogiável, assim como as trocas das marchas, sempre no momento certo, sem elevar muito o giro e sem trancos. Mas isso não evita uma sensação de falta de força que foi confirmada em nosso teste com 13,4 s para chegar a 100 km/h – mais lenta que a Ford Ranger 2.0 (170 cv) e que a Nissan Frontier manual (163 cv).
Pelo menos o consumo urbano não foi dos piores, com 10,6 km/l, mas o rendimento do diesel poderia ser maior na estrada, onde faz 11,1 km/l – uma diferença mínima.
Realidade implacável
Voltando à afirmação de que avaliar a versão topo foi um erro, nos demos conta disso porque concluímos que a Titano Ranch é um carro de trabalho disfarçado. Ela é bruta, com suspensão parruda, sem barra Panhard, e que dispensa algumas soluções mais modernas como peças de aço mais leves e resistentes. É possível ver as estampas da Changan e notar que os chineses se preocuparam mais em fazer algo robusto do que confortável.
A Titano provavelmente aguentará o tranco, mas pune a todos chacoalhando bastante, seja na buraqueira de uma estrada de terra, seja no asfalto, onde identifica ondulações invisíveis. Ainda tem um balanço lateral típico das picapes médias de 20 anos atrás.
Na nossa experiência, se saiu melhor andando rápido na terra, mas mostrou curso bastante curto passando por lombadas, respondendo com pancadas secas, se a velocidade correta não for respeitada. A direção também remete às picapes antigas. É hidráulica e muito desmultiplicada, com 3,5 voltas de batente a batente. O diâmetro de giro é de enormes 14 m.
Nada disso chega a ser problema em frotas de empresas ou locadoras. A Titano Ranch entrega o conteúdo esperado em uma picape para o dia a dia, na faixa de preço dos R$ 260.000, mas não corresponde no comportamento dinâmico. Nesse caso, é melhor economizar e comprar uma Fiat Toro.
Falta dar espaço para a engenharia da Stellantis agir, o que será possível quando a produção na Argentina começar, dentro de dois anos.
Por enquanto, a Titano faz sentido numa versão Volcano, menos vistosa e equipada, mas ainda dotada do câmbio automático, por R$ 239.990. Ou na básica Endurance, de R$ 219.990, com câmbio manual de seis marchas, rodas de aço, sem pintura nos para-choques e sem nenhum cromado.
Se ainda faltam incentivos, produtores rurais podem comprar a versão básica por R$ 184.990 e a Volcano por R$ 196.990. Nesse preço, nem sequer há com o que comparar.
Veredicto – Conteúdo, acabamento e mecânica (motor e câmbio) a Titano Ranch tem. Mas lhe falta um comportamento dinâmico mais refinado.
Teste – Fiat Titano Ranch 2.2 turbodiesel 2025
Aceleração
0 a 100 km/h: 13,4 s
0 a 1.000 m: 35,2 s – 145,8 km/h
Retomada
D 40 a 80 km/h: 5,8 s
D 60 a 100 km/h: 7,8 s
D 80 a 120 km/h: 11,4 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 16,6/29,4/66,7 m
Consumo
Urbano: 10,6 km/l
Rodoviário: 11,1 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM max: 45,7/71,8 dBA
80/120 km/h: 61,8/73,3 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 98 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 1.900 rpm
Volante: 3,5 voltas
Ficha técnica – Fiat Titano Ranch 2.2 turbodiesel 2025
Motor: diesel, diant., longit., 4 cil. em linha, 16V, 2.179 cm³, 180 cv a 3.750 rpm, 40,8 kgfm a 2.000 rpm
Câmbio: aut., 6 marchas, tração 4×4 e bloqueio no diferencial traseiro
Suspensão: ind. duplo A (diant.) / eixo rígido (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Direção: hidráulica, 14 m (diâmetro de giro)
Rodas e pneus: liga-leve, 255/50 R20
Dimensões: comprimento, 533 cm; largura, 222 cm; altura, 189,7 cm; entre-eixos, 318 cm; peso, 2.150 kg; caçamba, 1.109 l; capacidade de carga, 1.020 kg tanque, 80 l