Como é pilotar os caminhões de 1.200 cv e R$ 800.000 da Copa Truck
Com 5 toneladas, esses modelos aceleram como carros de corrida e superam os 200 km/h de velocidade máxima
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0538.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Preciso fazer uma confissão: eu nunca dirigi um caminhão antes. E olha que esse sempre foi meu sonho de infância. Só que esse dia finalmente chegou e, acredite, minha primeira experiência foi justamente ao volante do impressionante Mercedes-Benz Actros 2651, que disputa a Copa Truck pela equipe AM Motorsport.
Neste caso, foram os pilotos Wellington Cirino e Debora Rodrigues que me cederam os comandos – e, é claro, deram dicas de como tentar controlar os gigantes das pistas com cerca de 5 toneladas.
Na balança, esse monstro equivale praticamente a duas Toyota Hilux e um Renault Kwid juntos. Parece muito? Na versão rodoviária, nessa mesma configuração 2651 que dá cara ao modelo de competição, o novo Actros chega aos 10.193 kg com suspensão traseira do tipo metálica (na opção pneumática baixa 7 kg).
Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 7,90
Isso sem dizer que, em relação à altura, o caminhão de produção é 1,39 m maior. Ou seja, 3,74 m, contra “só” 2,35 m do Copa Truck. Para ter ideia, uma Sprinter de teto baixo mede 2,53 m.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0696-2.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Claro que, para isso, todo o sistema de suspensão foi alterado – basta ver que, na frente, a cambagem é de quase 4º –, com molas mais leves, amortecedores de competição com até 40 regulagens e nova geometria. Mas todo o conjunto continua com eixo rígido e feixe de molas.
Também caiu fora o sistema que dá molejo à cabine do Actros de produção e, no modelo de corrida, a fixação é diretamente no chassi. Só que boa parte das peças seguem originais, de aço, exceto pela dianteira e pelas partes aerodinâmicas feitas com fibra de vidro.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0989.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Toda a estrutura é baseada no caminhão vendido nas concessionárias da marca, mas são feitas algumas alterações para se adaptar às pistas. E quem diria que esse grandalhão seria bom de equilíbrio?
Com motor deslocado para trás, em posição central-dianteira, e câmbio dos ônibus rodoviários Mercedes-Benz (que tem seis marchas e é menor que a transmissão de 16 marchas habitual), a distribuição de peso é quase perfeita, como seria ideal para carros de corrida: 51% na dianteira e 49% na traseira.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0974.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Uma curiosidade é que, além do tanque de combustível com 150 litros – suficientes para 50 minutos de prova e chorinho de até 40 l, dependendo do circuito –, cada Mercedes da Copa Truck carrega 150 l de água para resfriar o sistema de freios.
Afinal, a temperatura ideal é de 550 oC a 600 oC. “Uma frenagem forte em Interlagos, Curitiba e Goiânia, que precisa baixar de 220 km/h para 60 km/h na curva, pode fazer essa temperatura subir a até 800 oC”, explica Cirino.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0986.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
E não há sistemas automáticos: é o piloto quem decide, durante a corrida, quando acionar a vaporização.
Os freios são tão importantes, que existe também um sistema de refrigeração forçada a ar do conjunto, que mantém pinças originais, mas troca pastilhas e discos por componentes especiais. Além disso, fica sob responsabilidade de quem está ao volante controlar a distribuição da carga dos freios.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP9720.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Turbo marítimo
Como é importante manter compartilhamento de peças com a versão de produção (já que essa competição serve como laboratório), o motor de seis cilindros em linha 12.8 é praticamente o mesmo.
Só que a preparação para as pistas inclui comandos, bicos injetores e gerenciamento retrabalhados. Além disso, o turbo marítimo, maior, permite chegar a 1.200 cv a 2.800 rpm e 450 kgfm a 2.200 rpm – contra 510 cv a 1.800 rpm e 245 kgfm a 1.100 rpm.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP1002.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
QUATRO RODAS já dirigiu o novo Actros há mais de um ano. Mas esqueça refinamentos, inclusive os retrovisores digitais que fizeram inveja a sedãs de luxo: não existe nenhum revestimento na cabine do Copa Truck e todas as peças estão expostas.
Os bancos do tipo concha são instalados bem próximos ao assoalho, como nos carros de competição, e as pernas ficam em posição elevada. Aliás, é claro, não faltam cintos de segurança com cinco pontos e gaiola tubular.
Ainda que os caminhões de corrida sejam padronizados e alinhados à versão de produção, existem algumas diferenças entre eles (mesmo dentro da própria equipe), já que cada piloto pode escolher os ajustes de pedais – que são feitos artesanalmente na AM Motorsport –, posição de dirigir e até relação da caixa de direção.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP1009.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
No exemplar cor-de-rosa, de Debora Rodrigues, a relação é 1:1, enquanto Wellington Cirino escolheu a relação 0,5:1, mais direta (e pesada) para o caminhão verde de número 6.
Comecei minha experiência pelo Actros do paranaense tetracampeão da finada Fórmula Truck. Com ajuste sensível do acelerador, é difícil encontrar o ponto ideal para fazer o motor trabalhar cheio.
Isso porque, enquanto no caminhão de produção a faixa varia de 900 rpm a 1.800 rpm, no Copa Truck é preciso manter o conta-giros entre 1.800 rpm e 3.500 rpm para aproveitar o máximo de fôlego e garantir o melhor rendimento possível. Abaixo disso, se torna uma luta conservar o motor funcionando.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP1037.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
No caminhão de Debora Rodrigues, me senti mais à vontade para experimentar o limite de cada reação, graças ao ajuste mais progressivo dos pedais e do volante. Para minha surpresa, os engates do câmbio, em ambos os casos, são tão macios e precisos quanto na VW Kombi.
E, para quem não está acostumado aos caminhões – como eu –, sair sempre com a quarta marcha é só uma curiosidade a mais. Como as primeiras marchas são muito multiplicadas, elas não servem para nada durante as corridas.
Só que uma coisa é clara: independentemente do modelo, as sensações para um piloto de primeira corrida são igualmente incríveis. Sem nenhum tipo de isolamento acústico, só dá para escutar o assovio do compressor em meio ao ronco do gigantesco coração movido a diesel e às diferentes batidas de metal pela carroceria.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP1020.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Todas as respostas são imediatas e, logo nos primeiros metros da pista, já é praticamente impossível lembrar que você está sentado distante do asfalto. Mais feroz que as acelerações, somente a força das frenagens.
Sob as leis da Física
Para aumentar a dose de emoção, começou a garoar durante meu teste, aumentando ainda mais o receio que eu tinha de perder o controle da traseira nas curvas. E não é que esses grandalhões têm mais estabilidade que muitos carros de passeio?
Mesmo sem nenhuma assistência eletrônica, senti que só derraparia se eu quisesse, tamanha segurança que o Actros transmite. E olha que, ao contrário dos pneus traseiros originais, os dianteiros são raspados, permitidos pelas regras para aumentar a aderência na pista seca (que não era meu caso).
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP1021.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
De acordo com os próprios pilotos, houve melhorias importantes na categoria ao longo dos anos. “Hoje, existe muito mais competitividade. Antes, uma escapada de pista já podia capotar, porque 80% do peso estava na dianteira. O espetáculo está muito melhor, com mais disputas. Você vê três competidores nas curvas, lado a lado, a 140 km/h”, diz Cirino.
Além disso, foram feitas alterações significativas para reduzir a emissão de poluentes, já que a categoria aproveita boa parte do conjunto mecânico de produção.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP1048.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
“Eu piloto há 22 anos. E lembro que, lá atrás, saía cheia de fuligem no rosto. Hoje, você já não vê mais aquele trilho de fumaça de antes. Tão importante quanto isso, diminuiu a emissão dos gases que não enxergamos e que também poluem o ambiente”, conta Debora Rodrigues.
E quanto custa essa brincadeira? Claro que não há um valor definido, mas, para montar um caminhão como esses Mercedes-Benz Actros, são estimados quase R$ 800.000 – sem contar os custos da temporada, de aproximadamente R$ 1.200.000. Em troca, as marcas têm análises precisas de peças.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0982.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
“Me impressiona que, mesmo mantendo muitas características originais, os veículos sempre evoluem”, diz Debora. No meu caso, impressionante é perceber como a física não se aplica à Copa Truck.
Veredicto
Misturando peças originais e muitas tecnologias, os caminhões da Copa Truck têm comportamento inacreditável e dinâmica de carros de competição.
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0983.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Ficha técnica
Preço: R$ 800.000 (estimado)
Motor: diesel, central-dianteiro, longitudinal, 6 cil., 12.839 cm3, 155 x 132,58 mm, 24V, 1.200 cv a 2.800 rpm, 450 kgfm a 2.200 rpm
Câmbio: manual, 6 marchas, traseira
Suspensão: eixo rígido com feixe de molas (dianteira e traseira)
Freios: disco ventilado com refrigeração a água (dianteira e traseira)
Direção: hidráulica
Rodas e pneus: liga leve, 295/80 R22,5
Dimensões: comprimento, 550 cm; largura, 250 cm; altura, 235 cm; entre-eixos, 330 cm; peso, 4.800 kg; tanque, 150 l
![Caminhão Copa Truck Caminhão Copa Truck](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/01/FLP0981.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital.