O lançamento do BYD Dolphin bagunçou a faixa de preço dos carros elétricos mais baratos do Brasil, lá em meados de 2023. O BYD Dolphin Mini, que estreia logo depois do Carnaval, tem potencial para bagunçar até o segmento de carros compactos com motor 1.0.
BYD mais barato do Brasil
A BYD continua empenhada em lançar seu carro elétrico de entrada com preço ao redor dos R$ 100.000 mesmo após a volta dos impostos de importação para carros elétricos. Considerando que os 10 carros automáticos mais baratos do Brasil têm preços entre R$ 93.990 a R$ 104.990, o elétrico pode mexer com muita gente.
A grande revolução que o Dolphin Mini pode fazer é dar ao consumidor de carros compactos a opção de escolher um carro elétrico pelo mesmo preço de um carro a combustão. E criará situações curiosas, pois um VW Polo 1.0 TSI com câmbio manual custa R$ 101.990.
Os segredos para custar menos
A grande surpresa nesse primeiro contato com o BYD Dolphin Mini ainda na China foi descobrir que, antes de mais nada, trata-se de um carro honesto. Aparenta ser menor em fotos, talvez pelo capô tão curto quanto o de um Smart e pela traseira reta, mas não aparenta ser barato ao vivo. E isso desmonta o preconceito de quem já viu muito carro abrir mão do essencial para ter seu preço reduzido.
Abriu mão dos balanços dianteiro e traseiro convencionais, o que explica o porta-malas com meros 230 litros de capacidade. Mas trata-se de um carro com 3,78 m de comprimento (10 cm a mais que um Renault Kwid) com bons 2,50 m de entre-eixos (mesma medida dos primeiros Hyundai HB20). Na altura, de 1,54 m, e na altura, de 1,71 m, é equivalente a um Fiat Argo.
As rodas grandes, de aro 16, estão calçadas com pneus bem estreitos: os 175/55 R16 são inéditos no Brasil, onde os 185/55 R16 do Honda Fit já são incomuns. O fato é que, mesmo sendo pequeno, o Dolphin Mini tem freios a disco nas quatro rodas e freio de mão eletrônico.
Do lado de fora, ainda vale destacar os faróis full-led que dispensam as luzes de neblina, as lanternas traseiras interligadas e o vidro traseiro pequeno. Uma economia notada é que o carro só tem um limpador de para-brisa, na frente, e dispensa o limpador traseiro como o Dolphin maior. No Brasil, terá luzes repetidoras de seta nos retrovisores.
A BYD gosta que o interior tenha dois tons de acabamento. O carro preto tem interior preto e azul, o rosa tem cabine preta e rosa, o verde combina preto e azul claro e as demais cores combinam preto e cinza. Todas as partes contrastantes têm tamanho generoso e toque macio, pois são revestidas com o mesmo material sintético dos bancos, seja na frente ou atrás. Isso proporciona uma boa sensação de qualidade.
Faz inveja no Dolphin maior
Ainda que o Dolphin Mini tenha nascido para ser vendido como Seagull – foi ideia do Brasil mudar de nome, o que vale para toda a América Latina -, o painel tem muitas semelhanças com o Dolphin. Os botões no centro do painel, onde também fica o seletor de marcha, são os mesmos do Dolphin. O volante também é igual, mas tem ajuste de profundidade que o irmão maior não tem.
Embora a unidade avaliada tenha base de carregamento sem fio no console, é possível que isso não permaneça nos carros destinados ao Brasil, pois só o Dolphin Plus tem isso por aqui. O problema seria continuar com apenas uma porta USB, que fica em um porta-objetos sob o console.
As telas também são menores. Na verdade, o quadro de instrumentos digital nem é uma tela em si, mas a combinação de mostradores de cristal líquido que indicam velocidade, entrega de potência, autonomia e carga, com uma pequena tela colorida de baixa resolução no centro, com cerca de duas polegadas.
A central multimídia ainda concentra as funções do ar-condicionado, de controle do carro e de entretenimento, mas tem 10,1 polegadas. Apesar de ser menor, ainda é giratória. Resta saber se terá Android Auto e Apple Carplay sem fio no Brasil.
A gama de equipamentos do Dolphin Mini, ou melhor, do Seagull na China pode incluir frenagem de emergência e até piloto automático adaptativo. Não dá para esperar por isso aqui e, talvez, nem pelo ajuste elétrico do banco do motorista (ainda que o Caoa Chery iCar tenha isso por aqui). Apesar das simplificações, é um carro pequeno e barato que mantém alguma dignidade.
O mesmo pode ser dito sobre o espaço no banco traseiro. O BYD só leva quatro passageiros e isso evitará constrangimento com o espaço para ombros, mas os dois ocupantes traseiros terão até alguma sobra de espaço para as pernas e para a cabeça. O que realmente faz falta é pelo menos uma porta USB traseira, que os rivais a combustão têm. Só tem um porta-objetos entre os bancos dianteiros.
Como anda o BYD Dolphin Mini
O motor elétrico dianteiro gera 75 cv, exatamente a mesma potência de um Fiat Argo 1.0. Isso não inspira muitas emoções, mas o torque de 13,8 kgfm (equivalente a um Argo 1.3) quase imediatos melhoram as coisas. É bastante ágil nas arrancadas, mas não canta pneus em arrancadas fortes, o que é raro em carros elétricos.
O espaço para dirigir o carro era limitado. Ia bem acelerando até os 70 km/h, depois o fôlego diminuia e a pista acabava. Talvez por isso a BYD prefira falar dos 4,9 s dos 0 a 50 km/h antes de falar que o carro precisa de 14,9 segundos para chegar aos 100 km/h. A velocidade máxima é de 130 km/h.
Na prova de slalom, a estabilidade e o controle da rolagem da carroceria causaram boa impressão, ainda que a direção continue muito leve – característica da maioria dos BYD. O Dolphin Mini não é gelatinoso como o Dolphin, é um carro firme e estável. Resta saber como essa suspensão mais firme e os pneus estreitos e com paredes finas vão se comportar no asfalto imperfeito do Brasil.
O legal é que, ao contrário de muitos elétricos, o pequeno BYD não parece pesado ao volante e não passa a sensação de ser estável por der um pesado conjunto de baterias no assoalho. De fato, ele não é pesado: são 1.160 kg (praticamente o peso de um Nissan Kicks), 245 kg a menos que um Dolphin, e seu conjunto de baterias é menor que o de muito SUV híbrido plug-in.
A versão destinada ao Brasil terá a bateria de 38,8 kWh (6,1 kWh a menos que o irmão maior), o que seria suficiente para 405 km de autonomia no otimista ciclo chinês CLTC. Mas certamente o alcance ficará abaixo dos 300 km no padrão brasileiro. A potência de recarga máxima é de 6,6 kW em corrente contínua (AC) e de 40 kW em corrente alternada (DC). Vai de 30% a 80% em 30 minutos e, teoricamente, consegue recarregar completamente em cerca de 1h, o que é ótimo.
Até existem carros de luxo elétricos com preços equivalentes aos equivalentes a combustão. Mas o BYD Dolphin Mini levará essa equidade aos carros mais acessíveis. Quem quiser comprar um carro automático barato poderá levar um elétrico para casa. Este é o início de uma revolução. Pode ser bom para o consumidor, mas vai exigir um esforço extra das outras fabricantes.
O lançamento do BYD Dolphin Mini no Brasil será no dia 28 de fevereiro.
Ficha técnica – BYD Dolphin Mini
Motor: elétrico, tras., transv., 75 cv, 13,8 kgfm
Câmbio: automático, 1 marcha, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado nas quatro rodas com recuperação de energia
Pneus: 175/55 R16
Dimensões: compr., 378 cm; larg., 171 cm; altura, 154 cm; entre-eixos, 250 cm; peso, 1.160 kg; porta-malas, 230 l
Bateria: fosfato de ferro-lítio, 38,8 kWh
Carregamento: Tipo 2 (AC) a 6,6 kW; CCS2 (DC) a 40 kW
Alcance: 405 km (CLTC)
Desempenho: 0 a 100 em 14,9 s; vel. máxima de 130 km/h