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Um popular com pimenta

Quando entro em uma banca para comprar um jornal, nunca tenho vontade de roubar uma barra de chocolate. Transgredir a lei simplesmente não entra na minha cabeça. Da mesma forma, nunca assassinei ninguém em uma reunião. Já me passou pela cabeça, é claro, porque eu trabalho para a BBC, mas nunca cheguei a pegar de […]

Por Jeremy Clarkson
29 jul 2014, 12h09
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  • Quando entro em uma banca para comprar um jornal, nunca tenho vontade de roubar uma barra de chocolate. Transgredir a lei simplesmente não entra na minha cabeça. Da mesma forma, nunca assassinei ninguém em uma reunião. Já me passou pela cabeça, é claro, porque eu trabalho para a BBC, mas nunca cheguei a pegar de fato um lápis e espetar no olho do chefe. Acho que já devo ter violado a lei em algum ponto da minha vida adulta, mas, parando para pensar agora, eu não consigo lembrar quando. Eu nunca roubei nada, embora a tentação tenha sido forte diante daqueles supermercados com ter- minais de caixa de autosserviço, sem operador humano. Nunca furtei, assaltei ou apunhalei ninguém. Sou basicamente Jesus, exceto que nunca sequer derrubei uma mesa de camelô.

    Praticamente qualquer um que esteja lendo este artigo estará no mesmo barco. Todos santos imaculados. Até pegar o volante de um carro. Então você infringe a lei o tempo todo. Você ultrapassa o limite de velocidade, é claro. Você arrisca no sinal amarelo e às vezes dá errado, você faz uma conversão proibida quando acha que ninguém está olhando, você estaciona em local proibido, ocasionalmente usa seu celular ao dirigir – e, honestamente, você pode colocar a mão sobre o coração e jurar que nunca dirigiu após beber um pouquinho além da conta na noite anterior?

    O político inglês Jack Straw é um homem decente. Um homem honrado. Um homem que obedece à lei. Mas ele foi recentemente fotografado sentado no seu Jaguar numa rodovia enquanto comia uma banana. Ele sabe que isso poderia colocá-lo do lado errado da lei e, mesmo assim, certamente pensou: “Que se dane. Não me importo”. Então, por que quando ele passa pelo dinheiro das oferendas na igreja ele não pensa em pegar um pouco?

    Acredito que eu tenho a resposta: é porque quase todas as leis na face da Terra são sensatas. Elas simplesmente nos dizem para não fazer o que nós normalmente não tínhamos intenção de fazer. Não matar, não roubar e não cobiçar o boi do vizinho é o que separa os seres humanos dos animais. Mas as regras do trânsito são um despropósito. Straw sabe que, quando estiver parado em um engarrafamento na via rápida, ele não estará causando mal algum a qualquer pessoa se comer uma banana. Eu sei que quando estou na Wood Lane, naquele cruzamento perto da BBC, em Londres, se virar à direita para entrar na Westway, não vou incomodar uma única alma. Você sabe que, se andar a 135 km/h na rodovia, estará tudo bem. Matar um elefante pelo marfim de suas presas é mau e errado. Parar em local proibido por alguns momentos para comprar pão não é.

    Beber? Bem, sabemos que não é nada inteligente dirigir quando não conseguimos nem falar direito. Mas qual o problema de guiar na manhã seguinte a algumas taças de vinho, quando nos sentimos normais? É difícil aceitar que nossas reações possam estar um pouquinho prejudicadas. E provavelmente elas não estão. Eu às vezes fico pensando no que aconteceria se todas as leis de trânsito do país fossem abolidas. Meu palpite: nada. Há aqueles que dizem que fiscalizar rigorosamente limites de velocidade salva vidas, mas qualquer um com alguns gramas de bom senso sabe que simplesmente não é verdade. Estradas mais bem projetadas e carros que protegem melhor seus ocupantes são as causas de os números de mortos na estrada continuarem caindo. Então, todos nós andaríamos a 200, 300 km/h se não houvesse limites de velocidade? Duvido. Especialmente depois de seu bolso sentir o quanto se gasta de combustível para ficar andando nessa velocidade.

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    Todos nós vamos dirigir bêbados? Não, porque sabemos que isso é uma burrice. Todos vamos furar sinais vermelhos, entrar em rotatórias na contramão e estacionar no meio de cruzamentos? Novamente não. O bom senso nos impede de fazer isso. Seria uma anarquia, mas no sentido antigo da palavra: um estado perfeito onde nenhum governo é necessário.

    De qualquer maneira, eu vou lhes deixar refletindo sobre essa questão enquanto vamos para nosso test-drive – o realmente maravilhoso Suzuki Swift Sport. Existe uma tendência hoje de fazer hatches quentes (hot hatches) extremamente rápidos, grandes e superenfeitados. Só que assim acaba se perdendo a essência. Um hot hatch deveria ser um hatch normal apenas com uma pitada de tempero na mistura. É o que você tinha nos originais: osVW Golf, os Peugeot 205 e os Ford Escort. E é o que você tem no Swift Sport.

    O motor de 1,6 litro não foi equipado com um turbocompressor ou superalimentado com eletricidade. Ele simplesmente recebeu um comando de válvulas esportivo – estou babando – de forma que você acaba com saudáveis 136 cv. “Bah”, dirão os entusiastas de sofá. “Meu liquidificador tem mais potência do que isso.”

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    Sim, mas o Swift é bem leve: ele pesa só 1 045 kg. Assim, você acaba com 130 cv por tonelada. O que é quase o que o Peugeot 205 GTI oferecia antigamente. E esse carro era uma lenda. O Suzuki não é rápido, não se você compará-lo com um Golf R ou um Mercedes A 45 AMG. Mas é divertido. Sua dirigibilidade é ótima e ele tem o entusiasmo de um filhote de cachorro quando você está a fim de uma pilotagem mais vigorosa. O mais importante, no entanto, é que ele se torna apenas um hatch compacto normal quando você não está a fim. E você tem como padrão recursos como controle climático, Bluetooth e assim por diante. O que nos leva à questão da qualidade. O Swift passa a sensação de carro japonês. Ele tem freios com precisão oriental e uma percepção de que todos os equipamentos funcionarão perfeitamente por exatos sete anos. E daí param de funcionar completamente. Mas o Swift não é japonês. Ele é fabricado na Hungria, principalmente para o mercado indiano, por uma empresa parcialmente alemã.

    É um carro das forças do mercado, então. Uma versão especial de um modelo popular. O que normalmente é receita de desastre. Mas, ao longo da linha, alguém que realmente conhece carros conseguiu injetar um pouquinho de mágica na mistura. E o resultado foi um carro divertido, disponível com três ou cinco portas, por 13 999 libras (R$ 52 500) e 14 499 libras (R$ 56 300), respectivamente. Uma relação custo-benefício realmente boa. Ele até tem espaço para crianças no banco de trás. Eu sei disso porque dei uma carona a Richard Hammond e ele não reclamou nenhuma vez de estar apertado.

    Como você provavelmente pode perceber, gostei muito do carrinho. Depois do Ford Fiesta ST, mais caro, é o melhor hot hatch da “velha escola” que existe. Mas você não vai comprar um, porque é um Suzuki, o que soa um pouco como carro popular. Isso significa que você é maluco. E, imagino, é por isso que exigem que você dirija com ambas as mãos no volante, a 50 km/h, sem comer uma banana ou falar ao celular.

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