A ideia de um test-drive é conhecer um carro o mais próximo possível do seu uso real. E foi por isso que ao ser apresentado à nova geração da BMW Série 7 eu não tive dúvidas: entrei pela porta de trás e sentei à direita, no lugar do passageiro. Ali, apertei um botão que recolheu o banco à minha frente quase até o porta-luvas e abriu um descanso de pés à minha frente, onde estendi a perna. Com outro botão, reclinei o encosto das costas até o ângulo máximo de 42,5º.
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A seguir, encontrei um tablet Samsung acoplado ao amplo console sob meu braço esquerdo. Nele escolhi uma opção de massagem para o corpo, ajustei a iluminação ambiente e calibrei os alto-falantes Bowers & Wilkins Diamond. Também poderia ter escolhido um dos oito aromas gerados pelo pacote Ambient Air, apreciado o teto panorâmico Sky Lounge, que cria gráficos de leds sob a cabeça dos passageiros ou checado e-mails. Só então eu liberei o chofer para seguir em direção ao nosso destino.
Agora sim eu estava experimentando o uso real desse modelo. O fato de eu me sentir mais na classe executiva de um avião do que em um carro tem explicação: o Série 7 é um modelo de luxo para executivos. Mas não qualquer executivo. Ele é um flagship car: aquele que as montadoras escolhem para mostrar todos os truques que são capazes de executar (a BMW diz estrear nele 13 tecnologias exclusivas) e também apresentar novidades que depois serão incorporadas ao restante da linha.
Mas para entender por que o dono de um carro que no Brasil custa R$ 709.950 está sentado no banco de trás é preciso olhar para a China, onde o consumo de veículos de luxo cresceu como em nenhum outro lugar, aguçando a cobiça das montadoras. Lá, quem tem dinheiro para comprar um Série 7 contrata um motorista. É um código de status local. E é por isso que os carros deste segmento, que fazem enorme sucesso lá, tem sido projetados cada vez mais como dois veículos diferentes: o primeiro, pensado a partir da experiência de quem vive o carro a partir do motorista. O outro, para quem vive o carro na fileira de trás.
Em busca de diversão
O passeio com chofer me apresentou a um Série 7 absurdamente confortável e bem acabado. Se o pavimento for esburacado, por exemplo, ele pode erguer a carroceria em 20 mm para garantir uma viagem mais tranquila. É praticamente impossível encostar, ou mesmo ver, um acabamento de plástico – o couro e outros materiais nobres estão por toda parte. Mas uma das boas decisões que tomei na vida é que, quando ficar milionário, continuarei dirigindo meus carros. E assim resolvi dispensar o motorista e me dirigir ao volante. Ali encontrei um modelo contraditório: longo e espaçoso, e portanto pesado, mas também muito ágil, com direção firme.
Apesar dos 1.990 kg e 5,2 metros da versão longa, o sedã impressiona pela performance – a ponto de você esquecer que está num carro gigantesco. Ele vai de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos (e 4,4 na versão Normal, 14 cm mais curta). A potência na versão 750Li , que deve ser a única oferecida no Brasil a partir do primeiro trimestre de 2016, é de 449 cv. O torque chega a 66,3 mkgf. Um dos segredos da BMW está no eixo traseiro esterçante, cujas rodas mudam de direção em até 3 graus para ambos os lados. Outro está na suspensão, que baixa a carroceria em 10 mm no modo Sport – o que ajuda a reduzir o centro de gravidade. A distribuição do peso, de 50% para cada eixo, entrega dirigibilidade. E você logo está fazendo curvas como se estivesse em um sedã esportivo – e se divertindo como não parecia possível no banco de trás.
A boa performance também foi ajudada pelo trabalho de redução de peso, que deixou a nova geração cerca de 130 kg mais leve que a anterior. E a receita da dieta revela o que talvez seja o grande destaque de engenharia do Série 7: a aplicação intensiva de fibra de carbono na estrutura. Há fibra por toda parte: no túnel central, nas colunas B e C, num grande arco que sai da coluna A para o teto. É uma solução que a empresa trouxe da BMW i, sua divisão de elétricos, que já usa o material no i3 e no i8.
Nervoso, mas suave
O motor potente, a direção perfeitamente equilibrada, as retomadas ágeis – tudo é feito para que o carro faça justiça ao logotipo bávaro que carrega. Mas ao volante, não se engane, o que sobressai é o conforto e a tecnologia. A suspensão é pneumática de série e foi desenvolvida com o know-how dos engenheiros da Rolls-Royce, outra marca do grupo. Melhorou muito em relação à geração anterior. “Quisemos que os diferentes modos de condução fossem sempre confortáveis, porque esse é o parâmetro para quem compra um automóvel do segmento”, diz Wilfred Nixel, engenheiro-chefe de chassis. De fato, o modo Sport enrijece a suspensão, mas não a ponto de inviabilizar a condução na cidade. Nos modos Confort e Confort+, a rolagem é tão macia que buraco algum será capaz de incomodar o cochilo do executivo chinês.
O iDrive, solução de conectividade da montadora, evoluiu bastante. E do banco da frente o motorista pode interagir com ele de três maneiras. A primeira é através de um disco inteligente instalado no console, como o que já equipa os outros BMW. Mas essa opção tem um defeito incorrigível: ela parece um celular com botões em tempos de iPhone. Por melhor que o disco seja, ele nunca vai superar uma tela touch – tanto é verdade que agora a BMW finalmente disponibiliza uma.
Os comandos do disco e da tela são 100% reduntantes. Ou seja, você pode fazer tudo pela opção que preferir. A terceira forma de controle revela mais uma novidade do Série 7: gestos. Há um sensor próximo ao retrovisor interno que capta o movimento das mãos para realizar cinco tarefas: controlar o volume do som, atender e recusar ligações telefônicas, comandar a câmera externa (com visão 360º) e uma última ação customizável, como utilizar o GPS.
E isso não é tudo. A chave, chamada display key (já disponível no i8), possui um visor touchscreen de onde é possível controlar funções como climatização, iluminação, checar a autonomia de combustível e até estacionar o carro (paralelamente à calçada), com o motorista do lado de fora (opcional, ela custa US$ 250 nos EUA). Também há emparelhamento do telefone por NFC (basta encostá-lo no painel e ele já está conectado), recarregamento da bateria do celular por indução, dispensando cabos, e uma infinidade de configurações de áudio, luz e telas.
O Série 7, afinal de contas, pode até ter sido feito sob medida para executivos da China. Mas ele também tem atributos para não fazer feio entre os executivos do Vale do Silício.
VEREDICTO
O Série 7 é grandalhão, mas o desempenho digno de esportivo faz dele um carro divertido de dirigir. Não se engane, porém: a prioridade é a vida a bordo da cabine. E lá dentro, o mundo parece um lugar suave e tranquilo.
Motor | diant., longit., V8, 32 V, turbo |
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Cilindrada | 4.395 cm³ |
Potência | 449 cv a 5.500 rpm |
Torque | 66,3 mkgf entre 1.800 e 4.500 rpm |
Câmbio | automático, oito marchas, 4×4 |
Dimensões | 523,8 cm (comprimento); 148,5 cm (altura); 190,2 cm (largura); 321 cm (entre-eixos) |
Peso | 1.990 kg |
Porta-malas/caçamba | 515 litros |
Tanque | 78 litros |
Freios | discos ventilados (diant. e tras.) |
Direção | elétrica |
Pneus | 245/50 R18 |
0 a 100 km/h | 4,5 s |
Velocidade máxima | 250 km/h |